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Gordura no fígado, uma doença que não dá alerta

Condição afeta até 30% das pessoas

Saúde
Por Marcos Curvello
24 de julho de 2023 - 0h01
Especialista | Drª Patrícia Peixoto explica causas da doença

Popularmente chamada de “gordura no fígado’, a doença hepática esteatótica é um mal silencioso, que afeta entre 20% e 30% da população mundial e, se não for tratado corretamente, pode levar ao desenvolvimento de quadros mais graves, como fibrose, cirrose ou mesmo câncer. Especialistas, no entanto, afirmam que o problema tem tratamento e alertam para a necessidade de estar atento a fatores de risco e sintomas.

De acordo com a médica endocrinologista Patrícia Peixoto, trata-se de “uma condição crônica, caracterizada pelo acúmulo de gordura (triglicerídeos) no fígado na ausência de consumo excessivo ativo ou recente de álcool e quando outras causas secundárias de esteatose foram descartadas, como infecções, medicamentos e doença hepática autoimune”.

O fígado é responsável por mais de 500 funções fundamentais para o organismo humano. A grande quantidade de sangue que circula por este órgão o confere uma coloração marrom-avermelhada. Porém, quando há o aumento da quantidade de gordura no interior dos hepatócitos, ele aumenta de tamanho e adquire um aspecto amarelado.

“Essa infiltração de gordura em excesso gera um processo inflamatório local e sistêmico, além de alteração no metabolismo de lipídios e açúcares. A inflamação das células do fígado gera a esteato-hepatite, que pode evoluir para fibrose, cirrose e até câncer”, explica Patrícia.
Segundo o Ministério da Saúde, a estimativa é de que 30% da população apresente o problema e que metade dos portadores evolua para formas mais graves da doença.

“Quando falamos da doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD) os fatores de risco principais são sobrepeso/obesidade e o diabetes, há ainda uma predisposição genética e alguns estudos relacionam o consumo de alimentos ultraprocessados ao seu desenvolvimento. O consumo de álcool também é um fator de risco para o quadro de esteatose hepática, sendo mais um fator agressor que pode estar presente em quem tem MASLD”, diz a endocrinologista.

Diagnóstico

O diagnóstico de doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica acontece quando o paciente tem a esteatose hepática e pelo menos um dos cinco seguintes fatores de risco: “1) IMC ≥ 25 kg/m² OU circunferência da cintura >94 cm (homens) ou > 80 cm (mulheres); 2) Glicemia de jejum ≥ 100 mg/dL OU glicemia duas horas pós-prandial ≥ 140 mg/dL OU HbA1c ≥ 5.7% OU diabetes tipo 2 OU tratamento para diabetes tipo 2; 3) Pressão arterial ≥ 130/85 mmHg OU tratamento com anti-hipertensivo; 4) Triglicérides ≥ 150 mg/dL OU tratamento com hipolipemiante; e 5) HDL ≤ 40 mg/dL (homens) ou 50 mg/dL (mulheres) OU tratamento hipolipemiante”, enumera Patrícia.

Por ser um problema de saúde assintomático, a doença hepática esteatótica é verificada por meio de exames de imagem, aponta a endocrinologista. “O diagnóstico deve ser feito através da ultrassonografia do abdômen. Mais recentemente, passamos a ter também a elastografia ultrassônica, que dá informações adicionais a fim de se estimar o risco de presença e grau de fibrose e até mesmo a indicação de biópsia hepática.”

Tratamento

O tratamento deve ter como base na redução de gordura corporal e controle das alterações metabólicas. “Atualmente temos a classe das tiazolidinedionas, a pioglitazona, além dos agonistas de GLP1, como dulaglutida, liraglutida e semaglutida e o uso de vitamina E, que colaboram para a melhora da esteatose. Todos os tratamentos para obesidade vão também ajudar na melhora do quadro hepático, inclusive cirurgia bariátrica”, encerra Patrícia.