A cientista social e apresentadora do podcast “É sobre isso”, da J3News TV, Simone Pedro, é uma das especialistas entrevistadas para a reportagem “Mulheres em busca de vaga na Câmara”. Nesta publicação, ela aborda com mais detalhes sua percepção acerca da participação de mulheres na política, e da movimentação de pré-candidaturas femininas para o pleito eleitoral deste ano, em Campos dos Goytacazes.
Como observa a ausência de mulheres na Câmara de Campos?
A ausência de mulheres na Câmara, eu observo que pode vir a ser um reflexo da polarização nos últimos anos, que favoreceu muito mais o lado mais conservador dessa polarização, que não vê nas mulheres um papel político de importância, e principalmente nos direitos das mulheres, uma importância prioritária de agendas de políticas públicas.
Quando não não se tem representantes mulheres, a urgência, a emergência dos direitos das mulheres, que é uma materialidade bastante evidente na cidade, visto os casos de violência contra a mulher, mostrando a vulnerabilidade da mulher campista. Esta falta de representantes mulheres na Câmara refletem que essa pauta não está nas prioridades, muito embora a realidade diga que ela é uma prioridade. Acredito que a ausência das mulheres nesses últimos quatro anos é um reflexo do que se abateu sobre todo o país nos últimos oito anos a respeito das pautas, da polarização principalmente, entre partidos mais conservadores e partidos mais progressistas.
Quais as perspectivas para as eleições de 2024?
A perspectiva para que em 2024 a gente consiga refazer um quadro talvez anterior ao que a gente teve nesses últimos quatro anos. Há campanhas de mulheres, porém não com a imponência das candidaturas masculinas. A gente vê entrevistas, destaques de pessoas do sexo masculino com muito mais frequência na mídia do que a entrevista com candidatas mulheres, que antes de serem candidatas são pessoas de influência política, de influência de opinião. Há poucas exposições dessas pessoas enquanto candidatas. Mas a gente tem aí uma promessa. O J3 fez uma matéria mostrando promessa de novas pautas sendo trazidas com muita consistência, muita seriedade, como prioridades e com possíveis representantes. Todavia, os dados mostram que haverá pouquíssimas modificações em relação a gênero na Câmara. Eu vejo ainda com esperança. Eleições são caixinhas de surpresas. Há dados que mostram como há um enrijecimento e muitos problemas em relação a candidaturas das mulheres nos partidos. A gente já teve problemas como esse tendo a resposta do TSE em relação à candidatura das mulheres em Campos, com um pouco de atraso. Isso ainda não é o suficiente para mudar o quadro do Legislativo. A gente espera que o eleitor tenha uma consciência que ter uma diversidade na Câmara é uma vantagem e não um problema.
Como analisa o comportamento do eleitor/eleitora ao darem voto para uma candidata?
Geralmente os eleitores votam na pessoa. E o que a gente percebe é que o eleitor, de uma forma geral, no senso comum, o eleitor não vota por uma questão de agendas, por uma questão de pautas, de projetos, de lei. Mas na pessoa. E é isso que precisa mudar. De repente, as mulheres não estão ocupando os seus devidos lugares na Câmara, porque os eleitores estão votando nas pessoas e não nas causas e nas pautas. O eleitor precisa ter consciência política, primeiramente de exercer a cidadania, de entender ao seu redor quais são as necessidades e votar no candidato que mais atende a essas necessidades. O eleitor ao eleger mulheres, provavelmente é um eleitor que segue algum tipo de agenda ou pauta; entende que é importante que uma pessoa do sexo feminino, uma pessoa de um gênero não masculino, esteja à frente conduzindo essa pauta.
Qual sua opinião sobre a participação de mulheres na política, especialmente em Campos
Ao falar da participação das mulheres na política enquanto candidatas, é importante salientar que há candidaturas de vários perfis, de mulheres que estão em partidos mais conservadores. Com isto, a pauta dos direitos de defesa dos direitos da mulher, o debate vai discorrer de maneira diferente do debate dos direitos da mulher trazido por partidos considerados mais progressistas. Nós temos candidaturas que se dividem em posicionamento e não pela causa da mulher. É muito interessante que o eleitor fique atento em candidaturas femininas que defendam essas prioridades, que são casos de política pública, de saúde pública, que é a defesa dos direitos da mulher em Campos dos Goytacazes, que é o combate à violência e à vulnerabilidade econômica, emocional; enfim, todo um ciclo que envolve a segurança da mulher. A gente tem que diferenciar esses dois tipos de candidatura. Por outro lado, a participação em si da mulher na política, em Campos, se reflete dentro dos próprios partidos. É muito mais presente a mulher em partidos tidos como mais progressistas, do que a presença da mulher em partidos mais conservadores. Muito embora algumas mulheres nesses partidos mais conservadores estão assumindo campanhas majoritárias, como para prefeito, por exemplo, e talvez puxando candidaturas de muita força ao Legislativo. É preciso entender que, por mais que se esteja em candidaturas principais nesses partidos, isso não quer dizer, necessariamente, que as mulheres de Campos estão participando ativamente dos processos políticos no município.
O que mais destacaria neste momento de pré-candidaturas femininas e pré-eleições em Campos?
Independentemente da pauta das candidatas, é importante que o eleitor eleja mais mulheres para que haja um mínimo de equilíbrio na Câmara Municipal; para que haja um mínimo de visão diversificada. Não há nenhum tipo de organização que funcione bem, que consiga inovar e trazer novos rumos para o cenário político, que não seja uma organização minimamente diversificada. A diversidade ainda é um fator de impacto positivo para as políticas públicas.