Nesta segunda-feira (17), professores e estudantes bolsistas da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, em Campos dos Goytacazes, fizeram uma manifestação no prédio da Reitoria para protestar. O motivo é o corte de projetos de extensão devido à redução de verbas. De acordo com os manifestantes, 45 projetos estão ameaçados e podem parar de funcionar até agosto. Muitos professores e alunos dependem dessas bolsas para se manterem, além de prestarem atendimentos à comunidade. Em nota, a Reitoria da Uenf informou que “devido ao elevado número de solicitações de bolsas de extensão aprovadas, a demanda qualificada superou significativamente o orçamento previsto para o ano de 2024”.
Os manifestantes levaram cartazes em protesto pela não aprovação de projetos de extensão. A professora Maria Angélica da Costa Pereira atua no curso de graduação de Medicina Veterinária. Trabalha há 24 anos em projetos de extensão acadêmica realizados com bolsas.
“O Hospital Veterinário, disseram, a partir de agosto, é melhor fechas as portas porque não tem como atender ninguém sem recursos. As pessoas não vão trabalhar por amor, pois têm contas a pagar para sobreviver decentemente. Há 45 projetos de vários cursos de toda a Uenf ameaçados, O HV é uma vitrine da universidade porque a comunidade vive aqui dentro trazendo bichos. A gente tenta atender a todos, mas sem recursos fica difícil. Eu nunca vi cortes em projetos de extensão nos meus 24 anos de universidade”. diz.
De acordo com a professora do Centro de Ciência do Homem, Luciane Silva, diversos projetos de extensão impactam sobre a comunidade, mas principalmente para alunos bolsistas. Entre os projetos, está o funcionamento de uma web rádio.
“Fomos pegos de surpresa com a notícia de que não se teria recurso para o projeto continuar. A Web Rádio Maíra é pensada para todo o corpo universitário, para a população da cidade de Campos, que fomenta a cultura local. A extensão pede socorro. Não podemos deixar que projetos sejam cortados, alunos fiquem sem bolsa. Nossos alunos precisam dos auxílios que recebem. Não para complementar renda, mas em alguns casos, porque eles são um ponto de apoio familiar”
Ainda de acordo com Luciane Silva, com o fim dos projetos, em agosto os bolsistas já não voltam. “As pessoas utilizam a bolsa para deslocamento e para alimentação. O aluno da Uenf é um aluno trabalhador, ele não tem condições de não ter a bolsa. Esse é o drama que vai impactar a universidade. Eu tenho metade de bolsistas que são da Uenf e metade que são da UFF e do IFF. Já teve um momento aqui que a gente diminuiu um pouco o valor das bolsas e contemplou todo mundo. Não dá para ter gente não contemplada e avaliar qual a qualidade é dos projetos. Buscamos diálogo com a Pró-Reitoria e tentar sanar, ao menos, aqueles projetos que a gente percebe que têm um impacto muito direto na relação com a comunidade”.
Para Ana Carolina Nascimento, aluna de Ciências Biológicas, é preciso que todos se mobilizem pela permanência dos projetos de extensão e das bolsas.
“Isso é fundamental para permanência dos alunos. Eu sou de Magé, é bem distante daqui. Eu não consigo ficar na Uenf sem, no mínimo, duas bolsas. E mesmo já tendo duas bolsas, eu ainda preciso trabalhar para me manter aqui, para comprar comida. Como é que se estuda se preocupando se amanhã ou não vai ter alguma coisa no seu armário para comer? Não tem como, isso afeta negativamente o empenho acadêmico do aluno”, comenta Ana Carolina.
Para Indiara Salles, médica veterinária, sem a bolsa de universidade aberta na extensão para atuar no projeto de esporotricose do Hospital Veterinário, sua situação e a dos animais atendidos ficarão comprometidos.
“Esse projeto existe desde 2017, atendendo gratuitamente cães e gatos, com esporotricose de todo o município de Campos de Goytacazes. Além de fazer o atendimento, a gente também realiza o diagnóstico laboratorial, prescreve o tratamento e faz o acompanhamento desses pacientes mensalmente, que é uma doença aí de tratamento que pode durar até um ano. Todos esses serviços serão paralisados porque não tem mais bolsa para o projeto funcionar, nem para quem já é formado, como eu, como para os alunos de graduação que também auxiliam em todas essas atividades”, lamenta.
Nota de Reitoria da Uenf
A reportagem entrou em contato com a Reitoria da Universidade Estadual do Norte Fluminense para que se posicionasse sobre as manifestções contrárias aos cortes de verbas e projetos de extensão. A reitora Rosana Rodrigues e o vice-reitor Fábio Olivares emitiram a seguinte nota:
“A UENF informa que, devido ao elevado número de solicitações de bolsas de extensão aprovadas, a demanda qualificada superou significativamente o orçamento previsto para o ano de 2024.
Reconhecemos a importância vital dos programas e projetos de extensão para nossa instituição, pois eles desempenham um papel crucial na promoção da integração entre a universidade e a comunidade, além de fortalecerem a formação acadêmica e profissional de nossos estudantes.
Diante deste cenário, estamos empenhados em buscar uma suplementação orçamentária que permita atender a alta demanda qualificada das propostas que, apesar de aprovadas, encontram-se atualmente em lista de espera.
Nosso objetivo é garantir que esses projetos possam ser atendidos com bolsas o mais breve possível, contribuindo assim para o contínuo crescimento e impacto positivo da UENF na sociedade.
“Agradecemos a compreensão de todos e reafirmamos nosso compromisso em envidar todos os esforços necessários para viabilizar a suplementação orçamentária. Manteremos a comunidade acadêmica informada sobre os avanços desta questão”.
