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Trianon em festa pelos 25 anos

Mais importante casa de espetáculos do interior do RJ já recebeu grandes nomes da cultura naciona

Cultura
Por Ocinei Trindade
16 de julho de 2023 - 5h01
(Foto: Josh)

O dia 31 de julho marca a fundação do Novo Teatro Municipal Trianon, em Campos dos Goytacazes. Neste mês, uma extensa programação artística celebra os 25 anos da casa de espetáculos mais importante do interior do Rio de Janeiro. Antes de ser inaugurado, em 1998, muita coisa aconteceu. Foram sete anos de construção em diferentes governos municipais. A conquista envolveu a classe artística campista, técnicos diversos, arquitetos, políticos, empresários e o público que aprecia a arte e a cultura. Sob a responsabilidade da Fundação Cultural Oswaldo Lima (FCJOL) e da Prefeitura, a existência do Trianon reúne muita gente que celebra o passado, investe no presente e aposta no futuro.

Em 13 de novembro de 1991, o então prefeito Anthony Garotinho, juntamente com os artistas de Campos, iniciou o projeto de construção de um novo Trianon, já que o antigo cine-teatro particular fora demolido em 1975 para dar lugar a uma agência bancária. Esta iniciativa foi lembrada pelo atual prefeito de Campos, Wladimir Garotinho, durante o lançamento da programação de aniversário pelos 25 anos do teatro. Obras de reformas estão previstas para começar ainda este ano. “Como filho daquele que conseguiu reerguer o teatro, fico muito feliz em promover melhorias. Após a celebração, o Trianon terá a primeira grande obra desde a sua implantação”, revelou.

Presidente |Maria Auxiliadora Freitas

A presidente da FCJOL, Maria Auxiliadora Freitas, destacou um dos eventos para marcar o dia 31 de julho. “Temos uma programação bem específica para marcar esses 25 anos. Exibiremos o espetáculo ‘A magia do Trianon’, de Orávio de Campos, que fez parte da inauguração. Ele foi adaptado e está lindo e maravilhoso. Nós também instituímos o troféu Kapi para homenagear o próprio Kapi (dramaturgo e diretor teatral falecido que dirigiu ‘Gota d’água’, de Chico Buarque, primeira montagem no Trianon, ainda em obras e sem telhado, em 1994); arquitetos, autoridades, técnicos e artistas que contribuíram com estes 25 anos. Faremos o lançamento do selo comemorativo do Trianon pelo Jubileu de Prata”, conta.

Auxiliadora Freitas considera que estes 25 anos representam a luta de todos que se comprometeram em dar a Campos novamente uma casa de espetáculos de grande porte. “Significam a resistência dos artistas, da sociedade, de gestores públicos que entenderam a importância de colocar novamente Campos no cenário nacional, representando os nossos artistas, a cultura nacional, a dramaturgia, a dança, a música. Para mim, é muito emocionante estar aqui. Já fui presidente da Fundação Trianon, que não existe mais, e foi incorporada à Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima. Lembro que quando cheguei aqui, também encontrei uma situação bem difícil no teatro. A gente teve que arregaçar as mangas e colocá-lo no rumo novamente”, avalia.

Templo dos artistas
O Trianon nestes 25 anos exibiu espetáculos de grandes nomes do teatro brasileiro, como Bibi Ferreira, Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Marília Pêra, entre outros. Estrelas da MPB, como Maria Bethânia, Milton Nascimento, Gal Costa, Simone, Ney Matogrosso e Ivan Lins, também subiram ao palco nesse período. Em 1998, o novo teatro foi inaugurado pelo então prefeito Arnaldo Vianna. “Eu tive a felicidade de inaugurar o Trianon que passou a ser tão importante para a cultura, educação e integração social. Ainda me lembro que quando exibimos a peça ‘Em nome do Pai’, nós levamos as comunidades para assistirem. Com isso, conseguimos pacificá-las naquele momento. Hoje, precisamos, de novo, dessa pacificação, de um Trianon ativo”, diz o ex-prefeito.

Primeiro espetáculo |Deborah Colcker

Coube à bailarina e coreógrafa Deborah Colcker fazer a primeira apresentação no Trianon com o espetáculo “Rota”. “No início de nossa trajetória, tivemos a alegria de apresentar ‘Rota’ na abertura do Teatro Trianon em 1998. Vinte e cinco anos depois, chegamos novamente ao Trianon trazendo o espetáculo ‘Cura’, nossa mais recente criação. Foi um prazer imenso para a Companhia de Dança Deborah Colker dançar mais uma vez neste palco”, diz Colcker.

