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Campos e a inovação tecnológica

Especialista diz que município está dentro do ecossistema desta evolução

Entrevista
Por Aloysio Balbi
8 de abril de 2024 - 5h00
Foto: Arquivo Pessoal

Marcos André Farias de Oliveira, especialista em Inovação da Casa Firjan, um dos equipamentos pensantes da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro é formado em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com MBA em Sistemas e Estratégias de Inovação pelo CEDEPE Business School e Mestrado Profissional em Ciência, Tecnologia e Inovação pela UFRN e considerado um dos maiores especialistas em inovação do país. Possui mais de 15 anos de atuação no fomento ao empreendedorismo nas áreas de crédito produtivo (CEAPE-PE), consultoria, treinamento e organização de eventos, ensino, pesquisa e extensão com foco em gestão, empreendedorismo e inovação (UFPE), políticas públicas para micro e pequenas empresas (Governo de Pernambuco), apoio a gestão de incubadoras e parques tecnológicos (Porto Digital e Instituto Metrópole Digital – UFRN) e agora integra a equipe da Gerência de Ambientes de Inovação da Casa Firjan, atuando na promoção de conexões para inovação nos ecossistemas de empreendedorismo inovador do Rio de Janeiro.

O senhor esteve em Campos para ministrar, na Firjan, uma aula inaugural do mestrado do IFF em Engenharia e Gestão. E a expectativa é que as dissertações que serão desenvolvidas na turma 2024, daqui a dois anos, possam fortalecer a conexão entre a academia e a indústria. De que forma isso pode ocorrer? Se possível cite exemplos no estado ou no país?
A Conexão entre academia e empresas de um modo geral tem sido uma saída importante para levar o conhecimento que está sendo gerado nas universidades, instituições de ensino técnico e tecnológico e outros institutos de ciência e tecnologia para se tornarem em inovações nas empresas, repercutindo em melhoria da qualidade de vida das pessoas e em práticas mais sustentáveis. Por outro lado, as indústrias são também ambientes repletos de desafios que podem ser explorados pela academia em busca de soluções. Há diferentes caminhos para que essas conexões aconteçam e uma delas são os programas de Open Innovation, onde empresas se abrem para que o ecossistema de inovação, sobretudo universidades e startups, proponham e testem soluções. Isto pode ocorrer de forma mais ou menos estruturada a depender do porte da empresa. O Porto do Açu e a Arte Cerâmica Sardinha são dois exemplos bem interessantes desse tipo de conexão na região.

 O senhor também participou de uma das edições do evento Conexões para a Inovação, organizado pela Firjan e o Porto do Açu, justamente para fomentar a inovação nas empresas. Qual é o atual estágio das empresas locais neste processo?
Não só em Campos, mas no Rio de Janeiro como um todo, temos muito ainda a trabalhar para conscientizar as empresas a terem essa abertura e buscarem esse diálogo com as universidades em seu entorno. Temos trabalhado na Firjan por meio de iniciativas como o evento Conexões para Inovação, ocorrido em Campos e em Macaé, e de Rodadas de Inovação, que aconteceram na Casa Firjan ano passado. Este ano estamos com outras ações em estruturação para promover esse diálogo.

Como uma empresa pode inserir inovações em seu dia a dia?
A Inovação precisa ser uma prática sistematizada nas empresas. A prática para se inserir no dia a dia, pode ser mais simples como um momento semanal com os colaboradores para discutir ideias de como resolver problemas que a empresa percebe em seus processos e produtos, até ações mais estruturadas de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento próprios ou com apoio de entes externos como universidades ou institutos de ciência, tecnologia e inovação.

Quais os exemplos de inovações que temos na região?
O Porto do Açu e a Arte Cerâmica Sardinha (https://arteceramicasardinha.com.br/) são dois exemplos bem interessantes desse tipo de conexão com a academia na região. Numa das edições do Conexões para Inovação, conhecemos outras iniciativas de startups como a “Letras e Bits”, que utiliza apenas energia elétrica para transformar águas poluídas prontas para reuso, e a “Bio Tintas”, utiliza o princípio ativo de pimentas na pintura de cascos de navios, o que diminui os tempos de manutenção e os custos.

