O médico-cirurgião Raphael Sepulcri gosta de lembrar que 27 de julho é o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço, mas para ele e vários profissionais de saúde, a data acontece todos os dias do ano. A campanha ‘Julho Verde’ serve para informar sobre prevenção. A doença acomete milhares de brasileiros a cada ano. Sepulcri integra a equipe do IMNE, do OncoBeda, do Hospital Dr. Beda e do Beda Prime, em Campos. Destaca o uso da cirurgia robótica no Beda para a retirada de tumor na base da língua, procedimento inédito no interior fluminense. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), estão previstos no triênio de 2023, 24 e 25 em torno de 40 mil novos casos de câncer de cabeça e pescoço em todo o Brasil.
“Para a gente, o Julho Verde é o ano inteiro. É o mês de conscientização e combate para tentar mais informações. A Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP) considera que a falta de informação também é um fator de risco. Não oferecer informação é arriscado para qualquer tipo de câncer. Promovemos palestras sobre esse tipo de câncer; os principais sinais e sintomas; o tratamento; a importância da equipe multidisciplinar”, explica Raphael Sepulcri.
Tecnologia robótica e pioneirismo
No Hospital Geral Dr. Beda, a cirurgia robótica foi usada recentemente no primeiro procedimento do interior do Rio de Janeiro para tratar um câncer de base de língua. Este é um dos primeiros casos com o uso da tecnologia no interior do Brasil. De acordo com Raphael Sepulcri, a paciente é uma mulher de 60 anos e ex-tabagista.
“Ela tratou primeiramente o tumor com radioterapia, só que ele não sumiu totalmente. Ficou ainda uma parte na região da língua. A gente fez essa retirada por via robótica de toda a lesão de segurança. A paciente teve alta dois dias depois do procedimento. Hoje, ela já está comendo, falando, sem evidência de doença”, conta.
O uso da tecnologia robótica em pacientes com câncer de cabeça e pescoço trouxe muitas vantagens e benefícios. “A principal vantagem é ocasionar menos dano ao paciente. É uma cirurgia que é muito menos mórbida. A recuperação é bem mais rápida para o paciente. Para se ter uma ideia, para eu operar um tumor da base da língua, eu tinha que abrir a mandíbula, cortar esse osso para chegar lá. Hoje, o robô me dá a visão por dentro da boca. Então, eu já diminuo muito a morbidade para o paciente em recuperação. Ele volta mais rápido a comer e a falar”, explica Raphael Sepulcri.
Diagnóstico precoce
De acordo com o cirurgião, a maioria dos pacientes chega ao consultório com a doença muito avançada. Com as campanhas promovidas no Julho Verde, a intenção é que haja diagnósticos cada vez mais cedo, para que pessoas doentes tenham maior chance de cura.
“O profissional que está atendendo tem que colher a história do paciente. Esses cânceres acontecem primeiro por conta do tabagismo. É um fator de risco principal. Já atendi gente que fumava quatro maços de cigarro por dia”, diz o cirurgião. O segundo fator de risco para câncer de cabeça e pescoço é o etilismo. Fumar e ingerir bebida alcoólica aumentam em 100 vezes a chance de câncer de ter a doença.
“É frequente também paciente com tumor de orofaringe provocado pelo vírus HPV. Geralmente, é uma ferida na boca ou na garganta que não melhora; mudança de voz; rouquidão; caroço no pescoço; perda de peso; dor e dificuldade para engolir. Tudo isso são os sinais e sintomas que podem fazer suspeitar que o paciente tenha esse tipo de câncer. Portanto, quanto mais cedo o diagnóstico, melhor para o paciente”, conclui Raphael Sepulcri.