A partir do fim dos anos 80 e início da década seguinte, acreditou-se que a maioria das nações caminhava para consolidar um estado de civilidade e que os grandes conflitos e disputas territoriais estavam sepultados. Várias décadas antes, ditaduras totalitárias foram extintas. O nazismo de Hitler e o fascismo de Mussolini desapareceram com o fim da 2ª Guerra Mundial, em 1945.
O sanguinário ditador da então União Soviética, Josef Stalin, permaneceu até o início dos anos 50. Contou, a seu favor, ter sido peça-chave na vitória dos aliados – mas nem por isso com menor potencial de crueldade.
Feitas as ressalvas acima, com o fim da Guerra Fria (1947-91) – período em que os EUA e a ex-União Soviética travaram intensa luta político-ideológica materializada pelo capitalismo contra o comunismo – é que se imaginou que a hostilidade, em especial de teor bélico, tinha desaparecido.
Engano. Em 24 de fevereiro de 2022 a Rússia de Putin trouxe a velha vocação expansionista para o século 21. A narrativa, mesmo se fosse legítima, deveria ser discutida num palco que não fosse o da guerra, que traz destruição, sofrimento, devastação e morte. Gente com medo de gente. Gente matando gente.
A guerra de Vladimir Putin, que não deveria ter começado e sobre a qual se pensava estar ‘concluída’ em semanas, completa esta semana (24) dezoito meses.
O longo período é apenas um agravante dentro de um contexto inimaginável para o século 21, que desperdiça tempo e energia com tolices – particularmente as oriundas do cansativo politicamente correto e de questões ideológicas – em detrimento dos sérios problemas que ameaçam o planeta: água, escassez de alimentos, devastação do meio ambiente, aumento da pobreza e a ineficácia da maioria dos países em prover sua gente dos serviços essenciais.
Com raras exceções, que não livram nem os países ricos de algum tipo de necessidade, os governos não entregam Saúde, Educação, Segurança, Emprego, Moradia e várias outras estruturas fundamentais ao bem estar social.
O próprio umbigo – O avanço territorial de um país sobre outro, ação alucinante levada a efeito via agressão militar, é demonstração inequívoca que o mundo tecnológico, moderno, ágil e “acolhedor” não se livrou de seus instintos mais primitivos.
Vale lembrar, por conta da fase mais aguda da pandemia, surgiu (para inglês ver) o “novo normal”. Não durou senão poucos meses, tendo em vista que o novo normal voltou a ser velho anormal de sempre: cada qual olhando apenas para o próprio umbigo.
Motivos são os que eles querem
A invasão da Ucrânia não deixa de ser um desdobramento da anexação, em 2014, da Crimeia, então pertencente à Ucrânia. Ocorre que a Criméia é uma região estratégica sob o ponto de vista político-geográfico, com população predominantemente russa.
Assim, aproveitando-se de uma crise interna, a Rússia usou como pretexto a proteção de seus cidadãos, movimentou suas tropas e rapidamente anexou a Crimeia, sob protestos dos EUA, bem como da Alemanha, Reino Unido e demais países da UE.
Em 2022 outra justificativa duvidosa: Putin estaria preocupado com a aproximação da Ucrânia com a Otan, o que supostamente poderia resultar numa adesão militar e ‘possível cerco’ às fronteiras russas.
Para Vladimir Putin, uma expansão da Otan – em especial influenciada pelos EUA – deixaria a Rússia vulnerável no Leste Europeu. Por outro lado, é consensual que a invasão russa mira nas usinas nucleares ucranianas e na agricultura avançada do país.
O risco de o conflito sair do controle
As sanções econômicas dos Estados Unidos e dos países da União Europeia são, como de costume, meramente simbólicas. Mas o perigo é que desta vez a UE – principalmente França, Reino Unido e Alemanha – mais os EUA, estão enviando armamento para um país em guerra, o que pode trazer consequências imprevisíveis na medida em que o conflito for se estendendo.
Sobre a guerra em si, o quadro é devastador. Um país aniquilado, milhares de mortos e desabrigados, cidades inteiras destruídas, gente morrendo nos bombardeios e morrendo de fome. Um caos. A Ucrânia luta bravamente e tem conseguido impor derrotas aos russos. Mas a gigantesca diferença bélica torna tudo mais difícil.
O retrocesso é uma infeliz realidade. Afora o ciclo pandêmico de doenças, o recrudescimento político faz lembrar os regimes autoritários da primeira metade do século 20.
O Brasil – Procurando acertar, principalmente no cenário econômico, mas ainda errando muito, o Brasil conseguiu em menos de oito meses ficar em posição desconfortável perante países que sempre foram aliados, inclusive os EUA.
Sobre o governo brasileiro, para quem a Venezuela não vive, ou melhor, não sofre uma ditadura cruel e infame, o mandatário ucraniano, Zelensky, acusou há alguns dias o presidente Lula da Silva de “coincidir com as narrativas” de Putin, ao dizer que nem Rússia, nem Ucrânia querem a paz, “enquanto ainda há pessoas morrendo”. Paciência! É o que temos.