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Fora de rumo e sob riscos

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
18 de julho de 2024 - 16h55

Conforme prometido no domingo passado (07), quando a imagem de um malabarista na corda bamba ilustrou a matéria, retorna-se ao tema para fechá-lo. Ressalve-se, qualquer assunto concluído com espaço de uma semana é inadequado tendo em vista que o leitor não tem como ‘armazenar’ o que leu depois de tantos dias.

De toda sorte, desejando, poderá recorrer ao Site do jornal, onde a matéria permanece na página principal.Resumindo em meia dúzia de linhas, a base das observações diziam respeito a um governo descoordenado, sem nenhum projeto consensual, refém do Congresso e com o presidente da República, que durante a campanha pregou um governo de união, alimentando revanchismo e discórdia.

Equívocos e o tempo desperdiçado

Não há como negar, como no filme “Fora de Rumo”, protagonizado por Clive Owe, cujo personagem Charles Schine, depois de enfrentar inúmeros dificuldades, acaba ‘premiado’ por uma série de coincidências favoráveis e consegue recomeçar a vida – o governo Lula, por ora, ou começa tudo de novo ou vai precisar de muita sorte.

Como política e administração federal não se confundem com ficção, melhor que o governo ‘comece tudo outra vez’ e assuma as responsabilidades mirando em seus deveres; e não em imagem, autoelogios e inocuidades. O tempo perdido não tem volta, mas é possível corrigir e acertar o rumo.

Prioridade é o País

Será que o Planalto não informou ao presidente que ele foi eleito para governar o Brasil e não os estados e regiões que lhe foram favoráveis? Por sinal, conforme soberania das urnas, minoria em relação ao opositor.

Portanto, é inaceitável que no início deste mês o presidente tenha cancelado agendas em redutos bolsonaristas, como Santa Catarina e Goiás. Ora, o mandatário vai onde tiver que ir, e não onde se sente confortável. Entendimento em sentido contrário é o mesmo que evitar o estado São Paulo, onde Bolsonaro obteve 55.23% dos votos e o petista 44.77% – menos 10 pontos que Bolsonaro, agora irremediavelmente fora do jogo depois dos recentes indiciamentos feitos pela PF.   

Discrepâncias

No outro lado da mesma moeda, é necessário que o presidente Lula – que daqui a pouco mais de 3 meses completa 79 anos de idade e mais de 50 de vida pública – tenha o entendimento que não foi eleito para guiar-se por pesquisas – que tanto  falham quanto acertam – ou se as entrevistas que concede – por sinal ‘primorosas’ –, fizeram melhorar ou piorar sua performance.

Não. O presidente foi eleito para trabalhar. É pago para trabalhar. Mora em palácio. Dispõe de carros, seguranças, alimentação, viagens, hospedagens… enfim, incontáveis despesas pagas com o dinheiro público para comandar o Brasil, e não para ficar preocupado com pesquisa.

Aproveitando o ensejo…

Com efeito, sobre pesquisas de opinião, o presidente vem colecionando uma série quase ininterrupta de levantamentos de diferentes institutos em que tanto a popularidade quanto a aprovação desceram ladeira abaixo.

Para não ir longe, no finalzinho de maio deste ano, pesquisa Datafolha divulgada pelo PoderData apurou que a gestão Lula era aprovada por 45% dos eleitores e reprovada por 47%. Recuando um pouquinho, há dois meses, os números da Genial/Quaest, publicados no Correio Braziliense, mostrava que se a eleição fosse naquele mês,  55% da população não daria nova chance ao presidente Lula, enquanto 42% apoiariam sua reeleição.

“Normal”  

Registre-se, em praticamente todos os levantamentos negativos, prevaleceu o silêncio do PT, do Planalto e do presidente. Contudo, nova pesquisa da Quaest divulgada na semana anterior, em que pela primeira vez em 2024 a avaliação do governo variou positivamente (36% ótimo e bom, 30% regular e 30% ruim e péssimo), na opinião de alguns cientistas políticos o presidente desdenhou, como se 36% de ótimo, para ele, não fosse representativo. E isso, na 1ª vez no ano em que os números não lhe foram desfavoráveis.

“Ar professoral”     

O jornalista André Stumpf, na seção ‘Opinião” do Correio Braziliense, há alguns dias, observou o que em seu entendimento consiste o atual momento do presidente, cujo um pequeno trecho segue abaixo:“Nos últimos tempos, o presidente Lula tem se mostrado para os brasileiros como aquele sujeito que fala sobre tudo, convencido de saber mais do que todos. Disserta sobre assuntos variados, com ar professoral, dono de certezas infinitas. As pessoas não contestam para evitar conflitos, mas discordam entre sorrisos...

A análise de J.R.Guzzo

Não é algo muito frequente. Mas há comentários e análises que, não obstante expressem em boa parte opinião pessoal, fica difícil pormenorizar qualquer observação, senão com o risco de macular os textos originais, ainda mais quando essas linhas são publicadas no Estadão, um dos três maiores conglomerados de comunicação do País. Então, melhor reproduzi-las pura e simplesmente.

A começar por José Roberto Guzzo (J.R. Guzzo), um dos principais jornalistas brasileiros – 60 anos de carreira, cujas referências incluem Paris e Nova York como correspondente, direção da Revista Veja e muitas outras –, que semana passada escreveu longo artigo no Estadão, intitulado “Lula diz que não presta contas a ricaços, mas ajuda a Joesley e Wesley Batista mostra o contrário”.

Evidente, não vamos reproduzir o texto por inteiro. Mas não dá para ‘tirar’ mais. Ainda assim, bem extenso:

presidente da República, num dos seus últimos acessos de autoadoração em público, disse que não tem de prestar contas “a nenhum ricaço deste país”. É mais um momento extremo de confusão de identidade. Estava falando de si próprio, mas descreveu uma pessoa que não é ele, o presidente Lula – e que não faz, no mundo das realidades, o que ele está fazendo desde o começo do seu governo. A verdade é o contrário do que diz. Se há alguém neste país que presta conta a ricaço é ele mesmo, em pessoa e o tempo todo. São os fatos. Seu último presentão aos bilionários amigos, e amigos dos amigos, é o ato de doação que fez para o Grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista: nada menos que uma medida provisória que cobre pagamentos devidos pela Amazonas Energia a termelétricas compradas há pouco pela Âmbar, uma empresa do grupo no setor de energia. O custo vai ser pago nas contas de luz do público em geral durante os próximos quinze anos.Medida provisória, para ajudar a vida de uma empresa privada – e ainda por cima enrolada até o talo em processos por corrupção na justiça?…”…