Nesta terça-feira (06) completa dois anos da morte de João Gilberto – gênio modernizador da música brasileira e criador da Bossa Nova. Inserir João na condição de único, não é exagero. Afinal, entre tantos nomes que inovaram a música brasileira e a levaram além-fronteiras, só ele revolucionou a maneira de cantar, criou um novo estilo e uma batida diferente de tocar o violão.
O que ele inventou, tecnicamente falando, é difícil definir. Nas palavras do jornalista Mauro Ferreira, João colocou o jazz dentro do samba. “Ele minimizou a cadência do samba nas cordas do violão – na tal batida que depurou por anos”.
Então, mesmo considerando Ary Barroso outro gênio, João Gilberto era diferente. Era ele, terno e gravata; banquinho e violão. E só. Não bastasse ter criado a Bossa Nova, o baiano influenciou uma fila dos maiores nomes da MPB, entre eles Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Elis Regina, Djavan, Caetano Veloso e outros tantos.
Em 1958, ao lançar Chega de Saudades, João Gilberto deu os primeiros passos de uma carreira extraordinária e, como poucos, colocou a MPB no mapa-múndi. Excursionou pela Europa, apresentou-se em festivais do Canadá, Japão e Alemanha e morou por quase 20 anos em Nova York.
De volta ao Brasil, lotou todas as poucas apresentações que fez – nem sempre cumpriu os compromissos – era excêntrico, imprevisível e surpreendente. Era ele. Perfeccionista, intransigente para com a qualidade do som e o silêncio da plateia.
João Gilberto passou longe do que se entende por normal. Era gênio. E gênio não segue padrões, protocolos, rotinas, costumes, horários ou modismo. Se fosse diferente, não seria gênio.
Os últimos anos de vida lhe foram difíceis. Muitos processos, problemas familiares, interdição, perda do vigor físico e até despejo de onde morava. Foi viver na Gávea, num apartamento emprestado por um amigo.
De toda forma, como o Brasil não reconhece e não acolhe suas figuras mais ilustres, a indústria da música, as gravadoras, o segmento artístico, a televisão ou o governo não estenderam a mão àquele que deixa para o povo brasileiro legado artístico sem igual na história da música.
João Gilberto morreu aos 88 anos. Nasceu em Juazeiro, no interior da Bahia. Sua obra, contudo, mora no mundo.
(Abaixo, uma sequência de quatro fotos que de forma subjetiva e com alguma imaginação ilustra o temperamento e a insólita carreira do genial músico)