Começou na Quarta-feira de Cinzas (14) a Quaresma de 2024. Trata-se de uma tradição do cristianismo que se estende do fim do Carnaval até a Páscoa. Um espaço de tempo que é marcado por jejum, penitências, ações de caridade e oração. Essa prática surgiu no século IV d.C., quando foi estabelecida a data da Páscoa.
“Quaresma é um período que reaviva o nosso batismo, a nossa identidade cristã, prepara os que não são batizados. Renova plenamente a nossa relação com Deus e os irmãos, para preparar a Páscoa. Assim, preparados, podemos celebrar dignamente a Páscoa, que será mais alegre e terá muito mais sentido”, pontua o bispo diocesano de Campos, Dom Roberto Ferreria Paz.
Neste período muitos cristãos fazem sacrifícios. Antes, não se comia carne durante os 40 dias. Depois, às sextas-feiras da Quaresma, além da quarta-feira de Cinzas. Hoje, há quem siga ainda um destes modos ou de forma mais flexível:
“Há uma flexibilização na reforma do tempo litúrgico da Quaresma, substituindo disciplinas penitenciais por atos de caridade. Todas as sextas-feiras do período, por exemplo, que antes eram de abstinência de carne, essa privação pode ser substituída por uma ação de misericórdia. Como orar pelos falecidos, visitar um doente, praticar uma boa ação, servir a alguém que precisa, perdoar. O sentido do tempo quaresmal, na verdade, é pela mudança no coração, uma evolução de dentro para fora. Não apenas fazer coisas externas. Mas, sim, uma purificação para a vida toda, renovação total”, enfatiza Dom Roberto.
Ao falar sobre o período, o líder religioso aponta o real sentido da Quaresma para os católicos. “As três disciplinas penitenciais são a esmola (caridade), oração e jejum. Mas a penitência, seja ela qual for, tem que chegar ao coração. Quando a pessoa faz uma destas ações, deve ser porque realmente ama a Deus e os irmãos. Porque quer ter um coração novo, quer ser melhor, ter uma vida comunitária mais expressiva, quer alcançar a sua conversão”, disse.
Atualmente, há pessoas que flexibilizam o sacrifício da Quaresma se abstendo de outras coisas, em vez de carne vermelha, como por exemplo, chocolate e bebidas alcoólicas. Dom Roberto destaca que também é legítimo, porém reforça que o real valor da penitência está na evolução que ela pode proporcionar a cada pessoa:
“O que a Igreja se refere, seguindo a tradição do antigo testamento, é por não comer carne de animais sufocados. Hoje, há flexibilizações. Mas, insisto, só cumprir penitência por tecnicamente se sentir obrigado, de nada adianta. Não basta jejuar e não se tornar mais compreensivo, mais solidário com as pessoas. Tem gente que pode até se tornar mais arrogante, achando que o simples fato de conseguir cumprir uma penitência lhe faz melhor. E não é assim. Essa disciplina da penitência deve servir para a renovação do cristão”, afirma.
Páscoa
A Quaresma se inicia no pós-Carnaval e se estende até a Páscoa. No calendário religioso cristão, o domingo de Páscoa, que este ano cai no dia 31 de março, é o dia em que se celebra a ressurreição de Cristo.
Porém, o bispo lembra de outra tradição, esta impulsionada pelo mercado, que tornou-se símbolo da Páscoa: os ovos de chocolate. O que nem todo mundo sabe é que há um significado nisso, ligado à fraternidade que rege a Quaresma:
“Antes, não se comia nem carne nem laticínios. Daí o sentido dos ovos de Páscoa. Eram os ovos que não se comia neste período, depois se pintava a casca e dava para os pobres”, comenta o bispo Dom Roberto.