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“Aventuras femininas na Planície Goytacá”

Jovem escritora Ana Souza, de 16 anos, lança livro sobre mulheres campistas que marcaram a história

Literatura
Por Gabriela Lessa
28 de março de 2022 - 0h03
Ana Souza e seu primeiro livro publicado – Fotos Carlos Grevi

A união do contemporâneo e o clássico, detalhes da riqueza histórica de Campos dos Goytacazes e um roteiro recheado de emoções, cultura e mulheres revolucionárias. Este é o livro “Aventuras femininas na Planície Goytacá”, que entrelaça a ficção à realidade, escrito por Ana Souza, que tem apenas 16 anos e já está lançando a sua primeira obra. Com data marcada para o dia 2 de abril, o lançamento acontecerá no Museu Histórico de Campos, às 18h, com um coquetel e arrecadação de alimentos para doação.

O livro retrata a história de 16 mulheres campistas que marcaram a trajetória da cidade, em meio a um roteiro emocionante, com traços fictícios.

“A personagem principal se chama Maria, uma menina abandonada na porta de um orfanato na vila de São Salvador (nome anterior ao atual, antes de Campos ser elevada à categoria de cidade), em 1730. Catorze anos depois, esta menina é apadrinhada por uma mulher poderosa, que a ensina a lutar pelo que acredita e a ser perseverante. Após um tempo, ela é abençoada por uma deusa indígena, chamada Jaci, que a dá o dom de viajar no tempo. Ela então percorre pela história, ajudando mulheres a não desistirem do seu chamado. E cada uma dessas mulheres foram figuras que mudaram a história de Campos”, conta.

De acordo com Ana Souza, a principal proposta é unir o contemporâneo ao clássico e apresentar ao público infanto-juvenil essas mulheres revolucionárias, reerguendo a história campista.

“Que esse livro possa comovê-los com fascínio e paixão pela história de Campos. Afinal, o que poderemos esperar de uma nação, um povo, que não sabe a própria história? A minha obra retrata a vida e luta das mulheres campistas, porque não são apenas mulheres, são processos de conquistas de territórios, de batalhas, de pensamentos e mentes que antigamente eram fechadas a determinados assuntos. O meu objetivo é ressignificar essas histórias e torná-las conhecidas”, fala.  

As 16 mulheres campistas retratadas são: Benta Pereira, Mariane Barreto, Donanna Pimenta, Mana Chica do Caboio, Finasinha Queiroz, Maria José, Lilia Silva, Édmea Regazzi, Jesy Barbosa, Bluma Brand, Nilze Teixeira, Mercedes Baptista, Suraya Chaloub, Thelma Silva, Zezé Motta e Indígena Catarina.  

“Mercedes Baptista foi a primeira bailarina negra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro; a Jesy Barbosa era cantora e foi a primeira mulher a gravar em grandes gravadoras do Rio de Janeiro; Nilze Teixeira foi a responsável por reerguer a história do chuvisco e tornar o que é hoje, um símbolo campista. E cada uma das outras mulheres tem a sua importância”, explica.

Processo criativo
O pontapé inicial para esta história tão rica teve início em 2020, após uma viagem cultural que Ana fez com a escola para a cidade de Vassouras, no centro-sul do Rio de Janeiro. “Essa cidade é riquíssima em história! Tem muitos pontos turísticos e os moradores amam a história do lugar. Ao observar isso tudo e me deparar com esse estilo de vida, eu me perguntei: e Campos, que tem uma história ainda mais rica? O que aconteceu com as memórias da nossa cidade e por que não falam sobre?”, relatou.

Ana explica que foi transformada por essa experiência e começou a pensar em como poderia mudar o olhar das pessoas sobre Campos. “Iniciei minhas pesquisas sobre o município e me apaixonei profundamente. O que mais me atraiu é o protagonismo feminino oculto na história. São muitas mulheres revolucionárias, como, por exemplo, Benta Pereira, que rendeu até frase na bandeira de Campos, que está escrito:

‘Até as mulheres aqui pelo direito lutam.’ E muitas pessoas não sabem desses elementos históricos. Ao longo do meu livro, são 16 mulheres retratadas. E ainda existem muitas outras, com histórias fascinantes, que mudaram a história de Campos e são desconhecidas por muitos”, disse.  

A escritora começou o seu livro no início de 2020 e passou por todo o período de pandemia criando. “Tive a oportunidade de poder contar com pessoas incríveis e historiadores que me ajudaram em minhas pesquisas, como a Graziela Escocard, a Sylvia Paes e o Genilson Pessanha. Grande parte do período criativo e de pesquisas foi em isolamento. Nesta pandemia, o tempo que passei em casa foi muito produtivo e o que, para muitos, foi perda de tempo, eu usei para me dedicar à minha obra. Foi um processo difícil, mas valeu a pena. Só de ver o livro pronto, me emociono”, desabafa.  

A luta de uma jovem escritora
Além de todas as mulheres retratadas em seu livro, Ana Souza também é uma batalhadora e já está fazendo a sua história. Durante entrevista para o Jornal Terceira Via, ela conta que não teve nenhum apoio financeiro para lançar a obra, mas não desistiu de realizar o seu sonho.

“Além do apoio e incentivo da minha família e amigos, eu não consegui apoio do Governo ou de Leis de incentivo devido à minha menoridade. Eu inscrevi o meu projeto e fiquei triste em ver outros projetos que não têm tanta significância cultural serem aprovados e o meu não por eu ser menor de idade. Então, toda a produção foi independente. Eu idealizei e produzi tudo, inclusive os detalhes do livro. Por exemplo, o roxo e o verde na capa têm um significado. O roxo é a união entre o azul e o vermelho, que representa a igualdade dos gêneros. E o verde é a esperança. Então, os dois representam a esperança na igualdade. Tudo foi pensado nos detalhes e eu espero que a história de Campos possa ser conhecida pelas próximas gerações”, finaliza.