Exploração mineral | Atividade de maior ameaça à biodiversidade dos afloramentos rochosos (Fotos: Carlos Grevi)
Em tempos de pandemia, a busca por práticas esportivas ao ar livre tem despontado em Campos. Os destinos mais procurados são o Morro do Itaoca e a Lagoa Feia, evidenciados pelas postagens e compartilhamentos nas redes sociais. No entanto, a popularização desses espaços naturais gera uma sequência de desrespeito à natureza, seja por falta de conhecimento do usuário ou de informação pública.
Dayvid Couto | Cientista da UENF
Mas os olhares atentos dos cientistas às riquezas naturais identificaram também ameaças à biodiversidade. “É grande a destruição da vegetação rupestre pela indústria de mineração de rochas, que é muito forte na localidade e é apontada como a maior ameaça global à biodiversidade dos afloramentos rochosos”, disse o biólogo pós-doutorando, Dayvid Couto.
Igor Pinto | Gestor flagra desrespeitos
O gestor da APA, Igor Pinto, é credenciado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e pontua outras irregularidades flagradas na serra. “Acontece aqui o que eu chamo de ‘egoturismo’, em que as pessoas estão mais interessadas em criar eventos para se enriquecer, mas desmerecem a parte ecológica, que deve vir em primeiro lugar. Observo que o descarte de lixo é feito em qualquer lugar, não há limitação no número de visitantes, animais silvestres são alimentados irregularmente. Muitos são capturados e vendidos ilegalmente. Os funcionários são assediados pelo comércio ilegal de animais silvestres. A área sofre ainda com o impacto ambiental deixado pela emissão de gás carbônico, fruto da circulação indiscriminada de veículos”, relata.
Apaixonado por natureza, o gestor afirma que adverte os frequentadores quanto à consciência ambiental, à observação de placas de sinalização e o cumprimento às diretrizes do parque, mas muitos visitantes não respeitam as regras. “Visitantes costumam usar drogas no local, riscam caules de árvores, aceleram motos liberando partículas poluentes. Falta muita consciência”, lamenta.
Ecoturismo e esporte
Espécies catalogadas da fauna e flora
Animais e plantas raros habitam a Serra do Itaoca, entre eles o gato-mourisco, conhecido também como jaguatirica preta, uma espécie endêmica da região. Além disso, foram catalogados lagartos, macaco Bugi, borboletas e pássaros.
Dayvid Couto cita a pequena e raríssima Bromélia encontrada no local, descrita na década de 90. “Até onde sabemos, ela existe apenas no Morro do Itaoca, o que a torna uma espécie é endêmica desta localidade.
Violência | Animais mortos pelo homem
Outro ponto relevante é a ocorrência de espécies ameaçadas de extinção presentes no local, como Hippeastrum striatum, Wunderlichia azulensis e Coleocephalocereus fluminensis, todas classificadas em uma das categorias de maior ameaça de extinção”.
Risco de extinção |Hippeastrum stritum
Segundo Dayvid, a presença de espécies ameaçadas, raras e endêmicas é reconhecida como um indicador prioritário para a criação de áreas protegidas em todo o mundo. “Então, devemos todos – pesquisadores, sociedade civil e poder público – zelar e agir para que este rico patrimônio ambiental não seja perdido para que as futuras gerações possam desfrutar das belezas e dos serviços ambientais prestados por essas espécies”, alerta.
Origem
Conscientização ambiental | Visitantes são orientados a respeitarem a natureza
O nome Itaoca tem origem tupi e significa Casa de Pedra. A Serra do Itaoca é considerada um dos pontos mais altos de Campos, conhecido como a Planície Goytacá por causa da habitação de índios Goytacazes. A história retrata que durante o período de cheia que tornava a cidade alagadiça, os índios se refugiavam na Serra do Itaoca, que possui 417 metros de altura.
Preservação | Um dos maiores desafios para quem depende da lagoa
Mas é no trecho distante quase 30 km do Centro de Campos que a lagoa é mais frequentada, principalmente por esportistas que praticam ciclismo. Uma obra do poder público chegou a ser iniciada à margem da lagoa há cerca de 10 anos para construção de quiosques e área de convivência. Mas tamanha irregularidade foi embargada pela Justiça e pelo Ibama.