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Secretário de Educação, Brand Arenari reafirma “cinema na escola”

Brand garante que verba para educação em 2018 é maior que em 2017 e investirá em insumos e obras

Campos
Por Redação
4 de fevereiro de 2018 - 0h01

brand-arenari-silvana-rust-45Depois que o último passageiro pisou na plataforma de embarque, nos anos 1980, a Estação Leopoldina abrigou escola e igreja. Embora a ferrovia seja, hoje, história em Campos, o movimento ainda é intenso naquele prédio. Desde 2010, funciona ali a Secretaria Municipal de Educação. A escolha pode ter sido prática, mas tem um aspecto simbólico: é por ali que continua passando o futuro da cidade. E com o peso da expectativa para que seja promissor, o secretário Brand Arenari retomou o comando da pasta no início da semana.

O secretário de Educação precisou se afastar por cinco meses após ser nomeado, em janeiro. Foi convocado para assumir a vaga de professor adjunto no Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF) de Niterói, para a qual passou em primeiro lugar em um concurso realizado em 2016. “Como é dedicação exclusiva, precisava estar lá durante esse período. Após seis meses, o prefeito Rafael Diniz solicitou a cessão à universidade, que foi concedida pelos órgãos federais”, explica.

Durante o tempo em que esteve afastado, Brand foi substituído interinamente pelo subsecretário pedagógico Rafael Damasceno, cujo trabalho acompanhou “como um cidadão”. “Às vezes você tem que comandar um pelotão. Às vezes, caminhar na linha de frente, como um soldado raso”, compara.

Metáforas

A metáfora é a primeira de outras tantas que Brand usa para descrever o desafio enfrentado pela Educação e pela Prefeitura de Campos, diante do que chama “caos generalizado” deixado pela gestão Rosinha Garotinho.

“Hoje, vivemos o inverno, e ninguém tem abrigo, porque no passado, ninguém fez nada para isso. Então, é um trabalho de formiga, para que, quando o frio volte, tenhamos onde nos refugiar”.

Objetivamente, Arenari crava: “Nosso desafio mais duradouro é criar uma máquina pública eficiente. É preciso reorganizar a administração, a prestação de contas, a gestão da coisa pública. E a gente está fazendo, mas não é o tipo de coisa que aparece a olho nu”.

O trabalho é de desbravador diante do que Brand Arenari qualifica como “buraco negro”: “Não se faz política pública sem dados. E nós estamos criando uma base de dados que vai permitir a implantação de diversas políticas públicas no futuro. Quem vier depois, não vai ter que abrir picada no mato”, planeja.

Há, ainda, resultados mais visíveis, diz o secretário. “Tocamos a Secretaria durante um ano só com verbas federais. Fizemos a Olimpíada Municipal de Matemática e, no mesmo ano, tivemos resultado: foram nove menções honrosas aos nossos alunos. Aderimos a programas de aceleração de alfabetização; atacamos um dos maiores problemas do município, que é a distorção idade- série; implantamos o EJA profissionalizante, inclusive para alunos do Ensino Fundamental; e mudamos nosso sistema de avaliação pedagógica. Além disso, reformamos oito escolas e levamos merenda para o Cestiac depois de quatro anos”, enumera.

Polêmicas

Entre a contabilidade dos frutos dos esforços seus e de Damasceno, Brand Arenari não se esquiva de polêmicas. Entre elas, o Projeto Cinema na Escola. Recentemente, o “Jornal Online Terceira Via” noticiou o resultado de um pregão para registro de preço de 40 sessões para até mil espectadores, direcionadas a alunos da rede municipal de ensino e comunidade. O valor total pode chegar a R$ 640 mil, e parece vultoso diante dos problemas do município, como falta de manutenção de praças e jardins, de medicamentos e insumos em unidades de saúde, e de iluminação pública em bairros.

Mas, para o secretário, a reclamação deveria ser outra: “Vocês tiraram R$ 40 milhões do que era gasto com livros; vocês cortaram R$ 2 milhões em bolsas para alunos de escolas privadas que não precisavam; cortaram um sistema de gestão que custava R$ 300 mil por mês e só vão gastar até R$ 640 mil no único projeto pedagógico que vocês têm? Meu medo era que a crítica fosse essa”.

Brand afirma que a “verba é federal, carimbada, destinada à Educação”; e o projeto é “muito mais barato” que o do Estado do Rio de Janeiro, no qual é baseado. “O cinema não é o fim, mas o instrumento de um projeto pedagógico. Não se trata de mera exibição de filmes. Queremos atingir aquilo que não é tratado diretamente no currículo. Vamos abordar violência, nutrição, aprendizagem e a família monoparental. Esperamos que seja um grande estímulo para eles”, avalia.

A estrutura do projeto cinematográfico inclui caminhão, mil cadeiras, iluminação e gerador, em “uma estrutura de cinema”, além de avaliação pedagógica. “Não é algo que inventamos. É um modelo que já existe”.

Na internet, a publicação da matéria sobre o projeto suscitou reclamações de leitores a respeito da falta de infraestrutura e de insumos básicos nas escolas, como folhas para mimeógrafo. Brand Arenari garante que a sociedade não ficará sem respostas. “Temos, em 2018, um orçamento ligeiramente maior do que no ano passado, e poderemos começar a fazer alguma coisa. Serão quase R$ 20 milhões aplicados em obras de manutenção e reforma este ano, e R$ 8 milhões em insumos”.

Reconstrução

A caminho da sala onde a entrevista foi concedida, a equipe de reportagem de “O Jornal Terceira Via” atravessou corredores repletos de mobília. Elas foram retiradas de cômodos que passam por um lento processo de reforma. A “obrinha de igreja”, como descreve Brand, é um esforço lento e contínuo. “Não temos ramal. Quando precisamos falar com alguém, temos que gritar. Tudo o que nós herdamos é abaixo da dignidade. Nosso desempenho é abaixo da dignidade. Em quatro anos, nós não vamos fazer a melhor Secretaria de Educação do Brasil, como é o sonho de todos nós. Mas, as coisas já melhoraram”, diagnostica.

De todas as metáforas, a sede da Educação é a maior. “Nossa infraestrutura física é o retrato da nossa infraestrutura espiritual. As condições do prédio em que trabalhamos e dos de algumas escolas — caindo aos pedaços, com rato e infestação — revelam tudo o que foi dado à educação. É o exemplo do que se fazia.

O prédio é nossa metáfora. A reconstrução de cada momento aqui dentro é reconstrução lá pra fora. A gente espera que, no final desta jornada, tenhamos um prédio apresentável. E que ele seja um reflexo do que queremos para a Educação de Campos”.