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Cólica menstrual intensa pode ser sintoma de endometriose

A doença ainda é subestimada, segundo especialistas, mas ela pode interferir na qualidade de vida das mulheres

Saúde
Por Cíntia Barreto
28 de março de 2022 - 10h41
Dra. Suéllen Monteiro | Médica diz que a doença não tem cura, mas pode ser controlada

Para entender sobre a endometriose, primeiro é preciso falar do endométrio, que é o tecido que reveste a parte de dentro do útero. Quando as células do endométrio estão fora do útero, principalmente na pelve e cavidade abdominal, chama-se de endometriose. Mesmo pouco conhecida, é uma doença comum nas mulheres e seu diagnóstico pode demorar alguns meses ou até anos para ser confirmado.


A endometriose pode interferir significativamente na qualidade de vida de uma mulher e causar várias dificuldades em seu dia-a-dia, se não for diagnosticada e tratada corretamente. Segundo o Ministério da Saúde, a estimativa é de que uma a cada 10 mulheres sofra com os sintomas da doença e desconheça a sua existência. Em 2021, de acordo com o órgão, mais de 26 mil atendimentos foram feitos no Sistema Único de Saúde (SUS), e oito mil internações foram registradas na rede pública.

“É uma doença inflamatória crônica e, por isso, gera dor. O principal sintoma é a cólica menstrual, que piora no decorrer dos anos. Mas, existem outros sintomas que aparecem, dependendo de onde a doença se instala, como inchaço abdominal, dor na relação sexual, dor ao urinar, dor ao evacuar ou até mesmo sangramento ao evacuar, principalmente quando está relacionado ao período da menstruação. Além desses, a doença ainda pode causar outros sintomas”, explicou a  ginecologista Suéllen Monteiro.

A doença acomete cerca de 190 milhões de mulheres em todo mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda assim, pode-se dizer que a endometriose ainda é subestimada. Isso porque alguns sintomas da doença são vistos como “normais”, por isso é comum uma demora no diagnóstico, justamente porque os sinais nem sempre são investigados a fundo pelos médicos. Além disso, em geral, a população também ainda não tem conhecimento sobre a doença.

Camilla Azevedo

A professora Camilla Azevedo conhece bem as dores causadas pela endometriose, doença que ela cuida há mais de 10 anos. “Eu tinha muitas dores para fazer atividades do dia-a-dia, como sentar, por exemplo. Era como se eu estivesse levando pontadas por baixo. A relação sexual também era muito dolorosa. Além da menstruação desregulada e em quantidade excessiva. Meus sintomas começaram quando eu tinha 21 anos, mas só fui diagnosticada aos 24, quando passei a ser acompanhada por um profissional diferente do que me atendia”, contou Camila

Idade fértil
A ginecologista explica que a endometriose atinge 10% das mulheres na idade fértil. “Mas é importante destacar que ela não é sinônimo de infertilidade, ou seja, a paciente pode engravidar espontaneamente, porém, a mulher com endometriose tem uma dificuldade em engravidar de 47% a 50% de chance em relação à mulher sem a doença”, esclareceu Suéllen Monteiro.

A médica ainda traçou um perfil mais acometido pela endometriose: “Existem alguns estudos que mostram que a mulher branca, alta, magra, com índice corpóreo menor do que o ideal têm mais propensão de ter endometriose do que as outras. Já o perfil psicológico mais comum são de pacientes inquietas, menos tolerantes à dor e mais estressadas”, detalhou a doutora.

A endometriose não tem cura e o tratamento da doença varia de acordo com cada pessoa. O tratamento clínico, por exemplo, consiste em controlar a doença e melhorar os sintomas da paciente, melhorando, assim, a qualidade de vida dela.

Cirurgia

Em muitos casos, a cirurgia é indicada. “De uma forma geral, nós indicamos o procedimento cirúrgico quando a paciente tem uma dor crônica que não melhora com os outros tratamentos. Em pacientes que têm infertilidade, a operação é feita para aumentar em até 60% a chance de ela engravidar espontaneamente depois. A cirurgia também é indicada quando a endometriose atinge alguns órgãos nobres, como é o caso do intestino e bexiga, danificando a função desses órgãos. E também quando há progressão importante da doença ou endometrioma grande nos ovários”, explicou Dra Suéllen.

É o caso de Camilla, que precisou operar porque havia muita aderência em alguns de seus órgãos, como no intestino. “Todos eles precisaram ser retirados para passar por uma limpeza. E foi uma grande luta até eu operar porque os médicos primeiro diziam que o meu caso era medicamentoso, então tomei vários remédios caríssimos, cheios de efeitos colaterais e que não resolveram. Quando entenderam que meu caso era cirúrgico, me encaminharam para um hospital no Rio de Janeiro, porque disseram que meu caso era delicado”, contou a professora.

Fatores de risco

Alguns fatores contribuem para o surgimento da doença, como o genético. Segundo  Drª Suéllen, a filha de uma mulher que tem a doença possui chance de sete a oito vezes mais de ter a endometriose. Entretanto, outros aspectos ajudam no desenvolvimento da endometriose, como hábitos de vida não saudáveis: “Como é uma doença inflamatória, a dieta rica em alimentos inflamatórios, o hábito de fumar e a falta de atividade física pioram ainda mais a progressão da doença”, exemplificou a ginecologista.