O escritor norte-americano Stephen King sempre disse que uma criança, cega de nascença, só sabe de sua cegueira se alguém lhe contar.
Nos dias atuais percebo que a pior cegueira humana tem sido a falta de visão crítica que, a meu ver, está fazendo com que o fanatismo escureça o discernimento.
Movidos por uma cólera inacreditável, parcela considerável da população resolveu não mais dialogar. A troca salutar de ideias e de pensamentos foi deixada de lado e a besta fera adormecida está vagando pelo mundo, solta e desenfreada.
Mocinhos se tornam bandidos apenas por não serem adeptos ao que o outro pensa ou espera do mundo. O triângulo é odiado pelos retangulares e os quadrados pelos circulares. Ódio mortal, tá? Sabem por quê? A cegueira, caro leitor, a cegueira!
A cegueira que se alastra pelos diálogos traz no seu recheio a carência, que não deixa de ser parte integrante da cegueira, pois faz milhares de pessoas se agarrarem a qualquer coisa. Aí, para fechar a janela do contraditório e jogar a chave fora, é um pulo.
A cegueira, além do recheio da carência, acima dito, tem bordas enormes de arrogância. Um certo ar de dono de todas as falas e retóricas é a forma tradicional daquele cego arrogante que perdeu o dom de ouvir e agora é apenas um mero repassador das informações que lhe alimentam. Uma espécie de rio sem oxigênio e totalmente fora da rota que poderia lhe fazer chegar ao mar.
A selvageria trazida por esse fenômeno de cegueira tem potencial corrosivo nas relações familiares, conjugais e sociais. Não há mais espírito de benevolência ou de respeito. Discordou do cego, pau na moleira!
Aqui vai uma tristeza! A cegueira não permite que se possa enxergar com os olhos do coração, ou seja, o órgão campeão de poemas e amores está fadado a ser desprezado pela cegueira carente e arrogante vigente, incorporada em uma considerável massa popular.
Estou assustado! Parece que os campos estão ficando cada vez mais minados e os jardins do pensamento livre e respeitoso, cheios de minas terrestres prontas para explodir o diálogo franco e plural.
Tu és cego? Diz que não, por favor!