O que mais se fala em Campos nos últimos dias é a condição e a qualidade da água potável na cidade. Moradores de vários bairros vem se queixando de gosto e odor de mofo e terra na água das suas casas, bem como a coloração em tom esverdeado tem chamado atenção às margens do Rio Paraíba do Sul.
O J3News divulgou em primeira mão na última sexta-feira (26) a análise laboratório da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), que aponta para o encontro de duas cianobactérias na água. O relatório atende a uma ação do Ministério Público.
A primeira substância é uma geosmina, que de fato confere gosto e odor de mofo e terra à água – podendo dar tais características a água potável. A segunda é uma substância que pode produzir potencialmente uma toxina, que segundo o estudo gera preocupação por conta dos possíveis efeitos em animais e humanos.
A reportagem conversou com o diretor do Comitê Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana, João Siqueira, sobre a situação:
“A qualidade da água começou a ficar pior no Rio Pomba (Minas Gerais), como sempre acontece todo ano neste período, quando diminui a vazão do Rio. Sem chuvas em Minas e na Serra Fluminense, que são afluentes de abastecimento do Rio Paraíba, a vazão natural diminuiu. A vazão que manteria o Rio (Paraíba) era a que vem de São Paulo. Mas, acontece que 2/3 delas está sendo transposta para o Rio de Janeiro. Nós estamos ficando com apenas 1/3, que é uma quantidade muito pequena: 70m³. O ideal seria 250m³. Assim, ficamos com uma vazão ecológica ínfima, 30% abaixo do natural”, comenta.
Também vice-presidente do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, ele alerta que por conta da baixa vazão, há maior concentração de esgoto no Rio Paraíba e por consequência, proliferação de algas nessas condições:
“O Rio Paraíba recebe esgoto de todas as cidades acima, tratadas ou não, todos os dias. Quando há maior vazão de água, ele é diluído. Mas, com baixa vazão, há maior concentração do esgoto. Essa concentração aumenta favorece a proliferação de algas, que dão essa cor esverdeada na água. O cheiro que está sendo notado na água também é proveniente dessas algas. Algumas delas são tóxicas, outras não. A geosmina, por exemplo, não é. Ela dá esse gosto e odor estranho na água, mas não causa doenças. Mas, existem cianobactérias que se alimentam dessas algas e produzem toxinas. Elas ainda não foram identificadas na água do Rio. Se isso acontecer, é preciso cessar a captação de água imediatamente”, comentou João.
João enfatizou que a questão pode ser solucionada com boa vontade do Governo do Estado do Rio de Janeiro, e que o engajamento da população no tema tem papel fundamental:
“A solução passa por aumentar a vazão das afluentes mineiras. A população precisa caminhar ao nosso lado, fazendo pressão aos órgãos públicos para regularizar a vazão do Pomba em Muriaé. Estamos lutando hoje para isso. É difícil, porque precisa de união dos governos de Minas e Rio, para que aconteça um esforço a nível federal. Minas quer essa regularização, porque muitas cidades por lá sofrem durante a estiagem. O governo fluminense não está se importando com o interior, se preocupa apenas com a capital, que está com água sobrando. O Governo do Rio precisa se mobilizar para aumentar nossa segurança hídrica”, complementou.
O J3News solicitou posicionamento do Estado sobre a declaração e aguarda resposta para atualização desta matéria.
Sobre a questão do gosto e odor na água, Siqueira explicou que não é possível retirar a geosmina do Rio, mas ressaltou que a Águas do Paraíba tem atualizado o Comitê sobre a qualidade da água e o tratamento que vem sendo feito para reduzir esses efeitos.
“A Águas do Paraíba segue fazendo análise nas águas e me disse nesta segunda-feira que até o momento não foi detectada nenhuma toxina patogênica (que faça mal à saúde). Ao mesmo tempo, eles vem trabalhando para melhorar essa questão do cheiro e gosto da água”, finalizou.
LEIA TAMBÉM
Água em Campos: laudo aponta toxina que demanda atenção e concessionária diz não haver risco à saúde