O dramaturgo e ator campista Adriano Moura lembra suas duas vezes no palco do Teatro Trianon. “A primeira foi como ator e autor da peça ‘Conselho de Classe´. A segunda, como diretor e produtor de ‘Meu nome é Cícero’. É um dos equipamentos culturais mais importantes do Estado do Rio, e um patrimônio da cidade de Campos, capaz de abrigar espetáculos de grande e pequeno portes. O público campista teve oportunidade de assistir, nesses 25 anos, peças e shows que comumente só circulam em capitais. Que saibamos manter esse templo da arte e da cultura, e que seus administradores o democratizem cada vez mais”, considera.

O maestro Jony William Vilella avalia a importância do Trianon para a música clássica desde a sua fundação. “Na história do teatro, o Centro Cultura Musical teve uma participação muito grande com os Festivais de Música de Inverno com pelo menos seis edições em oito anos e músicos de todo o Brasil. Na abertura desse novo Trianon, foi feita a ópera ‘Ártemis’ pela orquestra do festival. Depois, com a criação da Orquestrando a Vida, a participação foi mais forte ainda, por causa das orquestras que ali têm se apresentado até hoje”, cita.

A atriz Adriana Medeiros faz reverência à importância do Trianon nos espetáculos de artistas locais. “Primeiro espetáculo que eu fiz ali foi ‘Na pele da palavra’, que eu colava poesias. Foi maravilhoso. A casa estava cheia. Depois, me apresentei com ‘Blá blá blá’, com Toninho Ferreira. Fizemos diversas apresentações. O ápice foi quando a gente apresentou ‘Bodas do rei’. A casa ficou simplesmente lotada, o balcão também. A gente não pode esquecer também de falar uma coisa: a equipe técnica do Trianon é de uma humanidade muito maravilhosa. Não existe espetáculo sem a coxia”, conta.

Arquiteto |José Luis Puglia

Construção, bastidores e equipe
O imponente edifício que abriga o Teatro Trianon, inicialmente, seria um projeto do arquiteto Oscar Niemeyer. Entretanto, isso acabou não se concretizando. Foi então que o arquiteto e urbanista José Luis Puglia foi convocado para apresentar um novo projeto. “É uma honra falar sobre o Trianon, um projeto que fiz para a Prefeitura e para minha cidade. Tenho consciência de que ele nunca irá substituir o antigo Trianon, naquilo que representava em história, patrimônio, eventos culturais e artísticos que ocorreram naquele teatro maravilhoso, onde passei grande parte da minha infância e juventude. O novo Trianon continua atual arquitetonicamente. Comove-me, ainda, rever a sua história também no livro de Antonio Filho, ‘Teatro Municipal Trianon- 25 anos de cortinas abertas -1998-2023’, resume Puglia.

Mais antigo |Ademir Paçoca

O funcionário mais antigo do Trianon é o auxiliar administrativo Ademir Paçoca, integrante de uma equipe formada por mais de 70 profissionais. Ele ajudou na obra do teatro, desde o lançamento da pedra fundamental, em 1991. “O Trianon é a coisa mais importante na minha vida. É um patrimônio. Já me aposentei, mas não consigo me desligar dele. Eu vi tudo isso se tornar realidade desde o início”, revela.

Outro funcionário de longa data é o coordenador operacional Elias Gonzaga, responsável pela cenotécnica, bastidores de palco, montagem e desmontagem. “Eu vim para o teatro em 1998 numa equipe formada pelo presidente do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com a equipe mesclada entre Theatro Municipal e João Caetano. Trato e peço aos técnicos que tratem as pessoas e produções locais do mesmo modo que tratamos os de fora, sempre procurando fazer o melhor. Tenho 37 anos de experiência e no Trianon tem uma coisa muito importante que aconteceu: até hoje nós estamos sem nenhum acidente dentro da caixa cênica do teatro. É uma vitória para a gente de um teatro público”.

O coordenador artístico do Trianon, Pedro Carneiro, tem muitas memórias emotivas e diz ser difícil escolher o espetáculo mais marcante do período, mas destaca a presença da atriz e cantora Bibi Ferreira. “Essa comemoração representa a luta da classe artística, jornalistas, políticos, intelectuais, pintores daquela época. Lembramos de muitas pessoas que fizeram parte da história e que não estão mais aqui, como Maria Helena Gomes, Félix Carneiro, Tito Miranda, Kapi, entre outros. No espetáculo ‘A magia do Trianon’, destacaremos essa recordação dos que buscaram se unir em prol de uma cultura campista renovada”, conclui.

Pratas da casa | Auxiliadora Freitas
e equipe que dá vida ao Trianon