Se permite a analogia, a Rodoviária Roberto Silveira, popularmente conhecida como “Rodoviária Velha”, pode ser considerada a “Torre de Babel campista”. Isso porque, bem como na história da edificação mencionada no livro Gênesis, da Bíblia, em que os indivíduos que se dedicavam à construção tão alta que levaria ao céu, foram destinados a pronunciar diferentes línguas, dando início a uma confusão que resultou na descontinuidade da tarefa; o espaço, em Campos, abriga gente de toda raça, credo, gênero, faixa etária, ideologia e situação socioeconômica. Há, ali, uma miscelânea da massa popular que poderia inspirar um interessante estudo antropológico. Desse terminal — que na década de 60, quando foi inaugurado, era o segundo maior do país — partem e chegam pessoas com diferentes ofícios, incumbências e propósitos e para/de diferentes destinos: da capital do Estado, Região dos Lagos, Espírito Santo e São Paulo, até Beira do Taí, Mundeus, Dores e Ponto Pergunta. A Rodoviária Roberto Silveira é a janela na qual se vê a diversidade existente no município de Campos.
“Estou aqui há mais de 30 anos, você sabia? Dia e noite. Já vi de tudo nesse lugar. Já vi gente passando mal, gente levando facada, gente sendo assaltada…Se você tá querendo ver movimento, pode vir para cá, porque aqui não falta!”, contou o ambulante José Carlos de Oliveira, de 59 anos. Ele disse ainda que vende pipoca para “todo mundo”: desde aqueles que estão à espera do transporte, até quem está ali só de passagem. “Não sei dizer quantas pessoas vêm por aqui todos os dias, mas é muita gente. Muita gente mesmo! A rodoviária é o centrão da cidade, né. Até quem não precisa de ônibus, acaba zanzando por aqui uma vezinha ou outra. A rodoviária velha é a cara de Campos”, declarou o ambulante.
A pluralidade é tanta que há quem sinta medo de caminhar por ali. É o caso da professora Maria do Rosário Souza, de 48 anos. Segundo ela, é preciso certa atenção e até mesmo coragem para se embrenhar em meio aos caos — mais ou menos ordenado — em que se instaura a rodoviária do Centro. “Temos que ficar de olho na bolsa, não dá para ficar mexendo no celular… Hoje, todo lugar é perigoso, mas aqui é muito. Principalmente à noite”, alertou. Outros, não se incomodam com o desalinho. Ao contrário, gostam dele. “Ah… Eu acho que a rodoviária velha é um lugar que reflete bem a cidade. Gosto de passar por aqui, observar essa agitação… É interessante porque conseguimos ter uma ideia de quão grande é Campos”, atentou o biólogo Matheus Almeida Manhães, de 29 anos. “É bom vir ao Centro; é uma forma de exercitar a tolerância”, concluiu.
Quem conhece o município de Campos há mais de 10 anos lembra bem como era a Rodoviária Roberto Silveira. Se hoje o espaço já desperta estranhamento, em um passado próximo, o sentimento era ainda mais contundente. Em dezembro de 2010, durante o mandato temporário de Nelson Nahin, a prefeitura concluiu as obras do espaço, como parte do processo de revitalização da área central da cidade. O terminal ganhou novas instalações hidráulicas e elétricas, novo sistema de esgoto, sete quiosques, 26 lojas, cabine de segurança da Polícia
Militar e da Guarda Civil, Posto dos Correios, piso tátil para orientação de deficientes visuais, novos guichês para venda de passagens, banheiros adaptados e elevador para cadeirantes, e novas longarinas também substituíram as antigas cadeiras que estavam no local.
SERVIÇOS
A rodoviária velha é um espaço tão diversificado e importante para a população de Campos que importantes órgãos oficiais funcionam ali. A Secretaria Municipal de Governo, a Superintendência de Paz e Defesa Social e o Espaço da Oportunidade estão situados nos altos do terminal.
HISTÓRIA
A Estação Rodoviária Roberto Silveira foi inaugurada pelo ex-prefeito, José Alves de Azevedo, no dia 28 de março de 1962; o terminal era tão importante para os munícipes que o espaço foi aberto ao público no dia do aniversário da cidade de Campos. O custo do terminal aos cofres públicos foi elevado: 50 milhões de cruzeiros, mas, à época, parecia valer a pena: era a maior rodoviária do Brasil, perdendo apenas para a de São Paulo.
O nome — Roberto Silveira — é o mesmo do terminal de Niterói e foi dado em homenagem ao jornalista e político nascido em Bom Jesus do Itabapoana, Roberto Teixeira da Silveira, que atuou como deputado estadual e governador do Rio de Janeiro nas décadas de 1940 e 1950, e morreu em um acidente de avião em Para firmar a condecoração, o irmão do homenageado, o então ministro do Tribunal de Contas do estado, Badger da Silveira.