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Peruas ou feiticeiras: o belo legado transgressor de Rita Lee – Rodrigo Lira

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Artigo
Por Redação
14 de maio de 2023 - 0h01

As mulheres possuem duas formas de envelhecer, do jeito Perua, em busca do rejuvenescimento,em que o tempo é um inimigo, ou do jeito Feiticeira, em que o tempo é um aliado, considerando o valor da experiência. Com essa pérola reflexiva sobre os valores humanos, Rita Lee mais uma vez polemiza,pelo seu jeito transgressor e forma peculiar de enxergar a vida. Decerto que, nessa lógica, Rita foi uma feiticeira das mais notáveis no Brasil, pela contribuição, especialmente, no âmbito cultural.

Apesar de ter se notabilizado pela música como cantora e compositora, a artista dizia que tinha no cinema a sua arte preferida; mas também transitava, com certo destaque, como pintora, escritora e atriz. Nas novelas, além de ter atuado em algumas, também emplacou várias canções que viraram hits nacionais. Rita Lee era uma roqueira pop, uma artista sui generis, de um carisma inigualável.

Rita não escondia seu passado com as drogas e narrava de maneira curiosa o momento da decisão de abandoná-las após o nascimento da primeira neta e a vontade de mudar a rotina de internações para reabilitação. Segundo ela, suas melhores e piores composições foram sob o efeito dos narcóticos.Também sob esse efeito, uma coleção de histórias folclóricas surgiram, como quando em parceria com Tim Maia invadiram a sala do presidente da gravadora Philips e quebraram todos os objetos, inclusive discos de ouro emoldurados. Outras passagens trágicas sob o efeito das drogas envolvem reclusão em quartos de hotéis, não comparecimento a shows marcados e ameaças de suicídio.

Também se mostrava uma contadora de histórias talentosa. Invariavelmente os temas envolviam suas infância e juventude. Rita era filha de um dentista, descendente de americanos, que tinha a ufologia como fé. Certa vez, ela narrou que o pai professou, quando a família, reunida, avistou luzes no céu: “Vou contar a vocês: Papai Noel, Coelho da Páscoa, Deus e o diabo, céu e inferno, essas bobagens não existem. Quem compra os presentes é sua mãe. O que você viu não foi Peter Pan. Você viu um disco voador”.

Foi nesse ambiente místico e peculiar, mas cercada de amor, que cresceu Rita Lee, mas talvez esteja num vaticínio de uma tia a síntese do que foi a toada de sua vida. Certo dia, Rita bebeu além da conta, caiu no alambique da família e ouviu da irmã de sua mãe: “O defeito da Ritinha é não saber parar”. Realmente, foi intensa em tudo o que fez, e nem mesmo a morte será capaz de pará-la, considerando seu legado de obras artísticas atemporais eternizadas por um talento incomum.Se o pai de Rita Lee pudesse, hoje, avaliar o conjunto da obra da filha diria que ela, possivelmente, veio de outro planeta.

Rodrigo Lira – Doutor em política, professor e pesquisador do programa de doutorado em Planejamento Regional e Gestão de Cidades da Universidade Candido Mendes.

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