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Uma visão de mirante da nossa economia

Nildo fala desde o período áureo do açúcar, confecções, cerâmica e agronegócios

Entrevista
Por Aloysio Balbi
15 de setembro de 2024 - 0h01
Foto: Josh

Nildo Cardoso é um profundo conhecedor da história e da economia de Campos Com sua visão ampla e experiência vasta, Nildo conhece a fundo os principais ciclos que marcaram o desenvolvimento do município, desde a rica era do açúcar, quando Campos era um dos maiores produtores de cana-de-açúcar do país, até o petróleo, acompanhando as mudanças e desafios da região. O empresário discorre sobre o parque cerâmico da Baixada Campista, onde sua família tem três empresas. Atento às transformações, ele faz leituras interessantes sobre a economia regional. Seu domínio sobre o agronegócio é igualmente notável. Compreende como poucos o papel importante que o setor agrícola desempenha na geração de riqueza, destacando o agronegócio. Sua crença no agronegócio justifica o entusiasmo com o CEASCAM- Central de Abastecimento de Campos-, que está sendo planejado onde era o desativado Ceasa, em Guarus.

Na cena da economia, onde é um ator importante, você, hoje, é sinônimo de agronegócio, mas, poucos sabem de sua passagem pelo setor têxtil, ou seja, na indústria da moda em Campos. Fale sobre isso?
Foi um momento histórico da economia de Campos nos anos de 1980, com um polo de confecção que chegou a ter cinco mil funcionários. Dizem que o efeito China foi o responsável pelo fim deste ciclo, mas o mesmo não aconteceu em Nova Friburgo, Itaperuna e Petrópolis. Eu acredito que o maior problema que nós tivemos no setor de confecção foi aquela inflação maluca de 1987, quando terminou o Plano Cruzado, e a alta do dólar. Mas, foi um momento importante, embora rápido, da nossa economia, sim, e tenho orgulho de ter participado com malharia e confecção de jeans.

Depois deste momento investiu fundo no Parque Cerâmico da Baixada Campista. Fale sobre esse outro período da nossa economia?
Eu conheci a indústria da cerâmica e era uma oportunidade importante, mas, creio que chegamos, agora, em nosso pior momento. Nós chegamos a ter em torno de seis mil funcionários, uma média de 120 empresas. Diria que hoje nós temos um pouco mais de 100. Estamos operando com uma grande capacidade ociosa; Falo com experiência própria. Hoje, minha família tem três cerâmicas, todas administradas por meus filhos. É um setor estratégico e que tem que se recuperar, tem potencial para isso.

Nessa pegada da Baixada Campista, como anda a pesca que já foi farta no Farol de São Tomé?
Eu já fui pescador em Farol em São Tomé. Hoje, acompanho o setor através da Colônia de Pescadores. A prospecção de petróleo atrapalhou um pouco a pesca, principalmente pela a área de exclusão no entorno das plataformas onde a pesca é proibida. Eu me lembro de quando fui secretário de Agricultura do município, quando conseguimos uma draga flutuante que facilitaria a entrada dos barcos na Barra do Furado. Foi conseguida com recursos da Petrobras e com o Ibama apoiando, porque haveria uma contrapartida ambiental. Mas, a máquina praticamente virou uma sucata. Mas, nosso potencial de pesca no mar é grande, tanto que barcos pesqueiros modernos de outros estados brasileiros vem pescar aqui e deveríamos estar atentos sobre isso.

Você já abordou aqui a falência do setor de confecção, o momento difícil do parque cerâmico, a pesca também com problemas. Como bom observador, como vê essa questão do agronegócio começando a virar a página da nossa economia?
Posso afirmar com toda a convicção que o agronegócio é a saída. Quando você acorda, você se alimenta com o café da manhã. É o pão, é o ovo mexido, o leite e o aipim. Se você vai almoçar são os legumes, o frango e a carne. Você lancha e janta. Estamos falando de alimentação. Campos e seu entorno tem grande vocação para isso e todos sabem. Por isso, tenho um visível entusiasmo pela Central de Abastecimento de Campos, o Ceascam, onde era o Ceasa, que pode mudar a nossa economia, como aconteceu no vizinho estado do Espírito Santo.

E como está andando esse projeto?
Ele foi ampliado na atual gestão. É um projeto que já tem R$ 58 milhões em recursos aportados através de emendas parlamentares junto à bancada dos deputados federais em Brasília. O Ceascam vai mostrar claramente uma riqueza que poucos percebem. É um espaço de 240 mil metros quadrados, e vamos gerar ali entre quatro e cinco mil empregos. Não estou falando de compradores, não. Estou falando de pessoas vendendo, pessoas mantendo aquele espaço, mantendo a segurança, toda a sua infraestrutura envolvida no processo. Aquela parte interna tem 72 pontos de armazenamento e distribuição. É a única saída para o setor do agronegócio. Acrescentaria que esse não é apenas um projeto municipalizado ou regionalizado e sim nacionalizado. Não vamos interagir somente com o Espírito Santo e com a produção da Região Serrana do Rio. Para se ter uma ideia, eu achei frutas produzidas aqui na região de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Se alguém levar esse produto para lá, tem que voltar trazendo algo. Esse é o modelo com o qual a Central de Campos tem que operar.

Como você vê esses plantios consolidados de soja e de milho no município?
Isso é muito bom, porque o milho e a soja, juntos, poderão em breve resultar em uma fábrica de ração animal, que nós precisamos. Em um primeiro momento ração para galinha poedeira mesmo. Estou acompanhando bem essa iniciativa desses produtores que devem ser seguidos. Para esse setor avançar temos que ter uma unidade da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) no estado do Rio.

Pode fazer uma panorâmica rápida sobre a economia de Campos e o Porto do Açu?
Olha, eu fiz um comparativo esses dias e alguns vão me criticar ou me chamar de maluco. O Porto do Açu é muito bom, sabe para quem? Eu sou muito bairrista. O Porto do Açu e a Petrobras são bons para São João da Barra e para Macaé, gerando muito imposto para esses dois municípios, tanto que eles operam com receita própria exatamente no ISS. Reconheço a importância do Porto do Açu e da Petrobras, ambas gigantes, mas volto a bater na tecla que sou um pouco bairrista ao fazer esta análise. A infra estrutura toda é de Campos, hoje, no caso do Açu. Esclarecer que, nada, muito pelo contrário, nada contra meus irmãos de São João da Barra. Estou falando de economia momentânea.