Escrever um livro não é tarefa fácil e lançá-lo é ainda mais difícil. No entanto, 50 obras estão nascendo da 11ª Bienal do Livro de Campos, realizada pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL). Escritores locais foram selecionados e o público que participa da feira tem acesso, em primeira mão, a histórias fictícias e reais, algumas escritas e outras desenhadas à mão. Entre as novidades está o título “Rua”, do editor de quadrinhos e professor Rapha Pinheiro. Carioca, Rapha mora em Campos desde o início da pandemia, tempo em que se dedicou a focar na escrita que tinha começado ainda em 2019. A produção é uma “graphic novel”, tradução livre para novela gráfica, que significa um quadrinho fechado, um pouco mais grosso que o habitual e quando não é uma história em série. A feira, que tem mais de 250 mil exemplares para venda e exibição, foi aberta na quarta-feira (2) e segue até quarta-feira (9), com entrada franca.
“A ideia do livro veio na pandemia, quando comecei a produzir, mas não fiquei satisfeito com o desenho. Então, eu reiniciei os trabalhos em 2022. A impressão foi financiada pela plataforma Catarse. A campanha durou dois meses e superou as expectativas”, disse Rapha.
“Rua”
O livro “Rua” conta quatro histórias diferentes do cotidiano. Elas estão interligadas e se passam em uma rua do Rio de Janeiro, mas poderia ser em qualquer outro lugar do Brasil, com fios expostos e bicicletas amarradas. Neste cenário, a vida da comunidade acontece com destaque para duas mulheres que estão com a mãe doente; um rapaz que perdeu o emprego e busca solução; um jovem que sai de casa depois de brigar com os pais; uma criança que tem que ajudar nas despesas de casa, além de estudar, porque a mãe dele ficou desempregada. Assim como em todos os bairros, o de “Rua” também tem um gari responsável pela limpeza da comunidade. Ele guarda um mistério envolvente, desafiando a criatividade do leitor.
História de Campos e da Imprensa campista
Historiadora e coordenadora do Arquivo Público de Campos, Rafaela Machado reeditou duas obras históricas: “Subsídios para a história dos Campos dos Goytacazes”, do ano de 1900, escrita por Julio Feydit; e “Subsídio para a história da Imprensa de Campos”, escrita originalmente em 1927 pelo jornalista Teófilo Guimarães. “O primeiro está sendo relançado em parceria com o Instituto Histórico e Geográfico de Campos, Câmara Municipal de Campos e Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima. É um livro temático em que o autor conta a história das igrejas de Campos e as principais enchentes na cidade, por exemplo. Nesta nova edição, teremos novas imagens. Já o segundo é o livro mais completo com a história da Imprensa Campista. Teófilo se baseou em fatos de um século aproximadamente, entre os anos de 1830 até sua morte, em 1927, ano em que o livro foi publicado. Será uma nova edição que, para concluí-la, foi necessário restaurar a obra original, antes de digitalizá-la”, explica Rafaela.
Os dois livros serão lançados segunda-feira (7), na Bienal, em um total de 800 exemplares. Além disso, serão distribuídos em instituições culturais e espaços de leitura de Campos.
Mulheres revolucionárias de Campos
Ana Souza é autora de “Aventuras Femininas na Planície Goytacá”, obra que une o clássico e o contemporâneo com detalhes da riqueza histórica local e de mulheres revolucionárias. O livro retrata a vida de 16 mulheres campistas: Benta Pereira, Mariane Barreto, Donanna Pimenta, Mana Chica do Caboio, Finazinha Queiroz, Maria José, Lilia Silva, Édmea Regazzi, Jesy Barbosa, Bluma Brand, Nilze Teixeira, Mercedes Baptista, Suraya Chaloub, Thelma Silva, Zezé Motta e Indígena Catarina.
“A personagem principal se chama Maria, uma menina abandonada na porta de um orfanato na vila de São Salvador (nome que se dava antes de Campos ser elevada à categoria de cidade), em 1730. Catorze anos depois, essa menina é apadrinhada por uma mulher poderosa, que a ensina a lutar pelo que acredita e a ser perseverante. Após um tempo, ela é abençoada por uma deusa indígena, chamada Jaci, que a dá o dom de viajar no tempo. Ela então percorre pela história, ajudando mulheres a não desistirem do seu chamado. E cada uma dessas mulheres foram figuras que mudaram a história de Campos”, conta Ana.
