Embora jovem, com 40 anos, a história de vida do bacharel em Direito Tony Siqueira, que assumiu recentemente uma das 25 cadeiras da Câmara de Vereadores de Campos, é rica em experiência, e ele discorre sobre os temas mais importantes de interesse da sociedade, como segurança pública, saúde, educação, agronegócios e desenvolvimento em todos os níveis, desde o humano até tecnológico.
Filho de um casal de educadores (Antônio e Regina) que fizeram história em Campos, Tony, funcionário concursado do setor de segurança pública do Estado, dialogou também com as artes e contou sua relação quase que familiar com o saudoso cantor Oswaldão. Para ele, o crescimento de Campos é irreversível e foca no potencial do município. Ele agrega aos argumentos o vizinho município de São João da Barra, ao se referir às oportunidades constantes do Porto do Açu.
Você está vivendo uma experiência muito recente de assumir, na reta final de uma legislatura, a cadeira da Câmara de Vereadores de Campos. Com está sendo isso?
Nunca tive a pretensão de exercer um cargo político, mas, há quase cinco anos, um desafio surgiu. Fui solicitado a vir como candidato e tive uma votação expressiva na cidade, ficando na suplência. Acho que isso aconteceu como resultado do meu trabalho, à época, na Secretaria de Saúde. Acabei colhendo os frutos desse trabalho. Hoje, como vereador, para mim está sendo gratificante. Estou vendo que a gente consegue, através do mandato, além da função de fiscalizar e legislar, ajudar as pessoas, representá-las e, isso é importante.
Você estava na Secretaria de Saúde em parte da pandemia de Covid-19. Como foi esse momento?
Acho que foi o maior desafio que eu já tive até hoje, por mais que a gente trabalhe na segurança pública, que também é uma área que a gente se defronta com situações extremas. Na segurança pública as pessoas só percebem o trabalho quando estão aflitos, estão em perigo. Na saúde ocorre quase o mesmo, e falo em condições extremas, e a pandemia foi extrema. Foi um desafio grande porque era uma doença que ninguém conhecia. Quero parabenizar todos os profissionais da saúde da nossa cidade porque enfrentaram esse desafio. Colocando em risco suas próprias vidas. Na época, foi implantado no Beneficência Portuguesa o Centro de Controle e Combate ao Coronavírus (CCCC), com uma equipe multidisciplinar. Não gratuitamente, as pessoas falam que saúde e segurança pública são prioridades e realmente são! Em ambas as áreas a prevenção é a maior conselheira. Tivemos um grande aprendizado com tudo isso.
Você é da área de segurança pública do Estado, como concursado, e tem essa experiência na área de saúde. Mas, parece que a educação, outra área sensível, também fez parte de sua vida em experiências.
São três demandas essenciais numa coletividade. Existem outras, mas saúde, segurança pública e educação formam um tripé muito forte. A gente sempre precisa avançar nesses três segmentos. Com certeza, é a base realmente, são alicerces, por mais que tenham outras áreas importantes. Na saúde, o Hospital Geral de Guarus viveu uma grande transformação, e o Hospital Ferreira Machado também, assim como as Unidades Básicas de Saúde. Novas escolas-modelo foram entregues. A nossa educação é o futuro da nossa juventude. Então, a gente educa o costume, a gente educa o menino de hoje, até porque eu sou da área de segurança pública e digo: a gente educa o menino de hoje para evitar puni-lo no amanhã. Isso é muito importante.
Você tem uma história familiar bem curiosa. Seu pai foi aluno interno do Antônio Sarlo, do Colégio Agrícola de Campos, e depois se tornou diretor da escola. Fale um pouco desse orgulho que você tem, e fala da sua mãe, que também foi professora.
Meus pais são referência na minha vida. Por serem da educação, sempre fui muito cobrado. Estudei em colégio público também, estudei no Instituto Federal Fluminense, me formei na Faculdade de Direito de Campos e depois eu prestei quatro concursos públicos e, hoje, estou atuando na área de segurança do Estado. Meu pai, a história dele, eu acho que é o que move a minha vontade de seguir. Ele foi um aluno interno do Colégio Agrícola. A gente sabe que não é fácil. Ele foi morar na escola, daí se formou e depois foi para a cidade de Niterói, onde cursou Medicina Veterinária. Se formou, voltou para Campos e virou diretor do Colégio Agrícola Antônio Sarlo. Minha família é da Baixada Campista e meu pai é campista raiz. Minha mãe foi vice-diretora do Colégio Agrícola e trabalhou em grandes escolas, referências da nossa cidade como o Instituto Superior de Educação Professor Aldo Muylaert (Isepam) e o Nilo Peçanha. Sou filho de dois educadores e a educação sempre esteve presente na minha vida, cotidianamente, desde que nasci.
