Praça do IPS | Sem grades, Igreja Nossa Senhora de Fátima está em área pública pertencente ao município e luta por mais segurança (Foto: Carlos Grevi)
Antes consideradas intocadas como tudo que é sagrado, hoje, as igrejas são cada vez mais alvos de crimes, vandalismo e assaltos. Em Campos, poucos templos resistem ainda sem os recursos de cercas, grades e muros que garantem mais segurança. A Igreja Nossa Senhora de Fátima, que fica no bairro IPS, é uma delas. Está localizada bem no meio de uma praça e comunga de um espaço que serve como centro de convivência para realização de eventos, festas religiosas e lazer de crianças e idosos. Todas as igrejas católicas nasceram assim, em seu projeto original, mas, com o passar do tempo, a paz que reinava absoluta nestes espaços já não é mais sentida em sua totalidade e a maior parte delas foi obrigada a se refugiar atrás de grades.
Assim como o Santuário Diocesano de Adoração, localizada na Praça Tiradentes, a Igreja Nossa Senhora de Fátima não pode cercar a área porque o espaço ao redor pertence à Prefeitura de Campos. Outra que ainda persiste sem proteção externa é a Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, no Parque Imperial. Construída também no meio de uma praça, e próxima a quiosques, é nesse mesmo local que famílias se reúnem aos fins de semana.
Segundo a Diocese, não há um número exato de quantas igrejas já foram cercadas no município. Nem mesmo a Catedral Diocesana, no coração do Centro de Campos, escapou desta medida de proteção.
Uma medida, que a princípio pode ser considerada por alguns como drástica, foi adotada recentemente pela Paróquia São Benedito: a construção de um muro com grades em toda área ao redor da igreja. Mas esta não é a primeira vez que esse tipo de ação é feita. Pelo contrário, a Paróquia São Benedito, que é proprietária do espaço no seu entorno, é uma das poucas do município que ainda não era cercada.
Com número cada vez maior de igrejas cercadas, o Bispo Dom Roberto Ferrería Paz, da Diocese de Campos, comentou o assunto. “Nós acreditamos que em uma sociedade cristã, o cercamento das igrejas não seria necessário, mas isso não se sustenta. Não somos uma sociedade cristã e é preciso o resguardo dos bens patrimoniais e das pessoas. Um muro tem essa finalidade. Não separar ou segregar pessoas, mas criar um espaço de segurança. É necessário que a gente tenha segurança. O que queremos é o bem comum e o bem comum pertence a todos”.
São Benedito | Paróquia começou obra para cercar o redor
O cercamento da Paróquia São Benedito
Segundo o padre Walas Maciel da Silva, responsável pela Paróquia São Benedito, o cercamento não é motivado apenas pela presença de pessoas em situação de rua e usuários de entorpecentes. Há também a preocupação com a preservação da igreja como patrimônio histórico do município.
“Cercar a igreja sempre foi um desejo da comunidade que se preocupa também em preservar a construção. Queremos poder utilizar este espaço ao redor da igreja, que nos pertence, em segurança com atividades ao ar livre”, explicou.
Embora haja uma série de motivos para a obra ao redor da Paróquia São Benedito, os relatos que envolvem a falta de segurança são destacados. “Há uns três anos, depois que impedimos o uso dos nossos banheiros por estas pessoas em situação de rua, por motivo de vandalismo, foi desencadeada uma série de atos de desrespeito por parte de que vive aqui no espaço externo da igreja. Já entraram aqui com revólver e ameaçaram um funcionário e eu também já fui ameaçado com uma faca. Além disso, é frequente a gente ver cenas de sexo e uso de drogas aqui perto da porta da igreja. Todos nós nos sentimos coagidos”, desabafou o padre.
Falta de segurança
A falta de segurança nas proximidades das igrejas não é um problema apenas da Paróquia São Benedito. Porém, segundo a Polícia Militar, os transtornos geralmente são causados pela presença constante de pessoas em situação de rua.
“Estas pessoas que vivem ao redor das igrejas sabem que ali conseguem obter recursos financeiros para sobreviver e a gente sabe que algumas delas trazem riscos e transtornos. O que fazemos como rotina semanal é abordar essas pessoas para verificar antecedente criminal e saber se eles têm alguma arma ou produtos de furto”, explicou o comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar, Tenente-coronel Luiz Henrique Monteiro.
Porém, ainda segundo o comandante, a ação da polícia não é suficiente. “O que deve ser feito é uma ação para um atendimento social. Já solicitamos isso várias vezes na gestão passada, mas não houve solução. Não é apenas um problema da polícia. Essas pessoas têm seus direitos e não podemos chegar lá como policiais e simplesmente mandá-las embora”, destacou.
Prefeitura afirma fazer trabalho diário
Questionada pela reportagem, em nota a Prefeitura de Campos comentou o assunto: “A Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social esclarece que as equipes multidisciplinares fazem as abordagens diariamente às pessoas em situação de rua. Na última terça-feira (19), a população no entorno da Paróquia São Benedito foi convidada para receber os atendimentos necessários, alimentação e serem acolhidos na Casa de Passagem ou algum dos equipamentos institucionais mantidos pela prefeitura, entre eles, o Centro de Referência para População em Situação de Rua (Centro Pop), que funciona nos finais de semana”, afirmou a nota.
Ainda segundo a prefeitura, o poder público não pode obrigar, forçar ou coagir estas pessoas a saírem das ruas.
Convento | Padre levou facada nas costas dentro do Convento em 2018
Casos de violência
Os casos de violência, furtos e outros crimes ao redor das igrejas já é um problema antigo em Campos. Várias paróquias, capelas e até mesmo os padres já passaram por situações de risco.
São Benedito – Além dos casos de vandalismo e ameaças, a Paróquia São Benedito também já foi furtada. O caso ocorreu há quatro meses, em setembro de 2020. Homens não identificados cortaram e levaram fios de cobre do gerador usado pela igreja.
Convento – Em agosto de 2018, o padre Élio da Silva Athayde foi esfaqueado dentro do santuário, que fica no bairro Parque Rosário. Ele foi abordado por um morador de rua que o pediu dinheiro. Ao se negar e virar as costas, levou a facada que o atingiu no pulmão e, por pouco, também não feriu o coração. O padre chegou a ficar internado, mas se recuperou bem da violência. No mesmo ano, em setembro, o santuário teve sua loja de artigos religiosos roubada por um homem armado que assaltou o local em uma manhã de setembro.
Guandu – A Capela Nossa Senhora da Penha, na localidade de Guandu, no distrito de Travessão, teve as grades de uma janela arrancadas durante um furto em outubro de 2020. Os criminosos levaram caixa de som, ventiladores e uma mesa.
Tócos – A Igreja Nossa Senhora da Penha, no distrito de Tócos, na Baixada Campista, teve as portas arrombadas em julho de 2019. Armários foram revirados e vários objetos foram encontrados no chão. Os criminosos levaram uma quantia de dinheiro não divulgada.
Conselheiro Josino – Também em julho de 2019, a Igreja Matriz de Cristo Ressuscitado e Nossa Senhora da Penha, em Conselheiro Josino, foi furtada. Além de levar as coroas das imagens, os assaltantes também reviraram os armários.
Parque São Silvestre – Suspeitos reviraram a sacristia da Capela São Bartolomeu e derrubaram objetos sagrados, incluindo o sacrário (onde as hóstias são guardadas). O caso também aconteceu em 2019.