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Sem política econômica eficaz Brasil vai continuar empacado

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
28 de novembro de 2023 - 17h02

Com a chegada de dezembro não há mais tempo para soluções que coloquem a economia nos trilhos ainda em 2023. Não se está descobrindo a pólvora: a história nos mostra que a economia é pré-condição a todos os demais setores públicos em qualquer país.  

E não existem atalhos. É necessário mirar na direção certa e trabalhar para que o Brasil prospere e a população pare de pagar, com suor e sacrifício, a conta do desperdício e da incompetência.  

A essa altura cabe ao governo reconhecer que o ano passou em branco e que não houve qualquer avanço relevante. De toda sorte ainda é possível viabilizar um projeto harmônico onde, ao invés de baterem cabeça uns com os outros, os setores sigam um trajeto consensual, transformador e eficaz, suficiente o bastante para reverter as trapalhadas do ano que se despede. 

Desorganização e erros em série começaram antes mesmo do início mandato 

Lula venceu a eleição em 30 de outubro e Bolsonaro praticamente abandonou o Planalto após a derrota. Logo, foram dois meses em que o petista usufruiu da condição de candidato eleito e passou a dar declarações as mais variadas sobre como seria o novo governo. Variadas e desastrosas – diga-se.  

Começou questionando a autonomia do Banco Central – um retrocesso que assustou o mercado financeiro. Ato contínuo, criticou a disciplina fiscal: “Por que as pessoas são obrigadas a sofrer para garantir a tal da responsabilidade fiscal deste país? Por que toda hora falam que é preciso cortar gastos?”. Foi o suficiente para derrubar a bolsa e fazer o dólar subir 4,1% em um dia. Dali para frente o desajuste no mercado foi total.

Enviesado e na contramão

Com a economia desorientada, a situação ficou ainda mais tensa quando criticou a meta de inflação prevista no início do ano, dizendo que como tal definida pelo Conselho Monetário Nacional atrapalhava o crescimento da economia e que a independência do Banco Central era “bobagem”. 

Diante o trem descarrilhado, os principais economistas do país, entre eles Armínio Fraga, Pedro Malan e Edmar Bacha – todos eleitores de Lula – escreveram carta pública criticando as declarações. Lembraram que o teto de gastos não tira dinheiro da saúde, educação e cultura para pagar juros a “banqueiros gananciosos”. Para eles, a falta de dinheiro para áreas de crucial impacto social se dá “porque não são tratadas como prioridades”. 

Armínio Fraga foi mais enfático: relembrou o “colapso fiscal” durante o governo Dilma frisando que BC “não faz milagre, não vai melhorar a educação no país ou inverter a tendência ao desmatamento”. Disse, também, que o Brasil tem um histórico de busca por “atalhos” e “soluções fáceis”.   

Posições antagônicas 

O PT iniciou campanha pela baixa dos juros, jogando nas costas do B. Central a culpa pela estagnação econômica. Mas o BC não se deixou influenciar pela política partidária – como certamente teria feito se não fosse autônomo – e só em agosto reduziu a Selic em meio ponto.  

Em três anos, foi a 1ª vez que a taxa recuou, descendo de 13,75% para 13,25%. Campos Neto mostrou que estava certo e sinalizou com outras quedas de igual patamar, o que favoreceu o mercado financeiro e a retomada dos investidores. 

Despesas públicas 

Se ficou claro o acerto do Banco Central ao suportar a pressão e segurar a Selic por 8 meses, por outro lado precisa adotar certa flexibilidade. Campos Neto ressaltou que o Brasil continua com gastos públicos acima da média de outros países da América Latina e que é preciso “enfrentar a receita engessada que o país tem”. Mas esqueceu de levar em conta que o Brasil – com todo respeito – não é a Bolívia, nem o Equador e tampouco a Venezuela. Logo, a comparação não é justa, ainda que o gasto público seja inaceitável. 

Justiça a Lula – Não se vai bater palmas para promessas ao vento. Mas não há como negar que Lula está certo ao cobrar oferta de crédito para fazer a economia girar e o dinheiro chegar na mão do trabalhador, do pequeno empresário e do agricultor. O Brasil tem que gerar emprego para distribuir renda e reduzir a desigualdade. Mas, antes, é necessário um alicerce seguro. 

Esquecer e olhar 2024  O que resume o ‘ano perdido’ é que o presidente eleito já estava mal antes mesmo de começar o governo. As falas impróprias, o excesso de viagens ao exterior sem benefícios para o país e a desorganização interna  afetaram diretamente a economia. A criação de 38 ministérios (o mais recente para acomodar o Centrão, que tem o governo como refém face à fragilidade) contra 23 da gestão anterior, bem como fomentar um ambiente hostil ao dizer, por exemplo, que “Campos Neto não entende nada de Brasil”, fizeram de 2023 um ano desastroso. 

Todo esse cenário, incluindo as frequentes quedas de popularidade, contribuiu para travar a economia. Na semana passada (22), pesquisa da Genial Quaest apontou que a fatia do mercado financeiro que avalia negativamente o governo subiu cinco pontos: de 47% para 52%. 

Estamos a falar da soma de todos os erros de um Brasil em permanente estado de polarização, com o Planalto mais preocupado com Bolsonaro – que onde vai segue sendo ovacionado – do que com o governo Lula, na maioria das vezes hostilizado quando aparece em público.