Na última quarta-feira (9), o Sistema de Comunicação Terceira Via recebia dos agentes do cantor e compositor Erasmo Carlos a informação de que o show marcado para o dia 29 de novembro, no Teatro Municipal Trianon, em Campos, para celebrar os 10 anos do Sistema, teria que ser cancelado por determinação dos médicos que acompanham o estado de saúde do artista. Aquela quarta-feira foi de cinzas para a Música Popular Brasileira (MPB), com as mortes de Gal Costa e Rolando Boldrin, e o mundo artístico brasileiro parou. Era uma missão praticamente impossível, naquele dia, substituir um artista da estatura de Erasmo Carlos, sem alterar a data e o local do evento.
A missão impossível foi cumprida ainda na quarta, fechando contrato com nada mais, nada menos que Ivan Lins, dono de quatro prêmios Grammy Latino, com outras sete indicações. Artista mundialmente referenciado, ele está entre os brasileiros mais gravados no exterior. Gravaram músicas de Ivan Lins interpretes como Quincy Jones, George Benson, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Barbra Streisand, essas três últimas consideradas divas da música norte-americana.
No Brasil, Ivan Lins teve nos anos de 1980 como principal porta-voz a cantora Elis Regina, que eternizou “Madalena”, mais tarde gravada por outras vozes como Ella Fitzgerald, musa do jazz no mundo.
Gal Costa também gravou “Roda Baiana”, uma música de Ivan Lins e Victor Martins fizeram especialmente para ela. A partir daí, suas composições foram cantadas por uma imensa fila de interpretes da MPB, como, por exemplo, Simone, com “Começar de Novo”. A música-tema da série “Malu Mulher”, da TV Globo, nos anos de 1980, se tornou uma grande bandeira em defesa dos direitos das mulheres.
A História
Ivan Lins já é um compositor histórico, mas sua história começa exatamente em 1970, quando, no V Festival Internacional da Canção, no Maracanãzinho, no Rio, conquistou o 2º lugar com “O Amor, Esse é o Meu País”, cantada em dueto com sua então mulher, a atriz Lucinha Lins.
Tento como instrumento de composição o piano, que começou a tocar na adolescência, o filho de militar formou-se em química industrial antes de pensar em viver de e para a música. Sua química com a plateia rendeu e rende aplausos nos palcos mundo afora, performando como astro internacional.
Seu parceiro mais frequente é Vítor Martins, com quem compôs “Madalena”, “Depende de Nós”, “Cartomante”, “Abre-alas”, “Desesperar Jamais”, “Somos Todos Iguais Nesta Noite”, entre outras. Em 1995, gravou a música “Lembra de Mim”, tema da novela “História de Amor”, de Manoel Carlos, que fez um enorme sucesso na TV Globo.
Ainda nos anos de 1980, Ivan Lins apresentou um programa na Rede Globo ao lado de Gonzaguinha e Aldir Blanc, o “Som Livre Exportação”, exatamente quando sua carreira internacional começava a avançar.
Apoio a novos artistas
Em 1991, também com Vítor Martins, fundou a gravadora Velas. Essa gravadora, totalmente nacional e independente, foi uma bem-sucedida tentativa para dar espaço aos novos talentos brasileiros. Nomes como Chico César, Lenine e Guinga tiveram apoio para iniciar as carreiras artísticas.
Trilha no cinema e no teatro
Ivan Lins é autor da trilha sonora dos filmes “Dois Córregos e Bens Confiscados” de Carlos Reichenbach, que ganhou Prêmio de Melhor Trilha Sonora no 3º Festival Luso-Brasileiro Santa Maria da Feira.
Em 2011, teve suas músicas reunidas no espetáculo de teatro musical “4 Faces do Amor”, escrito por Eduardo Bakr. Em 2016, esse espetáculo teve nova montagem. Ambas foram sucesso de público e crítica.
Mais de 80 álbuns e 400 canções
Poucos compositores brasileiros produziram tanto como Ivan Lins, que, ao longo de quase seis décadas, gravou 83 álbuns, reunindo mais de 400 canções. Alguns desses álbuns são considerados clássicos pela crítica, como “Intimate”, “Elias Regina & Ivan”, “ Piano e Voz”, “Believe What I Say: The Music of Ivan Lins”, “Ivan Lins e The Metropole Orchestra”, “ Um Novo Tempo” e “Jobiniando”.
“Jobiniando” é uma raridade no qual Ivan Lins homenageia o maestro soberano de todas as gerações, Antônio Carlos Jobim. Neste disco, Ivan Lins mostra toda a influência que recebeu do jazz, estilo que deu origem à Bossa Nova.
Respeitado em todo o mundo, Ivan Lins já arrancou elogios de revistas especializadas em música, como a edição norte-americana da “Rolling Stones”. Uma lenda sobre sua carreira foi tornada verdadeira recentemente, quando ele confirmou uma conversa por telefone com o rei do pop, Michael Jackson, que queria gravar uma de suas canções. Detalhe: quem ligou foi Michael. Não se concretizou porque Jackson morrera precocemente logo depois.
Bem, o Sistema de Comunicação Terceira Via encontrou um artista à altura de Erasmo Carlos, esse monstro sagrado da MPB, e vai comemorar seus 10 anos, no próximo dia 29, no Trianon, ao som de Ivan Lins, um dos maiores nomes da música brasileira.