Pandemia, 2021. Apesar de funcionamento de shoppings, galerias, academias, supermercados, comércio de um modo geral, instituições e empresas, um segmento chama a atenção por não funcionar há exatos 13 meses, por causa da Covid-19. São os espaços públicos de lazer e ao ar livre, como o Jardim São Benedito e o Horto Municipal, em Campos. Embora grande parte da população já tenha se adaptado à rotina de cuidados para evitar o contágio da doença, até mesmo em locais fechados, e os governos estadual e municipal flexibilizem constantemente as restrições sociais, o direito da população ao acesso a estes locais está cerceado. Os motivos são explicados pela Prefeitura de Campos de forma simplista.
Sem opções, campistas estão usando a criatividade e adotaram o campus da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) para momentos de relaxamento, entretenimento, contato com a natureza e convívio familiar. Áreas verdes semelhantes a pequenos bosques no local são explorados para a prática de piqueniques e bate-papos e estão atraindo muitas curtidas e comentários nas redes sociais.
Frequentadora, Raquel Nunes ressalta os momentos de alegria e diversão com amigos. “Na falta de outros locais, eu e uma amiga fomos ao campus da Uenf e tivemos uma experiência muito agradável principalmente para mim, que quase não tenho saído de casa. O ambiente é extremamente agradável, seguro e limpo. Vimos muitas famílias, crianças e jovens como nós passeando no local. Foi uma tarde especial e com certeza vamos repetir o programa”, disse.
O Jornal Terceira Via percorreu também a avenida Arthur Bernardes e a orla do Rio Paraíba do Sul, em Guarus, para registrar a movimentação de pessoas praticando atividade física ao ar livre, já que as quadras esportivas do Jardim São Benedito e academia popular não podem ser frequentados. Até mesmo quem utilizava o entorno do jardim para caminhada e corrida está encontrando dificuldades por causa da sensação de abandono e a ocupação por pedintes e moradores de rua.
Margem do Rio Paraíba do Sul
O casal Núbia Rangel, de 44 anos e Jorge Soares, de 67, sai da região da Pelinca para práticas esportivas na avenida Francisco Lamego (Beira-Rio), o “outro lado” do Rio Paraíba do Sul, em Guarus. Eles costumam caminhar, correr e se alongar na pista existente na orla, adequada para estes fins. O espaço também é frequentado por famílias que levam bebês para tomar ar e banho de sol. Mas apesar de prestigiarem o espaço cercado por árvores, os frequentadores – assim como moradores – têm muito do que reclamar.
“Aqui é o local adequado para a prática de atividades físicas ao ar livre na cidade. Tem o ar fresco por causa do rio, das árvores e esta pista de caminhada e corrida. Mas, infelizmente, isso não é tudo. Há muitas fezes humanas e de animais espalhadas, muito lixo e entulho. O mau cheiro incomoda bastante. O ideal é que o poder público atue aqui, para melhorar estes problemas”, apela Núbia.
“Diferente da avenida Arthur Bernardes, aqui há pouca movimentação de carros, o que também nos fez escolher a Beira-Rio, em Guarus. Já que vamos praticar atividade física e melhorar a saúde, essas opções não combinam com respirarmos um ar poluído pela circulação de carros o tempo todo. Embora aqui não tenhamos este problema, nos deparamos com toda esta sujeira e situação de abandono”, lamentou Jorge.
O casal vai ao local de carro o que torna mais fácil escolher um trecho da orla com menos problemas. Eles costumam ficar entre as pontes Saturnino Braga (Lapa) e a Barcelos Martins (pedestre). No espaço entre as pontes Leonel Brizola e General Dutra, no entanto, há ainda mais reclamações.
“Quase não saio de casa porque o tráfico de drogas e a prática sexual na rua é comum por aqui, principalmente a noite e de madrugada. Mas durante o dia também é comum. Os usuários de droga transformaram uma parte da beira do rio em uma cracolândia”, informou uma moradora que preferiu não se identificar por medo de represálias.
Prefeitura de Campos se posiciona
Por meio de nota, a Prefeitura de Campos informou que o motivo do fechamento foi em cumprimento de decreto municipal que define o que será ou não aberto para evitar o contágio da Covid-19. No entanto, a prefeitura não disse o por que de ainda estarem fechados, mesmo com outras unidades – como academias – estarem com autorização para funcionar por força do mesmo decreto.
“A determinação do fechamento do Horto Municipal e do Jardim São Benedito é do decreto municipal que dispõe sobre o nível e a fase semanal que o município se encontra no Plano de Retomada de Atividade Econômicas e Sociais, como meio de combate à disseminação do Coronavírus. As restrições do decreto são definidas durante as reuniões do Gabinete de Crise de Combate à Covid-19. A reabertura das unidades depende do que ficar definido na próxima reunião, no dia 28 de junho”.
Sobre a Orla de Guarus, a Subsecretaria de Limpeza Pública informou que “a Avenida Francisco Lamego recebe intervenções periodicamente, com retirada de lixo descartado irregularmente pela população. Com relação aos quiosques, a Companhia de Desenvolvimento do Município de Campos (Codemca) esclarece que está buscando os permissionários para fazer um recadastramento e organizar a situação dos espaços”.