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Cinemas de rua só na memória do campista

Número de salas em Campos, que chegou a quase 70, foi caindo, até não restar mais nenhuma

Cultura
Por Redação
1 de novembro de 2021 - 0h01
Cine Goytacá

Uma tradição pouco falada, mas ainda presente na memória afetiva de muitos campistas, é o cinema de rua. Na década de 1960, Campos dos Goytacazes chegou a contar com quase 70 salas de cinema de rua, mas esse número foi caindo, até que a última fechou no início dos anos 2000. O assunto foi tema de uma minuciosa pesquisa do professor de História e Geografia Joilson Bessa, que também é ator e poeta. A dissertação usou o recorte de tempo entre 1960 e 2010 e, segundo o pesquisador, este tipo de salas de exibição tinha grande adesão popular, sendo uma das principais fontes de entretenimento e cultura da época.

Os cinemas de rua são um modelo de salas de exibição caracterizado pela democratização do acesso à cultura, oferecendo ingressos a preços acessíveis, e por sua variedade de filmes em língua estrangeira de baixa circulação, e que geralmente não eram exibidos nas salas de cinema das grandes redes.

Memória do Cinema de Rua | Prof. Pesquisador Joilson Bessa exibe sua pesquisa sobre as salas de cinema de Campos (Foto: Carlos Grevi)

“A última sala de cinema de rua em nosso município foi fechada no início dos anos 2000, o Cine Capitólio; já o Cine Goitacá, local muito conhecido pelos campistas, foi a penúltima a ser fechada, em meados da década de 1990. Mas tínhamos muitas outras, que ajudavam a levar entretenimento aos campistas”, lembrou Bessa.

Ainda de acordo com o levantamento feito por Bessa, quase todos os distritos de Campos tinham cinema de rua, isso na década de 60. Um contraste e tanto com a atualidade, quando as 14 salas de cinemas da cidade estão concentradas em shoppings. Como exemplo de salas de exibição nos distritos, que ajudavam a democratizar a cultura, o pesquisador citou o Cine Morangaba, em Rio Preto; o Cine Correnteza, em Santo Amaro; e o Cine São Gonçalo, em Goitacazes.

Cine São José

“Eu consegui mapear 68 salas de cinema de rua em 1963 em Campos, e elas eram bem diferentes umas das outras. Mas vale ressaltar que, nesta época, os municípios de Cardoso Moreira e Italva ainda faziam parte de Campos dos Goytacazes”, ponderou.

Joilson ainda classificou a qualidade das salas de cinema de rua da época. “Na minha dissertação, eu classifiquei as salas como tipos A, B e C, pois levei em consideração critérios de localização, estrutura do prédio, o tipo de equipamento que eram utilizados para exibir os filmes, se eram aparelhos de 36 milímetros ou apenas 16, por exemplo; tudo isso interferia na qualidade das salas”, detalhou.

Cine Morangaba

Alguns desses locais, por exemplo, não contavam com aparelhos de exibição de filmes fixos. Os responsáveis por exibir os filmes levavam o equipamento até as salas para que, assim, as pessoas da localidade pudessem assistir aos filmes em cartaz.

“Com isso, eu qualifiquei essas salas sem aparelho fixo como tipo C. Já as salas mais completas, como por exemplo, Cine Goitacá, Cine São José, Cine Capitólio, Cine Guarus, Cine Nossa Senhora de Fátima, entre outras, que eram mais bem equipadas e continham sala de espera, banheiros, telão, cadeiras confortáveis, foram qualificadas como tipo A”, disse.

Cine Correnteza

Como na época não havia nenhum tipo de incentivo cultural para os cinemas de rua, Bessa destaca que as salas eram mantidas basicamente a partir do lucro da bilheteria.

De acordo o pesquisador, mesmo com toda tradição de cinema de rua em Campos, as salas desativadas estão deterioradas atualmente, e algumas foram modificadas.