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Caminhos de D. Pedro II em Campos e região

Pesquisadores da Uenf recuperam parte da história do imperador no Norte Fluminense, preparam mapas e livro

Campos
Por Ocinei Trindade
25 de setembro de 2022 - 5h10

No ano em que se comemoram os 200 anos da Independência do Brasil, um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual do Norte Fluminense destaca alguns acontecimentos do último imperador, Pedro II, em Campos e região. O projeto “Implementação do Turismo Geológico Rural e Histórico-Cultural da Região Norte Fluminense”, iniciado em 2019, consta de uma pesquisa para divulgar os “Caminhos de Dom Pedro II no Norte da Província”. Parte desse levantamento já é divulgada no Instagram e no Facebook, no perfil “Caminhos Turísticos Fluminense”. Os estudiosos preparam mapas e roteiros por onde Pedro II passou nas quatro viagens entre 1847 e 1883. Um livro será lançado em 2023, com todo o conteúdo da pesquisa realizada.

A geóloga Maria da Glória Alves coordena uma equipe de 10 pesquisadores. Fazem parte geógrafos, assistente social, historiador, estudantes de engenharia civil e do ensino médio. Eles traçam os roteiros com mapas das quatro visitas do imperador na região. Esse material será apresentado na Semana de Extensão da Uenf, de 18 a 21 de outubro. A proposta é confeccionar mapas por onde Pedro II passou. O uso de tecnologia por meio de um QR Code também será disponibilizado. Tudo será transformado em fontes acadêmicas para novos pesquisadores sobre o período monárquico brasileiro.

“Desde o ano 2000, iniciamos projetos ligados ao geoturismo em Campos e cidades vizinhas. Há vários livros publicados sobre essas pesquisas, em parceria com a professora Simonne Teixeira, da Oficina de Estudos do Patrimônio Cultural, do Centro de Ciência do Homem. Este novo projeto de extensão funciona no Laboratório de Engenharia Civil e na Oficina de Geologia e Geoprocessamento da Uenf”, diz Maria da Glória. O turismo geológico é uma das paixões da pesquisadora Maria da Glória. Ela cita, por exemplo, a Serra do Itaoca, em Campos, como inspiração científica e turística. “Ali há um maciço com mais de 500 milhões de anos a ser analisado e divulgado como grande patrimônio local”, comenta.

Para resgatar as memórias e parte das históricas visitas de Pedro II a Campos dos Goytacazes e região, os pesquisadores recorreram a documentos da Biblioteca Nacional, além de transcrições dos diários pessoais do monarca, que fazem parte do acervo do Museu Imperial de Petrópolis. Livros recentes e raros também são referências para a criação dos roteiros e mapas preparados pela equipe da Uenf. Entre as obras estão “A Visita do Imperador”, de Eugênio Soares; “Dom Pedro II – a história não contada”, de Paulo Rezzutti; “Dom Pedro II na Planície Goitacá”, de Thalita de Oliveira Casadel, livro publicado em 1985 pela pesquisadora campista já falecida:

“Encontrei esta obra em um sebo carioca, totalmente fora de catálogo. Ela é muito importante como referência histórica, pois detalha muitas atividades de Pedro II em Campos, São João da Barra e São Fidélis”, diz Maria da Glória Alves.

Datas das visitas a Campos
No dia 20 de março de 1847, Pedro II embarcou com sua comitiva no Rio de Janeiro, no navio a vapor “São Salvador”, rumo ao Norte da Província. Há relatos que ela parou em Macaé para uma visita. De lá, seguiu para Campos de barco pelo canal Campos-Macaé. Um dos objetivos foi conhecer a grande obra de engenharia do recém-construído canal. Ele teria descido nas terras da Usina do Queimado, no dia 25 de março. A visita do imperador a Campos dos Goytacazes se estendeu a São João da Barra e a São Fidélis, em deslocamentos de barco pelo Rio Paraíba do Sul. Esta temporada durou 41 dias.

Antes de regressar ao Rio de Janeiro, no dia 15 de abril de 1847, Pedro II participou de diversas solenidades, jantares, missas, bailes e festas. Nos documentos, constam que integrantes da Lyra de Apollo, banda histórica de Campos, participaram dos festejos musicais. O imperador foi hospedado pelos barões de Muriaé, no antigo solar onde hoje funciona a sede do Corpo de Bombeiros; e na região de Sapucaia, no prédio do Solar da Baronesa, pertencente à Academia Brasileira de Letras, na atualidade.

Nas visitas seguintes, Pedro II veio acompanhado da esposa, a imperatriz Tereza Cristina. A segunda vinda a Campos se deu em 13 de junho de 1875, para o lançamento da pedra fundamental da estrada ferroviária Campos-Carangola. Ele passou pela fazenda da Usina do Limão, no distrito de Goytacazes; e pela Fazenda do Colégio, no distrito de Tócos.

Documentos registram que a terceira visita de Pedro II a Campos aconteceu em 22 e 23 de novembro de 1878, para a inauguração da Usina de Barcelos. A última vinda do imperador à cidade aconteceu no dia 24 de junho de 1883 para a inauguração da luz elétrica. Campos é pioneira na América Latina a contar com esse tipo de serviço. Pedro II e sua comitiva teriam embarcado no dia 22 em Porto das Caixas, em Itaboraí, parado em alguns lugares, antes de cumprirem compromissos em Campos.

“Os relatos dão conta de que ele era muito querido e festeiro. Caminhava a pé por vários pontos centrais da cidade, frequentava as Igrejas São Francisco, Mãe dos Homens e do Santíssimo Salvador. Segundo pesquisa da campista Thalita de Oliveira Casadel, o imperador costumava dar muitas esmolas aos pobres nos percursos. O uso do trem para as três últimas viagens passou a ser regular. Após a inauguração da energia elétrica em Campos, Pedro II não retornou mais a esta região”, cita Maria da Glória.

Integram a geógrafa Mirian Viana e os estudantes Paulo Victor e Paulo Henrique

Futuro da memória
A geógrafa Mirian Vianna cuida da parte de geoprocessamento e confecção de mapas por onde Dom Pedro II passou. Durante a pesquisa, ela diz que chamam a atenção os vários títulos de nobreza concedidos a barões e viscondes da região durante a vinda do imperador, as movimentações navais, ferroviárias e a cavalos. “Na primeira visita do monarca, em 1847, Campos se tornou capital do Império por 41 dias”, cita. Os estudantes de engenharia civil Paulo Henrique Soares e Paulo Victor Leal ajudam a alimentar as redes sociais do projeto com as pesquisas realizadas.

Nos documentos pesquisados por Maria da Glória Alves, uma forte atividade econômica no interior do Rio de Janeiro é destacada com prosperidade no futuro. “As informações enriquecem as opções culturais e o próprio registro histórico de Campos e região. Pedro II era considerado um homem de ciências, apaixonado pela pesquisa, cultura e pela natureza. Um homem poliglota e de inteligência apurada. Ler sobre Dom Pedro II é um reencontro com o passado e uma reflexão sobre o presente do Brasil”, conclui.