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Não é tão difícil assim

A desigualdade social é uma vergonha para o Brasil

Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
7 de fevereiro de 2024 - 18h02

De acordo com a ONU, o mundo é ocupado por 193 países. O Brasil, após ultrapassar o Canadá, ocupa a 9ª (nona) maior economia do planeta. EUA, China e Alemanha são os mais ricos.

Indo por esse viés, nos deparamos com um contraste para o qual não temos resposta: a desigualdade social, a revelar uma deformidade gigantesca que a todos envergonha.

Tivemos nas últimas décadas uma redução? Sim, tivemos. Mas no conta gotas. Ínfima e desproporcional ao desenvolvimento do país neste mesmo período, e que só aparece mesmo naqueles gráficos de números miudinhos.

Sem rodeios

Direto ao ponto: quem viveu a adolescência/juventude nos anos 60/70 – um pouco antes, um pouco depois – viu, com normalidade, o seguinte quadro: na cozinha, uma senhora com a barriga no fogão e outra arrumando a casa. Ambas chamadas de “empregadas domésticas”. De fato, a denominação não trazia qualquer ranço discriminatório. A definição não tinha o propósito de menosprezar quem quer que fosse. Ouso até dizer que o termo “secretária” soava e ainda soa – em menor proporção – mais estranho, acabando por divulgar, subliminarmente, o racismo camuflado que todos desejamos combater.

Comiam depois dos donos da casa e – dói dizer – o que sobrava. No tanque, a lavadeira ia 2 ou 3 vezes ‘na casa’ para lavar e passar a roupa dos patrões. Eram, em sua maioria, negras, que moravam nas distantes periferias.

Penúria

Muitas em casinhas sem reboco, com uma TV 14’, PB e usada. Geralmente presente que recebiam de muito bom grado. Mas, pouco viam. Chegavam 20/21hs, davam uma arrumadinha na casa, preparavam o “jantar” do marido e filhos e às 5 já estavam de pé para pegar um ou dois ônibus. Geladeira… já era mais difícil: “puxavam” muita energia. Seus filhos, quando estudavam, era em grupos escolares, porque também estes pegavam cedo no batente para ajudar nas despesas da casa.

Ressalvo – de novo, para deixar bem claro – não era assim em todas as residências, posto que muitas famílias estavam, digamos, à frente de seu tempo. E aquela maneira de convivência não se dava por ‘ruindade’. Era, apenas, o ‘antigo normal’.

As domésticas que ‘dormiam no emprego’ preferiam sentar no chão para assistir a novela. Mesmo que lhe apontassem o sofá, tinham certo acanhamento. Ficavam com vergonha. Dormiam no ‘quartinho dos fundos’ e, vez por outra, ganhavam uma roupa usada da patroa ou do patrão. E ficavam contentes.

Desdobramentos

Primeiro, chamo a atenção do leitor para o fato de que até aqui me ative ao ambiente doméstico, sem cogitar do mecânico, do bombeiro, do eletricista, do lanterneiro, do pintor, do soldador, do vigia e demais atividades operárias que cumpriam suas funções nas usinas, nas fábricas, nas propriedades rurais e muitas outras.

Segundo, não estou falando de “ricos” – consideração subjetiva que varia segundo o entender de cada um. Porque, neste caso, estaríamos a falar de mansões com 08/10 empregados, de mordomos, motorista particular (costumava-se chamar “chauffeur”, visto que o francês emprestava maior pompa),  jardineiros, piscineiro e por aí ia.  

Igualdade e Estado Democrático

Há que se observar que não faz nem 80 anos (o que em história é minúsculo) que a era Vargas proclamou um dos primeiros instrumentos de inclusão social, no Decreto-Lei 5.452, de maio de 1943.

Dez anos antes, também coube a Getúlio (Constituição de 1934) proclamar a igualdade entre os sexos, determinando o fim dos privilégios ou distinções por motivo de nascimento, sexo, raça, classe social, riqueza, crenças religiosas ou ideais políticos, etc.

Não por acaso Vargas é considerado o maior nome da história política brasileira.

Depois vieram outras regulamentações. A de 1988, de notável relevância, particularmente por consagrar o Estado Democrático de Direito e igualar homens e mulheres de forma expressa, confirmando preceito histórico de que todos são iguais perante a Lei.

Concluindo

Para não avançar ainda mais no tema, em 80 anos o Brasil fez muito pouco para combater a desigualdade no país. Simples: a inclusão social só virá quando a população tiver poder aquisitivo e, para tanto, precisa de Educação de base. Isso, naturalmente, falando em rápidas pinceladas.

O Brasil precisa abandonar o discurso de “três refeições por dia”, o qual, todos somos a favor, mas já vimos esse filme e a promessa acaba ficando no palanque. É imperativo vencer o fantasma da desigualdade que não combina com um país de riquezas naturais espetaculares e 9ª economia do mundo.

Em tempos não tão distantes, o petista Aloizio Mercante foi um dos que mais levaram a sério a luta pela igualdade social. De nada adianta a hipocrisia do “secretária”, quando, na prática, o estigma de empregada doméstica prevalece em se tratando de saúde, educação, moradia, infraestrutura, transporte e demais conjunturas sociais.

De 2002 para cá o Partido dos Trabalhadores venceu nada menos que 5 eleições presidenciais. E…..?