Rodrigo Lira – Doutor em política, professor e pesquisador do programa de doutorado em Planejamento Regional e Gestão de Cidades da Universidade Candido Mendes – A eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos traz impactos que, mesmo indiretos, reverberam no mundo e devem ser observados de perto, inclusive em Campos e região. O cenário de um governo republicano pró-negócios e expansionista nos EUA tende a gerar volatilidade cambial e influências nos preços de commodities como o petróleo, um elemento crucial para a economia dos municípios dependentes dos royalties, como Campos.
Assim, mais uma vez nos deparamos com esse fantasma da diminuição das receitas do petróleo na economia regional que assombra os municípios mais dependentes. Já vimos esse filme em Campos nos governos Rosinha e Rafael Diniz e sabemos o tamanho do estrago que a queda desses recursos pode gerar no município. O atual prefeito, Wladimir Garotinho, tem feito um excelente trabalho de articulação com o governo federal e parlamentares na tentativa de trazer recursos para investimentos na cidade, mas isso não resolve o problema.
A cidade precisa de planejamento para a criação de estratégias de desenvolvimento econômico que gerem sustentabilidade e mitiguem a dependência das rendas do petróleo. Mais uma vez a conjuntura geopolítica nos dá sinais dos riscos que estamos correndo em não buscar alternativas para diversificação da economia local. Afinal o que falta para a elaboração de um plano de desenvolvimento para Campos?
As vocações estão postas. Somos um polo universitário, com potencial de geração de soluções e negócios inovadores, temos uma extensão territorial, tecnologia e água para a agricultura, temos história e cultura para o turismo, temos nas proximidades o Porto do Açu, um dos maiores vetores de desenvolvimento do país. Diante destas fartas oportunidades e de outras, é necessário planejar, identificar prioridades e organizar o que pode ser feito no curto, médio e longo prazos. E ainda assim, torcer para que dê tempo de utilizarmos os ainda abundantes recursos dos royalties para realizar os investimentos necessários.
A eleição de Trump obviamente não é o fiel da balança para as questões do nosso desenvolvimento local, no entanto acende mais um alerta para os riscos de postergar algo que parece óbvio, mas que ainda figura invisível aos olhos dos atores políticos e sociais: precisamos urgentemente planejar a cidade.
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