Como a Firjan contribui para desenvolver esse ecossistema inovador e qualificar os empresários sobre esse tema?
A Firjan tem atuado ativamente junto aos diferentes ecossistemas de inovação apoiando a realização de eventos para promover essas conexões. Além disso, por meio da Firjan IEL, promovemos cursos, trilhas, workshops e consultorias para qualificar líderes e equipes das empresas nas temáticas relacionadas à Gestão da Inovação.

Como funciona o Grupo de Trabalho em Inovação da Firjan na região?
De forma empírica, podemos dizer que há uma percepção de que a inovação é um processo mais acessível às grandes empresas e multinacionais. Por isso, a Firjan Norte Fluminense criou este Grupo de Trabalho para aproximar o tema dos empresários locais, contribuindo para qualificá-los e desenvolver esse ecossistema. A partir das discussões deste GT, composto por empresários da região, já foram realizadas duas edições do “Conexões para Inovação”, uma em Macaé e outra no Porto do Açu, evento que contou com palestras e reuniu empresas e startups numa mesma mesa, a fim de apresentarem seus produtos e demandas. O sucesso de público confirma que os empresários locais estão em busca desse conhecimento, e cada vez mais antenados quanto à importância do tema para o desenvolvimento de seus negócios. O GT promoveu também dois eventos do Café com Inovação, em Campos e Macaé, que abordaram o acesso à inovação por meio de editais, e contou com a participação da Casa Firjan para falar sobre tendências de mercado.

São muitas as expectativas para Campos e a região. O que é preciso fazer para que elas se concretizem?
No aspecto da inovação, acreditamos que a região possui um ecossistema de inovação com um bom nível de maturidade e grande potencial, com presença de instituições fortes no âmbito da academia, das empresas e das startups. A atuação do poder público nas diferentes esferas é necessária no sentido de promover melhorias no ambiente de negócios. A Firjan também tem atuado neste sentido, por meio da Agenda Brasil 4.0, que indica um conjunto de iniciativas que precisam ser observadas pelo poder público para promover o desenvolvimento de negócios, inclusive no tocante à inovação.

Da mesma forma, muito se fala em startups como o novo eldorado do mundo corporativo. Mas, o que um jovem com espírito empreendedor e que teve uma ideia de negócio deve fazer para transformá-la em realidade?
 Muitas coisas são importantes para um empreendedor ou empreendedora que quer desenvolver uma startup, mas gostaria de destacar duas: conexão e um mindset orientado para o aprendizado. Conexão porque não se inova nem se empreende sozinho. É importante que esse empreendedor ou empreendedora procure uma rede de apoio, como incubadoras, aceleradoras, comunidades de startups. Em Campos, temos a Tec Campos, por exemplo, que é uma importante incubadora de empresas de base tecnológica na região e que tem apoiado muitos empreendedores em diferentes estágios. Ter acesso a essas redes, participar de eventos como os Meet Ups do Conecta Lab, são muito importantes para se fazer networking, encontrar parceiros, potenciais clientes, colaboradores, mentores, investidores e até sócios! Ter um mindset orientado para o aprendizado é importante porque em uma startup, por seu caráter inovador, frequentemente não se sabe se a solução (a ideia que o empreendedor ou empreendedora formula a partir de um problema que identificou no mercado) é de fato uma solução, ou seja, aquilo que o cliente tem interesse e condições de pagar. Nesse sentido, encontrar formas de testar rapidamente essa ideia de solução, interagir o máximo possível com potenciais clientes para validar essas ideias, conceitos e protótipos e gerenciar o negócio de forma ágil de modo a conseguir adaptar-se rapidamente às descobertas é uma competência fundamental para esse empreendedor ou empreendedora. E isso tem muito a ver com não ter medo de errar. Culturalmente nós somos avessos ao erro. Almejamos sempre o sucesso. O fracasso é visto como algo negativo. No entanto, nos erros, ou fracassos, estão as maiores fontes de aprendizado. Thomas Edison, um dos maiores inventores que já existiu, a quem é atribuída a invenção da lâmpada incandescente (até hoje utilizada como símbolo da inovação), dizia que ele não tinha falhado mais de 10 mil vezes, mas que tinha sido bem-sucedido em encontrar mais de 10 mil maneiras de como não fazer.

