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Setembro Verde para incentivar a doação de órgãos em Campos

No Brasil ainda é grande a resistência das famílias para fazer a doação; a falta de informação é uma das principais causas

Geral
Por Mariane Pessanha
18 de setembro de 2022 - 0h05

Para muitas pessoas, setembro é apenas dedicado à conscientização do suicídio, pela cor amarela. Mas, não é bem assim. O mês também é lembrado para ressaltar o valor de se tornar um doador de órgãos e tecidos. A Campanha Setembro Verde foi criada pela Lei nº 15.643, de autoria de um deputado estadual de São Paulo e a cor foi escolhida por ser o símbolo mundial deste tipo de doação. Em Campos, o NF-Transplantes realizou, do início do ano até agora, sete captações, sendo seis córneas; três rins; seis fígados; tendões, ossos e pele. No ano passado, foram 10 autorizações. Ao todo, 10 córneas, seis fígados e 16 rins. A diferença entre captação e autorização é que, às vezes, a família autoriza, mas os órgãos podem ser clinicamente inviáveis ou o organismo do paciente pode parar antes da retirada.


O nefrologista João Carlos Borromeu explicou como é feito o processo de transplante no Estado do Rio de Janeiro. De acordo com ele, existe uma fila única, obedecendo a Lei do Sistema Nacional do Transplante, a 9.434. Essa fila fica na Central Estadual de Transplante, no Rio de Janeiro, sendo coordenada pela Secretaria Estadual de Saúde, na qual os pacientes se inscrevem e aguardam a doação do órgão de uma pessoa que venha a sofrer de uma morte encefálica, que é quando o cérebro para de funcionar. Mas o que é necessário para o paciente ser compatível com órgão doado? O especialista explica:
“O Transplante de órgãos tem que ter uma compatibilidade, primeiro pelo sistema sanguíneo ABO, ou seja, a fila é única, mas dividida pelo tipo de sangue, para não ter desigualdade na oferta do órgão para determinada pessoa, então, o tipo O recebe do tipo O; o tipo AB só recebe do AB e o A, apenas do A. Essa é a primeira seleção imunológica. A segunda, é por um sistema de histocompatibilidade, que consiste num teste imunológico que se faz para verificar os anticorpos de um e de outro, com os antígenos para evitar a rejeição do órgão. É um processo muito minucioso e muito sério porque são vidas que estão em jogo e tem a questão familiar, religiosa, que a gente tem que valorizar”, enfatiza o médico. Ele acrescenta que um doador pode beneficiar várias pessoas, podendo doar rim, coração, tecidos como córnea, pele e ossos.


Borromeu explica que no Brasil a recusa familiar para a doação ainda é muito grande e há três fatores principais: a falta de informação em relação à morte encefálica; o despreparo na hora de abordar a família, já que é um momento muito difícil e, por fim, as crenças religiosas.
“Existe um consenso de todas as autoridades religiosas de que quando há morte encefálica, é morte clínica, o cérebro, que comanda nosso corpo, nosso organismo, está sem função, sem circulação sanguínea. Então, o cérebro estando morto, é irreversível. Nesse momento é o milagre de fazer bem ao outro, de manter viva uma pessoa que está presa a uma hemodiálise ou que vai morrer dentro de horas porque o coração não funciona como deveria. É necessário que se fale sobre o assunto com a família. Lógico que ninguém imagina morrer, mas é importante dizer que você deseja ser um doador. Isso já é suficiente porque o familiar vai querer fazer a vontade daquela pessoa. No Brasil, o órgão só pode ser retirado quando a família autoriza”, ressalta Borromeu.

Dr. Borromeu

Abordagem ao familiar
O psicólogo no NF-Transplante, Luiz Antônio Cosmelli, diz que a entrevista a uma família de potencial doador(a) é realizada por equipe multiprofissional, e seus principais eixos referenciais são o respeito ao momento de perda da família.
“Abordar com carinho e assertividade, trabalhar os núcleos de generosidade dos familiares, e embora nosso objetivo seja o de conseguir órgãos e tecidos para transplante, consequentemente, salvar vidas, respeitar o desejo da família sobre o destino do corpo do seu ente querido… Esse processo exige treinamento, experiência e paciência sobre os objetivos pretendidos, tendo a humanização como pilar de qualquer abordagem”, conclui Cosmelli.

Psicólogo Luiz Antônio Cosmelli

SUS
O Brasil possui o maior programa público de transplante de órgãos e tecidos do mundo, que é garantido a toda população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), responsável pelo financiamento de cerca de 95% dos transplantes no país. Para vencer a diferença entre o número de pacientes na lista e o número de transplantes realizados, os especialistas ouvidos pela reportagem apontam que é importante conscientizar a população sobre todas as etapas do procedimento, que começa com o diagnóstico de morte encefálica de um potencial doador e termina na recuperação do paciente que recebeu um novo órgão.