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A Central do Brasil de Campos

Ponto de partida e de chegada, a Rodoviária Roberto Silveira é a síntese da diversidade entre o urbano e o rural A Central do Brasil de Campos

Campos
Por Redação
10 de dezembro de 2017 - 0h01
Foto: Carlos Grevi

Foto: Carlos Grevi

Se permite a analogia, a Rodoviária Roberto Silveira, popularmente conhecida como “Rodoviária Velha”, pode ser considerada a “Torre de Babel campista”. Isso porque, bem como na história da edificação mencionada no livro Gênesis, da Bíblia, em que os indivíduos que se dedicavam à construção tão alta que levaria ao céu, foram destinados a pronunciar diferentes línguas, dando início a uma confusão que resultou na descontinuidade da tarefa; o espaço, em Campos, abriga gente de toda raça, credo, gênero, faixa etária, ideologia e situação socioeconômica. Há, ali, uma miscelânea da massa popular que poderia inspirar um interessante estudo antropológico. Desse terminal — que na década de 60, quando foi inaugurado, era o segundo maior do país — partem e chegam pessoas com diferentes ofícios, incumbências e propósitos e para/de diferentes destinos: da capital do Estado, Região dos Lagos, Espírito Santo e São Paulo, até Beira do Taí, Mundeus, Dores e Ponto Pergunta. A Rodoviária Roberto Silveira é a janela na qual se vê a diversidade existente no município de Campos.

ha4b5114Bastam poucos minutos no local para observar o alvoroço e  a multiculturalidade. Ambulantes vendendo salgados, doces, picolés ou artesanato. Gente com malas de viagem, mochilas, sacolas de supermercado, trouxas de pano ou equilibrando bandejas na cabeça. Empresários de terno, crianças descalças, estudantes de uniforme, mulheres à espera, homens de camisa aberta, idosos de chapéu. Motoristas à espera de passageiros, almoçando, jogando no celular, conversando entre si. “Papagaios” inquietos oferecendo vagas no transporte alternativo, atendentes entediados nos guichês, taxistas ansiosos pelo ganha-pão. Pastores pregando a palavra de Deus, malandros batendo carteira, mendigos pedindo esmola, tresloucados em desvario. Há quem sente nas cadeiras, há quem sente no chão, há aqueles que preferem ficar de pé e os que não conseguem ficar parados. A polifonia também se faz presente: são muitos os sotaques ali pronunciados, aos gritos ou sussurros. Em resumo, não há lógica que fundamente a organização da rodoviária em questão.

“Estou aqui há mais de 30 anos, você sabia? Dia e noite. Já vi de tudo nesse lugar. Já vi gente passando mal, gente levando facada, gente sendo assaltada…Se você tá querendo ver movimento, pode vir para cá, porque aqui não falta!”, contou o ambulante José Carlos de Oliveira, de 59 anos. Ele disse ainda que vende pipoca para “todo mundo”: desde aqueles que estão à espera do transporte, até quem está ali só de passagem. “Não sei dizer quantas pessoas vêm por aqui todos os dias, mas é muita gente. Muita gente mesmo! A rodoviária é o centrão da cidade, né. Até quem não precisa de ônibus, acaba zanzando por aqui uma vezinha ou outra. A rodoviária velha é a cara de Campos”, declarou o ambulante.

A pluralidade é tanta que há quem sinta medo de caminhar por ali. É o caso da professora Maria do Rosário Souza, de 48 anos. Segundo ela, é preciso certa atenção e até mesmo coragem para se embrenhar em meio aos caos — mais ou menos ordenado — em que se instaura a rodoviária do Centro. “Temos que ficar de olho na bolsa, não dá para ficar mexendo no celular… Hoje, todo lugar é perigoso, mas aqui é muito. Principalmente à noite”, alertou. Outros, não se incomodam com o desalinho. Ao contrário, gostam dele. “Ah… Eu acho que a rodoviária velha é um lugar que reflete bem a cidade. Gosto de passar por aqui, observar essa agitação… É interessante porque conseguimos ter uma ideia de quão grande é Campos”, atentou o biólogo Matheus Almeida Manhães, de 29 anos. “É bom vir ao Centro; é uma forma de exercitar a tolerância”, concluiu.

ha4b4967OBRAS

Quem conhece o município de Campos há mais de 10 anos lembra bem como era a Rodoviária Roberto Silveira. Se hoje o espaço já desperta estranhamento, em um passado próximo, o sentimento era ainda mais contundente. Em dezembro de 2010, durante o mandato temporário de Nelson Nahin, a prefeitura concluiu as obras do espaço, como parte do processo de revitalização da área central da cidade. O terminal ganhou novas instalações hidráulicas e elétricas, novo sistema de esgoto, sete quiosques, 26 lojas, cabine de segurança da Polícia

Militar e da Guarda Civil, Posto dos Correios, piso tátil para orientação de deficientes visuais, novos guichês para venda de passagens, banheiros adaptados e elevador para cadeirantes, e novas longarinas também substituíram as antigas cadeiras que estavam no local.

SERVIÇOS

A rodoviária velha é um espaço tão diversificado e importante para a população de Campos que importantes órgãos oficiais funcionam ali. A Secretaria Municipal de Governo, a Superintendência de Paz e Defesa Social e o Espaço da Oportunidade estão situados nos altos do terminal.

HISTÓRIA

A Estação Rodoviária Roberto Silveira foi inaugurada pelo ex-prefeito, José Alves de Azevedo, no dia 28 de março de 1962; o terminal era tão importante para os munícipes que o espaço foi aberto ao público no dia do aniversário da cidade de Campos. O custo do terminal aos cofres públicos foi elevado: 50 milhões de cruzeiros, mas, à época, parecia valer a pena: era a maior rodoviária do Brasil, perdendo apenas para a de São Paulo.

O nome — Roberto Silveira — é o mesmo do terminal de Niterói e foi dado em homenagem ao jornalista e político nascido em Bom Jesus do Itabapoana, Roberto Teixeira da Silveira, que atuou como deputado estadual e governador do Rio de Janeiro nas décadas de 1940 e 1950, e morreu em um acidente de avião em Para firmar a condecoração, o irmão do homenageado, o então ministro do Tribunal de Contas do estado, Badger da Silveira.

ha4b5084A Companhia de Desenvolvimento do Município de Campos, a Codmeca, fez um levantamento para o Jornal Terceira Via e constatou que até 4 mil pessoas passam pela Rodoviária Roberto Silveira, diariamente. São pessoas de Campos e também de outros municípios e localidades que, a partir dali, conseguem chegar aos seus destinos. Segundo um balanço da Codemca, do local, saem 140 partidas todos os dias para vários distritos e localidades de Campos, além de saírem transportes para outros municípios também, como São João da Barra, Bom Jesus do Itabapoana, entre outros. A Codemca informou que para o ano de 2018, a intenção é promover a revitalização da Rodoviária Roberto Silveira e o entorno dela, com o objetivo de harmonizar o ambiente da Rodoviária, junto à Praça da República.