A Casa de Cultura Villa Maria, administrada pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), que está em fase final de obras de manutenção e prevenção, deverá ser reaberta ao público em fevereiro de 2023. As melhorias — sob a responsabilidade do arquiteto Yves Bittencourt — têm previsão de serem concluídas em janeiro.
Elas consistem basicamente na manutenção, prevenção e, em alguns casos, na restauração, como, por exemplo, as escadarias em forma de ípsilon (Y) que permitem dois acessos ao segundo andar do prédio — um pela direita e outro pela esquerda.
Toda parte elétrica do palacete está sendo trocada, assim como os forros do teto que eram de PVC e passarão a ser de gessos. Parte do telhado também foi trocado. Tudo isso sem comprometer um único centímetro do projeto original.
“Uma obra necessária, porque já temos muitos exemplos de imóveis de grande valor histórico sendo abalados por não ter um trabalho de manutenção. Existem casos clássicos como o do Museu Nacional, no Rio, que foi atingido por um incêndio provocado por problemas na rede elétrica interna”, disse o arquiteto.
As obras não implicaram em nenhuma alteração no perfil original da arquitetura do palacete. Porém, é um trabalho minucioso que pode ser ilustrado pelo fato de todos os condutores de qualquer tipo de fio estarem sendo substituídos.
Os chamados Jardins da Villa Maria receberam tratamento especial, já que são um dos espaços mais utilizados em eventos de cultura, como apresentações musicais.
Obras custaram R$ 1,5 milhão
Segundo o reitor da Uenf, Raul Palacio, as obras têm o custo de R$ 1,5 milhão. “Existiam muitos problemas. O que pretendemos é manter um espaço para a cultura, como uma sala de cinema no térreo, um ambiente para mostras de artes diversas e literárias, assim como outras, além de sala multimídia, o que significa dizer que todo o segmento de internet foi substituído. A Casa de Cultura pertence ao povo de Campos e a cultura merece um espaço seguro e bem cuidado”, disse o reitor.
Villa Maria já foi sede da Prefeitura
O prédio — tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (inepac) e pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (Coppam) — foi, durante quase um par de décadas, sede do Executivo Municipal, antes de se transformar em um dos mais importantes espaços culturais de Campos.
Finazinha Queiroz, dama de posses e pertences, tinha no Villa Maria sua residência. Fez constar no seu testamento a vontade de que o palacete fosse doado para a primeira universidade que se instalasse no município, o que era um sonho distante.
No início dos anos de 1970 o imponente palacete foi invadido por vândalos, que levaram o que podiam: pedaços de cristais de lustres, veludo das cortinas e tudo que tinha valor de mercado, não levando em conta os valores históricos.
O arquiteto Raul Linhares, eleito prefeito de Campos, em meados dos mesmos anos de 1970, decidiu recuperar o prédio. O Villa Maria passaria, assim, a ser sede da Prefeitura, mais precisamente do gabinete do prefeito, com todas as pompas e circunstâncias.
Depois de Raul Linhares, seguiram utilizando o Villa Maria seu vice, o médico Wilson Paes, por um mandato de um ano. Em seguida, foi eleito José Carlos Vieira Barbosa e cumpriu também o seu terceiro mandato de prefeito de Campos, despachando do Villa Maria, que ainda abrigava a Procuradoria do Município, Secretaria de Governo e Assessoria de Imprensa.
O inquilino seguinte, Anthony Garotinho, eleito prefeito pela primeira vez, também manteve a sede do Executivo no prédio histórico. O próximo prefeito, Sérgio Mendes, assumiu em 1993 no Villa Maria, mas a sede da Prefeitura teve que deixar o local, pois a Uenf já havia sido criada e seria feita a vontade de Finazinha Queiroz. Mendes passou a ocupar uma casa alugada bem próximo, na Avenida Alberto Torres, apelidada de “Casa Rosada”, por causa da cor do prédio.
Hoje, a Casa de Cultura é histórica porque foi erguida pela aristocracia rural. A dona, Finazinha Queiroz, tinha hábitos reclusos, mas chegou a abrir o palacete para muitos saraus ao som de piano de cauda. Ao mesmo tempo, vivenciou um importante período da política municipal.
Firmou-se como espaço democrático de artes, abraçando a diversidade de cultura em todos os seus níveis. Seus amplos jardins passaram a receber pessoas que iam assistir arte plena na forma de música, de pintura e tantas outras.