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ROCKEFELLER, – A matéria que não escrevi. Agora lamento. Mas é tarde

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
29 de novembro de 2022 - 17h05

Há alguns meses – só não me recordo o porquê isso me veio à cabeça – dei conta de que em 2022 completou 50 anos que Rockefeller de Lima cumpriu seu último período como prefeito de Campos. 

Programei, então, escrever uma página para destacar algumas das relevantes passagens de Rockefeller na vida pública de Campos e do interior fluminense.  

Pensava usar o ano de 1972 apenas como gancho, tendo em vista que a trajetória do importante político começara bem antes, ainda na década de 50, e se estenderia várias adiantes, através dos inúmeros mandatos eleitorais que conquistara nas mais diferentes esferas. Daí, sem qualquer favor, inscreveu seu nome entre os maiores políticos da História desta terra. 

Mas, absorto à conturbada sucessão presidencial que começou antes mesmo da campanha pelo 1º turno e segue conflituosa até os dias atuais, fui adiando a matéria e, no início da semana passada, veio a notícia da morte de Rockefeller.  

O texto, por certo, já teria o caráter de merecida homenagem. Mas com ele vivo… para que soubesse o quanto continuava querido e reconhecido. Mas, não deu. Passa, então, à condição de póstuma. 

Retomo, agora, ao fio da meada – ano de 1972 – quando, criança, conheci mais de perto Rockefeller. Por óbvio, não tenho ‘lembrança disso’. Afinal, tinha na época em torno de 10 anos.  

Foi o passar do tempo, de intensa e próxima convivência, que criou a memória e as informações – a maioria delas, particularmente, no âmbito da política e da imprensa – reportando a episódios bem antes de ter nascido. 

Como já mencionei muitas vezes (até eu estou enjoado de repetir), frequento jornal desde criança, 6/8 anos. Por essa época, acho que já ajudava alguma coisa. Que atrapalhava, estou certo. Mas todas aquelas enormes máquinas barulhentas funcionando o dia inteiro, uma oficina tipográfica inteira, era divertimento ‘pra lá de metro’ para um filho único. O jornalista Vivaldo Belido não me queria por lá. Mas não tinha jeito. 

Contudo, de 1972 consigo, em ‘flashes’, puxar pela memória. Explico: o grupo político mais restrito de Rockefeller insistia para que Heli Ribeiro Gomes fosse candidato à sucessão. Então, duas ou três vezes por semana, iam à Usina Cambahyba para jogar sinuca e, entre tacadas, cigarros e xícaras de café saídas dos bules quentes, convencer o usineiro a entrar na disputa. 

Tive, desde criança, a impressão que todos tiveram a vida toda: Rockefeller de Lima era, acima de tudo, um gentleman  

Heli era uma das principais lideranças da região. Por sinal, foi quem lançara tanto Rockefeller como Zezé Barbosa na vida pública. Mas não queria concorrer. Os amigos próximos, entretanto, não desistiam de tentar, principalmente os secretários municipais mais íntimos – entre eles, Chaquib Estefan, Maurício Cordeiro, Danilo Kniffes, Vivaldo Belido (que, por sinal, acumulava duas pastas); vereadores, o vice Rossini Quintanilha e, obviamente, o próprio Rockefeller. (*Esclareço que posso ter cometido enganos nas citações de nomes, certamente omissões, mas são lembranças vagas e salteadas de um pirralho calça-curta). 

Foi quando tive, por assim dizer, os primeiros contatos com Rockefeller, tendo em conta que praticamente obrigava meu pai a me levar. Não ia sempre, é claro. Era complicado. O motorista do jornal tinha que ir lá me pegar – às vezes, o jornalista encurtava sua visita – ou me levava pra casa e voltava. Sim, porque a sinuca e as articulações entravam madrugada. 

Ali começava, e não por acaso, minha admiração por aquela pessoa simpática, extremamente educada, simples e, ao mesmo tempo, de refinada sofisticação. 

Acontece que Rockefeller dispensava a uma criança atenção acima do que a de praxe. Ressalvo, todos me tratavam muito bem. Mas o prefeito ia além: conversava comigo como se ‘fosse gente’; perguntava se não queria jogar (de brincadeira, evidente); ouvia com interesse qualquer comentário que fizesse e, quando ia fazer uma jogada mais ousada – era exímio jogador – me cutucava para que prestasse atenção. 

Isso, para um menino encantado com todo aquele ambiente de homens importantes, era o máximo. Quase (na minha cabeça)… um deles.  

Havia outro garoto que, salvo se traído pela memória, também estava sempre por lá: Mauricinho Cordeiro, com quem conversava, filho de dr. Maurício, infelizmente prematuramente falecido.  

Para resumir (‘resumir’ é ‘ótimo’, em se tratando de texto tão longo), Rockefeller chamava atenção pela elegância no vestir, pelo sorriso cativante, pelas brincadeiras afáveis e até pelo cigarro Charm, acendido com isqueiros grafados com seu nome. (Já Vivaldo Belido fumava uma ‘porcaria’ de Presidente, ou Hollywood, sempre amassados e acendidos com caixas de fósforo. Isso, independente dos maços de cigarros Monterey ou Pall Mall que lhe dava – os quais acendia um e jogava o resto no fundo da gaveta – bem como os isqueiros que comprava na Relojoaria Fritz, e ele perdia). 

Por fim, os anos foram passando e Rockfeller de Lima tornou-se um amigo – tal qual amigo íntimo de Vivaldo. Quase toda semana almoçávamos no Planície ou no Palace, geralmente seguidos de visita ao jornal ou ao escritório do advogado Chaquib Estefan. Com certa frequência, nos encontrávamos nos Rio. Era meu padrinho. Entrevistei-o mais de 20 vezes (A Cidade, Primeira Página e O Diário) e nos víamos rotineiramente, até que passou a sair menos – sentença que invariavelmente a todos alcança em idades mais avançadas. 

Optei por não fazer esta publicação no on-line no dia do seu falecimento, não porque as TVs e os jornais são os mais confiáveis (61% e 56%, respectivamente, segundo aponta o Datafolha), mas face ao aspecto ‘documental’ que o papel empresta à inserção. Fica guardado, ou vai para um quadro, ou algo parecido… e não se perde horas depois. Mas, principalmente, porque estou certo de que Rockefeller assim teria preferido. 

Como dito, trata-se de um texto (um enorme artigo) sobre pessoa querida. De sua biografia de quase 60 anos de vida pública como vereador, vice-prefeito, duas vezes prefeito, deputado estadual e federal em várias legislaturas e suplente de senador, o Site da Câmara de Vereadores, num ótimo retrospecto, incumbiu-se de realizar, inclusive com informações do Livro Política & Políticos, de Vivaldo Belido. 

Aqui, apenas modestas linhas dedicadas a um amigo.