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Adel Nassaer Aboureijeili: entre o comércio e a construção civil

Empresário preside a Câmara de Comércio Brasil/Líbano e aposta no Açu e no açúcar

Entrevista
Por Aloysio Balbi
27 de novembro de 2023 - 0h01
Adel Nassaer (Fotos: Silvana Rust)

Ele nasceu em Campos, mas com um ano foi morar no Líbano, onde ficou até os 20 anos. Aos 13 anos começou a dirigir uma empresa no Líbano juntamente com seu irmão Jorge, com quem divide tudo, negócios e responsabilidades. Desde 2017 ele preside a Câmara de Comércio Brasil/Líbano no Rio de Janeiro.

Em Campos atua como empresário do setor do comércio e da construção. Engenheiro, Adel, sabe fazer negócios, erguer prédios de alto padrão e também recuperar em sua própria oficina carros dos anos 50, do milênio passado. Com duas lojas na rua João Pessoa, ele acredita na recuperação do comércio no Centro e aponta caminhos. Sobre a economia regional, diz que o Porto do Açu, em São João da Barra, é o grande diferencial, mas também aposta na volta no ciclo do açúcar.

Como é presidir a Câmara de Comércio Brasil/Líbano no Rio de Janeiro? Mexer com o comércio exterior?

Na verdade, para mim não foi difícil, porque venho de longo tempo atuando desde 2003 até assumir a presidência. O objetivo principal da Câmara é o comércio entre os dois países, e atender os empresários. Então, atuamos em importação e exportação, orientando os interessados com informações precisas e emitindo certificado de origem das mercadorias. Realizamos, também, eventos para divulgar os produtos, tendências do mercado e incentivar essa relação comercial. Temos um estreito relacionamento com o consulado libanês no Rio e, também, trabalhado para colocar o Líbano no Mercosul, processo que está em andamento. Diferentemente do que pensam, o Mercosul não é apenas uma questão de geografia, e mesmo o Líbano estando no Oriente Médio é possível participarmos deste mercado. O processo está em trâmite e acredito que vamos começar a operar muito em breve com essa ferramenta.

Como andam as relações comerciais entre o Brasil e o Líbano atualmente?

O maior foco desta relação está em São Paulo, exportando carne, açúcar café. O Rio de Janeiro tem um volume grande, mas não como São Paulo. A última pesquisa, antes da explosão do porto de Beiruty, o Brasil vendeu para o Líbano 350 milhões de dólares por ano e comprou 54 milhões de dólares. O Brasil vende sete vezes a mais para o Líbano do que compra. Com a crise no Oriente Médio esse mercado foi afetado. Hoje, o Oriente Médio está importando somente o necessário, os chamados itens essenciais. Por conta disso, as exportações diminuíram. Agora, temos que esperar essa história que é chamada de novo Oriente Médio. O que posso garantir é que o Líbano é o mercado de entrada para todo o Oriente Médio. Esperamos que essa guerra que está acontecendo lá acabe o mais rápido possível para que possamos voltar a crescer.

Agora, falando do comércio em Campos.  Você e seu irmão tem duas grandes lojas no coração do Centro, ambas na rua João Pessoa. O Centro tem jeito?

Claro que tem. O Centro é a área tradicional do comércio de Campos. Sempre foi o gerador de empregos da cidade toda. Encolheu um pouco com o crescimento da cidade, com a criação do comércio nos bairros e isso é normal. Porém, o Centro precisa de um projeto de mecanismo para o comércio se manter. Temos três problemas principais no Centro. O primeiro é o estacionamento escasso, quase não existe, tem um estudo para criar um estacionamento rotativo no Centro, pois hoje não temos condições de criar um edifício garagem. Essa lógica rotativa, na mão da prefeitura ou não, resolveria parte deste primeiro problema. O segundo problema é acessar o Centro com transporte público, como no tempo da passagem que custava R$ 1,00. É lógico que os tempos são outros, mas seria possível algo semelhante para incentivar as pessoas dos distritos e de outras áreas da cidade a chegar ao Centro. O terceiro problema: o Centro todo está focado na rua Barão de Amazonas, onde está tudo concentrado. É preciso um projeto de equilíbrio, espalhando comércio e serviços até a  rua Ouvidor, por exemplo. Isso exige um trabalho conjunto de todas as entidades dos setores produtivos com a prefeitura, elaborando um projeto para fazer esse equilíbrio que é uma coisa razoavelmente simples.

