A expansão urbana vem modificando progressivamente a paisagem de Campos e reduzindo áreas de mata nativa que podiam ser vistas em alguns pontos da cidade. Uma das áreas com maior número de obras e empreendimentos é o entorno da avenida Arthur Bernardes, especialmente no trecho próximo à Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), onde novos bairros e condomínios vêm surgindo. A área é habitat de animais como tamanduás de colete, gambás, cobras e aves em geral, que, com a ocupação urbana, buscam se refugiar onde é possível.
Segundo a Prefeitura de Campos, 394 animais silvestres foram resgatados em residências e áreas urbanas e devolvidos ao habitat somente de janeiro a novembro de 2022. Na última semana, duas capivaras morreram atropeladas na Artur Bernardes. A área cortada pela avenida era repleta de vegetação antes da construção da via. De acordo com o ambientalista Aristides Soffiati, a expansão urbana “expulsou” animais.
“A planície em que Campos quando se ergueu era povoada de lagoas de matas de baixa estatura. Muitos animais viviam nesses dois ambientes. A cidade expulsou muitos animais. Matou muitos também direta e indiretamente. Agora, a cidade continua crescendo em sua periferia e várias espécies de animais ainda habitam essas áreas periféricas, como rãs, sapos, cobras, jacarés, gambás, capivaras, lontras, jaguatiricas, tamanduás de colete, preguiças e até animais de outros ecossistemas, como lobos guará e ratões do banhado”, explica Soffiati.
Ocupação do solo e estudo de impacto
A subsecretaria municipal de Meio Ambiente de Campos informou, por meio de nota, que os processos de construção civil seguem o rito da lei municipal de Zoneamento Uso e Ocupação do Solo Urbano, na qual estão estabelecidos critérios para toda área urbana do município, de acordo com os padrões de ocupação e os devidos usos. Para empreendimentos de maior porte, como loteamentos residenciais e comerciais, é necessária a apresentação do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV).
Ainda conforme a pasta, o entorno da avenida Arthur Bernardes “segue os mesmos ritos, pois está contemplada na referida lei. Caso haja necessidade de supressão para implementar a construção de imóvel ou de empreendimento, são avaliados os aspectos locacionais e ambientais, como a avaliação da fauna e da flora existente e elementos básicos para aprovação”.
Animais silvestres: cuidados e destino
A engenheira ambiental Lara Nunes diz que, no caso de se encontrar um animal silvestre, é necessário acionar imediatamente a Guarda Ambiental, por meio do telefone 153. “É importante não interagir com o animal e, principalmente, não tocá-lo, porque isso pode levar doenças para ele”, recomenda, acrescentando: “É importante também que os condutores de veículos prestem atenção à sinalização. Há em muitas vias e rodovias, a sinalização, chamando a atenção para a travessia de animais no local.”
De acordo com a Prefeitura de Campos, animais silvestres capturados poderão ser soltos em Áreas de Proteção Ambiental após avaliação da sua integridade e estado de saúde, caso pertençam a espécies existentes nos ecossistemas da região. Já se estiverem doentes ou se forem nativos de outra região, eles são encaminhados ao Ibama, órgão responsável por tratar, readaptar e encaminhar o animal ao seu ecossistema de origem ou a outro compatível com a espécie.