E completa: “Mercedes Baptista foi a primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro; a Jesy Barbosa era cantora e foi a primeira mulher a gravar em grandes gravadoras do Rio de Janeiro; Nilze Teixeira foi a responsável por reerguer a história do chuvisco e tornar o que é hoje, um símbolo campista. E cada uma das outras mulheres tem a sua importância”.
“Oculta exuberância – Cemitério como Museus”
A obra foi escrita pela historiadora Sylvia Paes e acompanha um folder para visitas guiadas ao Cemitério do Caju, projeto que ela executa há vários anos com o objetivo de imortalizar a história que existe no espaço que é considerado o maior cemitério do interior do Estado do Rio de Janeiro. A obra será lançada neste domingo (6), a partir das 17h, no Café Literário da Bienal do Livro. Sylvia é co-autora de outros livros, principalmente infantis, como os seis da coleção Tô Chegando: “Conversa Fiada”, livro ilustrado por Alício Gomes, que aborda o universo das rendeiras e tecelãs da Baixada Campista; “Ururau Pançudo”, que conta a lenda do Ururau da Lapa; “Indiozinho Cratscá”, com informações sobre os indígenas goytacazes; “Rainha Ray’a”, sobre uma formiguinha gulosa que adora os tradicionais doces da culinária campista; “Chiquinha Faceira”, sobre uma negra chamada Francisca, que adorava dançar a Mana-Chica; e “O Mistério do Jongo”, no qual um preto-velho fala sobre a tradicional dança africana.
Bienal acontece de 2 a 9 de Novembro
A 11ª Bienal do Livro de Campos foi aberta no dia 2 de novembro, no Guarus Plaza Shopping. A data foi marcada por show da cantora Zélia Duncan, fruto de uma parceria com o SESC. Uma tenda-galpão de 1.200 metros quadrados foi montada no estacionamento do shopping, para exibição e venda de 250 mil obras literárias. Os livros ocupam as estantes de 19 editoras participantes, através da Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL).
“É importante resgatar o evento após dois anos de pandemia, dada a importância dos parceiros envolvidos, dos apoios e da equipe mobilizada. Fazer a bienal em Guarus é importante, porque essa parte da cidade precisa ser valorizada, a população gosta de ler, conhecer a história da cidade. Espero que seja um sucesso, afinal, todos se desdobraram para que a bienal fosse resgatada”, afirmou o prefeito Wladimir Garotinho durante o lançamento.
A presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), Auxiliadora Freitas, explica que essa bienal é uma retomada em torno do livro, da leitura, do conhecimento e do debate de ideias. “Posso dizer que nosso principal desejo nesta edição é resgatar a importância do livro como um instrumento transformador da nação. Vivemos um momento de polarização, em que a leitura precisa resistir com sua função agregadora e reveladora de novos mundos, fundamental para o fomento da Educação, da cidadania e da pluralidade de vozes que engrandecem verdadeiramente um país”, afirma.
A Bienal 2022 homenageia o Bicentenário da Independência e o Centenário da Semana de Arte Moderna. A programação completa pode ser acessada no site oficial da Prefeitura de Campos e no site do Jornal Terceira Via.
Área Nerd
Fora da tenda, a bienal ainda se estende para o segundo pavimento do shopping. No espaço é possível encontrar um público concentrado em jogos, quadrinhos, animações, filmes… São os nerds que, pela primeira vez, participam do evento, levando a Cultura Pop. No local ainda será possível assistir a concursos de Cosplay e K-POP que serão realizados neste domingo (6). O objetivo é dar visibilidade aos artistas locais.
Muitos já foram premiados em grandes eventos nacionais. O Beco dos Artistas, montado no espaço, conta com 15 artistas locais, entre quadrinistas, ilustradores, artistas plásticos, autores e designers gráficos.
“A intenção é oportunizar ao público local um pouco da experiência vivida por nós quando visitamos grandes eventos do segmento, no país e no exterior”, conta Caio Cardozo, membro da comissão de organização da área de Cultura Pop da Bienal, composta, também, por Pedro Paes e Rapha Pinheiro.