E a entrada de empresas de fora no mercado de Campos, é bom ou ruim?

É normal, pois o mercado é aberto. Mas, é preciso um tratamento diferenciado para as empresas campistas como ter linhas de crédito, através dos royalties do petróleo, pois o comércio não tem condições de operar com bancos. Não existe o Fundecam? Com esse financiamento bem avaliado, a partir do histórico da empresa, o comércio de Campos não correia risco e poderia operar de igual para igual com essas empresas maiores que estão sempre chegando a Campos. Não podemos impedir a chegada dessas empresas, mas temos que cuidar das nossas, pois temos recursos para isso.

Você também é empresário da construção civil. Esse setor foi dos mais castigados pela crise. Por que essa crise parece que foi mais acentuada em Campos?

Primeiro houve uma crise financeira mundial que afetou o Brasil também, com o financiamento oficial quase deixando de existir para compra de terrenos e apartamentos. Houve também construções bem acima da necessidade do mercado. Campos é diferente de Rio de Janeiro e São Paulo. Somos uma planície e então um apartamento, por exemplo, não é uma grande necessidade. Você adiciona aí a alta do material de construção e a mão de obra cara. É a tempestade perfeita.

Mas há sinais de recuperação?

Existem, mas, não vamos super dimensionar isso. É preciso criar uma linha de financiamento imobiliário diferente das existentes, e esperar o mercado absorver o que está sobrando. Com os juros em dois dígitos o setor da construção civil vai demorar para voltar a ser o que era. E existe um componente interessante em Campos: o preço do metro quadrado, quer em área ou em edificação, continua o mesmo.

Mas sua empresa de construção civil está com demanda, não?

Estamos esperando como será a economia em 2024. Esse ano, terminamos nosso empreendimento no Parque Tamandaré, com a sua legalização, e vendemos apartamentos. Trata-se de um prédio de 11 andares na área mais valorizada de Campos, em uma construção de alto padrão. Partir para um segundo prédio neste padrão com as coisas do jeito que estão seria um alto risco. Então, temos que esperar os passos da economia para o ano que vem. Se tudo correr bem, pensaremos em novos lançamentos, mas o momento é de expectativa e observação.

Você é campista de nascimento, mas foi criado no Oriente Médio e conhece o mundo. Como você vê essa expectativa toda do Porto do Açu?

O Porto de Açu promete muito. Há dois anos, fiz uma conferência remota entre o Porto do Açu e o Canal de Suez, através da Câmara de Comércio Árabe. É um porto muito promissor para toda a região, inclusive para Campos. Um porto bem próximo da produção. Sua localização é rara, mas acredito que estamos vivendo somente o começo de um grande futuro, pois é um investimento irreversível e que começa a chamar a atenção de toda a logística brasileira quando o assunto é importação e exportação. O sistema de cabotagem vai poder fazer integração dos portos. Com certeza indústrias vão ser instaladas em breve no entorno do Porto do Açu e a chamada empregabilidade vai aumentar.

Como você vê esse ensaio técnico para a volta da agricultura e da pecuária na região, com a logomarca do agronegócio?

Nossa região, Campos, no passado, foi classificada como o segundo maior produtor de cana-de-açúcar do Brasil. Com o tempo as usinas fecharam e o território foi praticamente abandonado. Perdemos a capacidade de produção, mas com a necessidade hoje do mundo para o açúcar e a existência de um porto colado na cidade, com certeza o investidor interessado em açúcar vai avaliar a logística barata e a produção. Hoje as usinas têm tecnologias mais modernas. Tenho certeza que isso vai acontecer em Campos. Usinas modernas são menores e produzem mais. O Brasil é gigante e alimenta uma grande porcentagem do mundo e a região vai acordar para isso.

Agora, uma pergunta pessoal. Você é alucinado por carros antigos e dizem que seu hobby é restaurar esses veículos nos mínimos detalhes. Como é isso?

Isso vem de criança. Meu pai gostava muito de maquinário e eu percebia aquilo. A parte mecânica e o alinhamento são meu verdadeiro hobby.  Eu peguei um Cadilac de 1952 e estava abandonado em uma fazenda e trabalhei nele durante sete anos, nas horas vagas. Ficou um carro 100% original, como se estivesse saído da fabrica. Esse carro hoje é uma referência em todo o país em se tratando de carros antigos restaurados. Até agora restaurei três, com o detalhe de que tudo foi feito em uma oficina própria que montei onde fabrico as peças como se estivesse nos anos 50.