Cerca de 700 ilhas localizadas no Vale do Paraíba, a maioria no leito do Rio Paraíba, correm o risco de desaparecer. Isso acontecerá se as hidrelétricas previstas para a área forem construídas. Como as ilhas, também podem ser instintos alguns tipos de peixes típicos da região. Documentos técnicos já foram enviados as autoridades do Governo do Estado do Rio, órgão ambientais e até um abaixo-assinado eletrônico foi encaminhado ao Palácio Guanabara.
O alerta foi dado pela Rede de Ongs da Mata Atlântica lançando a campanha, “Não afoguem as ilhas do Paraíba”. Para a Rede, a falta de consciência na utilização dos recursos hídricos no Vale do Paraíba, chegou a um ponto crítico. Além da devastação ambiental resultante do crescimento urbano descontrolado e o abandono da Região Noroeste do Estado do Rio pelas políticas públicas, grandes corporações, aproveitando-se da carência das comunidades ribeirinhas, vêm explorar ainda mais sob a bandeira de um falso desenvolvimento, justificando a extinção do maior arquipélago fluvial do Estado (Domínio das Ilhas Fluviais) com argumentos de geração de emprego e renda inconsistentes, comprometendo a integridade desse importante recurso hídrico.
A construção de três hidrelétricas (Itaocara, Barra do Pomba e Cambuci) no leito do Rio Paraíba do Sul será, segundo a Rede de Ongs, um golpe fatal sobre a fauna e flora da região, o que terá impacto sério nas comunidades tradicionais ligadas à pesca. Estudo da Rede mostra que espécies ameaçadas de extinção, como o cágado-do-Paraíba (Mesoclemmyshogei), único quelônio de água doce brasileiro ameaçado de extinção; as espécies de peixes piabanha (Bryconinsignis), o surubim-do-Paraíba (Steindacheneridionparahybae) (endêmico da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul), o caximbau-boi (Pogonopomaparahybae), o crustáceo lagosta-de-São Fidélis (Macrobachiumcarcinus), que ainda ocorrem no domínio das Ilhas, estarão comprometidas com risco de extinção.
“Tais ocorrências ainda são possíveis, pois ainda existe um significativo trecho do Rio ainda não interrompido por barragens hidrelétricas possibilitando assim, áreas de alimentação, abrigo e reprodução para estas espécies. Este importante trecho contínuo, ou seja, não fragmentado, está situado entre a Usina Hidrelé- trica Ilha dos Pombos, em Além Paraíba – MG, e a foz do Rio Paraíba do Sul, em São João da Barra – RJ. Exatamente igual a todos os outros empreendimentos hidrelétricos, uma vez implantados, ocorrerá um significativo desarranjo na composição da fauna aquática o que comprometerá a sobrevivência de muitas espécies vegetais e animais”, afirma um trecho do documento elaborado pela Rede.
acquire dopoxetine Danos vão além do desaparecimento de ilhas
A instalação de novas hidrelétricas ao longo do Paraíba, que já sofre com inúmeros pontos de represamento de água em seu leito, é uma preocupação dos ambientalistas, conforme ressalta Aristides Soffiati. Em sua análise, o rio não comporta novas hidrelétricas e barragens. Para o especialista no assunto, os danos ao rio causados por esses empreendimentos não parariam apenas no desaparecimento das ilhas, mas afetaria fauna e flora.
“O Rio Paraíba do Sul sofre com inúmeros problemas, sendo que os principais são transposição de água e pontos de represamento, como barragens. Só na transposição para o Rio Guandu, o Paraíba perde dois terços de sua vazão. Desta forma, o rio não suportaria novas hidrelétricas”, ressaltou o ambientalista.
Ainda segundo Soffiati, a fauna e a flora que compõem o ecossistema do Paraíba estão cada vez mais empobrecidas. Ele aponta que os caminhos que levam à recuperação do rio passam por preservar as lagoas que existem e revitalizar outras que secaram, além de reflorestamento das margens. “Essas ações surtiriam efeito em médio e longo prazos”, alertou.
Rio agoniza
O despejo de esgoto, o assoreamento de suas margens, as barragens e as transposições estão tirando a força do velho rio, cuja bacia, com área de 62.851 km2, impacta diretamente a vida de milhões de pessoas em 184 municí- pios dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. O diretor-presidente do Comitê do Baixo Paraíba, João Siqueira, denuncia que, com o leito enfraquecido, o mar tem avançado cerca de 8km Paraíba adentro. Este fenômeno é chamado de intrusão salina e, até poucos anos atrás, sua média não passava de um quilômetro.
“Atualmente, o maior problema enfrentado pelo Paraíba em nossa região é a retirada de água do seu leito, seja por meio de barragens ou pontos de transposição. Isso, juntamente com a falta de chuva, tem causado a seca do rio. Por sua vez, a seca do Paraíba tem ocasionado também a seca dos outros rios e lagos do entorno, já que a água deles acaba drenada pelo lençol freático. Sem falar no processo de salinização dessas águas. Até o poço que o pequeno agricultor usa para matar a sede dos animais e irrigar a plantação estão mais salobras. E esse excesso de sódio prejudica a agricultura e até os manguezais”, alertou Siqueira.
Sob risco
O documento elaborado pela Rede de Ongs da Mata Atlântica acrescenta que além do desaparecimento das espécies animais, vegetais e a atividade artesanal, será extinta uma das mais belas paisagens do Rio Paraíba do Sul: as corredeiras com suas belas ilhas fluviais. A beleza natural deste trecho, o Domínio das Ilhas Fluviais, tem um potencial turístico imenso, até então não explorado. Ainda segundo a Rede, a justificativa para esse impacto ambiental é a geração de emprego para as comunidades da área de influência das três hidrelétricas. A Ong ressalta, porém, que esses empregos não serão disponibilizados todos ao mesmo tempo, mas sim, de forma escalonada respeitando o cronograma de execução do empreendimento. Como em todos os empreendimentos hidrelétricos, uma vez funcionando, estarão disponíveis apenas 20 a 30 empregos em cada hidrelétrica.
“Se considerarmos a classe pescadora dos municípios fluminenses Carmo, Cantagalo, Santo Antônio de Pádua, Aperibé, Cambuci e São Fidélis, e dos municípios mineiros Pirapetinga, Volta Grande e Estrela Dalva serão aproximadamente 600 pescadores, que vivem parcialmente e integralmente do pescado, que terão suas receitas drasticamente diminuídas. Trocar 30 por 600 será esta a matemática socioambiental que resolverá os problemas da região noroeste fluminense? Será este o modelo de sustentabilidade que precisamos?”, observa o documento da Rede.
Audiência Pública na Alerj
No início desta semana, a Comissão de Representação em Defesa do Rio Paraíba do Sul da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) vai promover uma audiência pública para tratar da baixa vazão do principal rio do estado em sua foz, no Norte do estado, abordando causas, consequências e possíveis soluções. Entre os principais temas a serem discutidos estão o avanço da água do mar para dentro do rio, as dificuldades da captação de água doce para o abastecimento das cidades da região, os impactos sobre a pesca e o turismo. Presidida pelo deputado estadual Dr. Julianelli, a comissão vai ouvir especialistas e lideranças locais.
O evento contará também com a participação do Comitê de Bacia Hidrográfica do Baixo Paraíba e do Fórum Fluminense de Comitês de Bacias Hidrográficas e prefeitos da região. “Esta é uma grande oportunidade para conhecer as diferentes visões do problema por parte dos diversos segmentos atuantes na região e, a partir daí, contribuir para a implantação das medidas mais pertinentes”, afirmou o deputado.