A Inteligência Artificial ainda é uma realidade distante das cidades do interior? Como ela pode ser (ou já está sendo) usada nas indústrias e nas pequenas empresas?
 A inteligência artificial está presente em nossas vidas a mais tempo do que se imagina, seja na capital ou no interior. Basta olhar na palma da sua mão. Boa parte dos aplicativos que utilizamos em nossos smartphones utilizam algoritmos baseados em inteligência artificial para aprender conosco e nos indicar produtos, serviços e entretenimentos mais alinhados aos nossos gostos e usos. Mais recentemente, com a chegada das chamadas Inteligências Artificiais Generativas, passamos a utilizar o poder dessa tecnologia em outro nível. Aplicações diversas têm surgido desde a simples escrita de um texto até a sofisticada criação de imagens a partir de um comando escrito em linguagem natural, ou seja, como falamos normalmente no dia a dia. Isso, apenas para falar de um tipo de aplicação de inteligência artificial. Ela traz inúmeras possibilidades para pessoas e empresas, ajudando no ganho de produtividade, otimizando processos, gerando insights e novas ideias. Essa tecnologia também está ao alcance de todos, inclusive das empresas, grandes ou pequenas. Basta ter um dispositivo conectado à internet. Claro que soluções mais sofisticadas ou até mesmo embarcadas (quando o software já vem dentro do próprio equipamento, como o computador de bordo dos carros ou o sistema que roda na sua smart TV, por exemplo), podem estar mais ou menos acessíveis, mas do ponto de vista da tecnologia é uma tendência que seu custo caia ao longo do tempo e mais pessoas passem a utilizar. Assim, é importante não olhar para a tecnologia como algo ruim ou moda, mas com um olhar de curiosidade, e buscar formas de aplicá-las ao seu dia a dia – testar, experimentar. É importante também não partir do zero. Há muita coisa já sendo feita e algumas até consolidadas.  A Inteligência Artificial é um dos pilares da chamada Indústria 4.0 e no Conecta Lab, Aceleradora da Firjan IEL, queremos conectar startups com soluções nessa linha às indústrias de pequeno e médio porte, acelerando o seu desenvolvimento e aumentando a sua competitividade.

Como a Casa Firjan contribui para a evolução dos métodos produtivos dos empresários? Como é a estrutura disponibilizada e como as pessoas e empresas podem ter acesso?
 A Casa Firjan é um hub de inovação conectado com o futuro e comprometido em entregar soluções para os desafios da nova economia. Nesse espaço da Firjan acontecem diversas atividades como o Festival Futuros Possíveis e os Aquários trazendo pessoas de referência para falar de temas super-relevantes e provocar discussões sobre assuntos que podem se transformar em tendências. Temos também os Reports de Macrotendências, um estudo desenvolvido pela equipe da Casa Firjan que aponta grandes temas que podem trazer impactos sobre as empresas e sobre a sociedade. Mais recentemente iniciamos uma série de atividades para pensar a educação do futuro com o nosso Lab de Educa Freyre. Periodicamente são realizadas também na Casa Firjan exposições, e temos ainda o Fab Lab, laboratório de fabricação digital e experimentação que fomenta a criatividade e a inovação para empreendedores, empresas e instituições de ensino, onde é possível aprender a utilizar as máquinas e equipamentos e fazer você mesmo protótipos e até produtos feitos a partir de impressão 3D, cortadoras a laser entre outros. Para empresas, a Casa Firjan, através da Firjan IEL apresenta um rico portfólio de cursos, workshops e consultorias em inovação e também ações de conexões para inovação, como o Conecta Lab (https://casafirjan.com.br/conecta-lab), Aceleradora Firjan IEL que está com edital de seleção aberto para startups com soluções inovadoras em Indústria 4.0 e em Sustentabilidade voltadas para indústrias de pequeno e médio porte do Rio de Janeiro. Além disso, mensalmente realizamos toda primeira quinta-feira do mês os Meet Ups do Conecta Lab (https://casafirjan.com.br/agenda/meet-do-conecta-lab), eventos gratuitos abertos à comunidade para discutir assuntos relevantes e promover networking entre atores do ecossistema de inovação. Muitas dessas ações acontecem presencialmente na Casa Firjan, mas muitas delas também podem ser acompanhadas online por meio de nossa plataforma de conteúdos casafirjan.com.br. Nela é possível assistir vídeos, ouvir podcasts, ler artigos e eventos além de ficar por dentro de tudo o que acontece por meio da Agenda. Do ponto de vista de fomento à inovação e ao empreendedorismo, considero que a Casa Firjan é um importante ativo para o Rio de Janeiro e para o Brasil. É um espaço magnífico com conteúdos da maior relevância e que está acessível tanto física quanto digitalmente!