A gente tinha falado em saúde, educação, segurança, mas nessa pegada aí que você morou no Colégio Agrícola com seu pai (na época, o diretor tinha uma casa para ficar na unidade). Você deve entender um pouco de agricultura, apesar de ter se formado em Direito. Agricultura também é um segmento forte. Como você enxerga isso?
Meu pai, médico veterinário, foi chefe da Defesa Sanitária também. Muitas vezes eu o acompanhei em campanhas de vacinação da febre aftosa. E na parte agrícola também, do colégio, especificamente, ele é professor de técnicas agrícolas. Quantas vezes a gente saía no meio do pomar do colégio andando naquela área enorme. Já adulto, na minha trajetória política, solicitei a Feira da Roça para várias praças de Campos. Como disse, sou da Baixada Campista, onde a agricultura é presente. Entendo a importância da agricultura e sei sua dimensão maior na forma de agronegócio. Acho que Campos começa a mostrar suas potencialidades neste segmento, com a diversificação de culturas, novos experimentos. Eu posso dizer que conheço a agricultura e a pecuária em sua raiz, embora não seja especialista. Porém, o fato de saber da importância é um ponto muito positivo na minha vida e também devo isso aos meus pais.
No Colégio Agrícola, você e seu pai chegaram a conviver com Dom Américo, o saudoso Oswaldão?
Oswaldão é uma figura eterna para Campos. Tive essa hora, sim. Ele não só estudou no colégio, como também foi professor. Meu pai conta que quando ele estava preparando a sua carreira artística, tinha que se ausentar de Campos, por dois ou três dias. Meu pai, então diretor, abonava as faltas porque sabia que Oswaldão seria um grande artista, o que acabou acontecendo. Mas avalizava, encontrando professores substitutos. Esses episódios criaram uma amizade muito grande entre os dois. Temos, até hoje, um disco (vinil) autografado por ele. Dom Américo ficará sempre na história da cultura de Campos. Eu penso nele e tenho, por exemplo, a ideia de criar um evento que reúna todas as bandas de fanfarra de escolas da cidade, assim como as liras. Penso no Dia Municipal de Bandas de Fanfarras. São projetos que já estão em desenvolvimento na minha passagem pela Câmara. Na verdade, existem muitas coisas na área das artes que é preciso ser feito, conjugada com nossa tradição e nosso turismo, que é diferenciado.
Segurança pública não é uma responsabilidade total do município, mas, hoje, há ações integradas e a Guarda Municipal ganha cada vez mais presença. Fale um pouco sobre esta área.
Eu atuo na segurança pública, especificamente desde 2004, quando eu assumo o meu primeiro concurso público, aos 19 anos, como guarda municipal em Rio das Ostras. Lembro que acordava ainda de madrugada e ficava esperando carona em frente ao Shopping Estrada. Foi uma experiência incrível, aprendi muito e valorizo cada momento da minha carreira. Depois, fiz outro concurso para o governo do Estado e deixei a Guarda Municipal. Acho que a segurança pública no município avançou. Foi criado um centro de monitoramento no Shopping Boulevard onde une todas as forças de segurança do município. Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Bombeiro e a Polícia Penal interagem. Também foi criado o Polo da Segurança Presente, que agora vai alcançar a Baixada Campista por decisão do Governo do Estado.
E a Guarda Municipal?
A Guarda Municipal é fundamental para complementar a sensação de segurança para a população, são profissionais qualificados que também atuam neste Centro de Monitoramento. Hoje, a Guarda Municipal passa por uma transformação, com o projeto de armamento. Defendo esse avanço, mas ressaltando que os profissionais precisam passar por um grande treinamento para se qualificarem para a nova missão. Afirmo que a Guarda Municipal de Campos está profissionalizada sendo peça importante no policiamento ostensivo.
Você é bacharel em direito e tem experiência em diferentes áreas, como mostrou. Como você enxerga o futuro de Campos?
Campos é uma cidade enorme, com aproximadamente quatro mil quilômetros quadrados e uma população, certamente, de mais de meio milhão de pessoas. Esse é o nosso desafio. Temos aqui terras para agricultura, temos infraestrutura e força de trabalho. Temos universidades. Temos uma rede hospitalar invejável, que enfrenta desafios diariamente. Então, temos tudo para ser uma grande cidade. Campos está no radar de muitas grandes empresas por toda essa potencialidade. Devemos muito também ao nosso vizinho município, São João da Barra, por conta do Porto do Açu. As possibilidades de rede de negócios são imensas. A Petrobras está cada vez mais perto e hoje, no porto, já operam cerca de 20 multinacionais. O que precisamos é capacitar nossos jovens com ensino para as oportunidades que estão chegando. Precisamos incentivar o empreendedorismo.