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Passageiros do caos

Uma gama de problemas transforma o transporte público de Campos em um verdadeiro inferno e a solução pede passagem

Campos
Por Redação
12 de fevereiro de 2017 - 7h00

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Apesar de pagar uma tarifa “simbólica”, os usuários do transporte coletivo de Campos enfrentam inúmeros problemas há anos. Com a licitação do transporte público, em 2014, a população campista achou que todos os problemas do setor estariam resolvidos. O passageiro continua pagando R$ 1 pela passagem, porém a lista de reclamações dos usuários inclui a insatisfação com a qualidade, o descumprimento de horários, a insegurança, o desconforto e o insuficiente número de ônibus. No final das contas, o que salva a locomoção do campista é o transporte alternativo, que custa o dobro da passagem social. Porém, oferece agilidade e frota suficiente para atender à população.

Desde 2015, os rodoviários não sabem o que é receber em dia. Os empresários alegam que a prefeitura não repassa a verba do Campos Cidadão em tempo hábil para que o pagamento dos funcionários seja pago até o 5º dia útil. Dessa forma, motoristas e cobradores paralisam as atividades rotineiramente como forma de protesto à falta de pagamento. E quem fica a pé, literalmente, é o passageiro. Entre as reclamações dos usuários do transporte coletivo, longos períodos de espera pelo ônibus e veículos com excesso de passageiros ganham em disparada.

A Associação Nacional de Transporte Públicos (ANTP) não estabelece um número ideal de ônibus para cada determinado número de habitantes. O quantitativo da frota dependerá de um conjunto de fatores, como a quantidade de passageiros, onde eles estão localizados, a que horas o sistema precisa atender mais pessoas, quantos semáforos por quilômetro existem e qual é a frequência desejada de passagem nos pontos. Além disso, a velocidade operacional dos ônibus interfere diretamente no número de viagens.

O problema é que o tempo gasto pelo ônibus é o dobro do tempo gasto por um carro, por exemplo, no mesmo percurso, explica o professor universitário e doutor em Engenharia de Transportes, Douglas Barreiro.

“Na Avenida 28 de Março, às 18h, a velocidade dos ônibus não chega a 20 km/h, e o ideal é que essa velocidade fique entre 30 e 40 km/h. Se isso acontecesse, o sistema de transporte coletivo seria atrativo e proporcionaria à migração do transporte individual para o transporte coletivo”, destaca.

“Os ônibus parecem que não têm um horário definido e temos que ficar no ponto esperando horas. Quando (o ônibus) finalmente chega, já há centenas de pessoas esperando. As empresas deveriam colocar mais ônibus nas linhas, porque a gente sai do trabalho cansado e ainda tem que enfrentar a superlotação dos coletivos”, sugere a vendedora Daiana Gomes. Ela mora no Jardim Carioca e trabalha em uma loja do Centro.

“Se você olhar um ônibus pelo lado de fora, a impressão é que as pessoas são verdadeiras sardinhas enlatadas”, compara Marcos Correia, morador de Goitacazes. Ele, assim como a maioria dos usuários, acha um absurdo o serviço de má qualidade que é oferecido pelas empresas de Campos.

Outro usuário descontente com o transporte coletivo é o deficiente físico Damião Ribeiro. “Eu tenho gratuidade nos ônibus. Já nas vans, não tenho. Para economizar, aguardo pelos coletivos. Mas, normalmente, eles vêm superlotados. Além disso, quem está sentado não cede mais o lugar para deficientes ou idosos. A realidade do transporte de Campos é desanimadora”, avalia Damião que mora em Ponta da Lama.

 

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Em maio de 2014, a Prefeitura de Campos promoveu uma licitação para o processo de concessão da exploração e da prestação do serviço de transporte coletivo de passageiros do município, onde três consórcios saíram vencedores. Os valores definidos ficaram entre R$ 2,75 e R$ 2,65. A diferença é paga às empresas pela prefeitura, como acontece desde a implantação do Programa Campos Cidadão, em 2009.

No entanto, a crise no setor foi além dos passageiros e alcançou as empresas vencedoras do processo, homologado em outubro de 2014. O serviço de transporte coletivo da cidade é feito por sete empresas divididas em três consórcios: Planície, União e Rogil. Oficialmente a informação é de que a frota disponibilizada para atender a população é de 293 ônibus. O processo licitatório previa 383 ônibus em circulação até janeiro de 2016. Portanto, são menos 90 coletivos à disposição da população.

De acordo com o presidente do Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT), Renato Siqueira, a idade média da frota é de 5,8 anos. 78% da frota tem acessibilidade e somente 10% dispõe de ar-condicionado. Segundo o despachante de uma empresa de ônibus – que teve a identidade preservada – a realidade é completamente oposta à apresentada pelo presidente do IMTT.

“Os ônibus são velhos e muito rodados. O que as empresas fazem é dar uma ‘repaginada’, como nova pintura e um bom serviço de lanternagem. A maioria (dos ônibus) tem acessibilidade. Porém, os funcionários desconhecem o uso. Ou, ainda, o equipamento não funciona. E quanto ao ar-condicionado, somente uma empresa tem alguns ônibus com esse conforto. Ainda assim, é uma linha que leva a um shopping da cidade. Ou seja, privilegia uma parte dos usuários”.

 

Transporte alternativo é o que “salva” os passageiros

Em janeiro de 2011, a então Empresa Municipal de Transportes (Emut), hoje, IMTT, liberou as autorizações provisórias aos pretensos permissionários de Serviço de Transporte Alternativo no Município (Setamp). Na época, 260 veículos obtiveram autorização para circular, de acordo, com a qualidade e capacidade dos carros.

Os permissionários possuem pontos fixos e oficiais. As permissões para os proprietários têm validade de cinco anos, renováveis por mais cinco. O presidente do IMTT classifica o transporte alternativo como “de caráter complementar”.

“Ônibus têm as suas vantagens. Rotas e categorias de usuários que estes (ônibus) atendem, sobretudo as localidades mais distantes de Campos, como Deserto, Batatal e Opinião, onde o alternativo (transporte complementar) não vai. Há de se destacar também, o atendimento da gratuidade observada nos ônibus”.

Atualmente, além das vans, os passageiros contam com os “carrinhos”: veículos de passeio que também transportam passageiros. Esta categoria ainda busca a legalização do serviço. O motorista Fábio Crespo disse que a categoria espera a compreensão das autoridades, uma vez que as lotadas também têm colaborado com o transporte público da cidade.

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Segundo o professor universitário e doutor em Engenharia de Transportes, Douglas Barreiro, o terminal deveria ser um local de embarque somente. Além de oferecer apoio aos usuários do transporte coletivo, motoristas e cobradores. Mas, a realidade é outra. Os banheiros são sujos, com paredes pichadas, sem portas, sem iluminação e fétidos. Os bebedouros não funcionam e ambulantes disputam espaço com os passageiros.

De acordo com o presidente do IMTT, há o propósito de desmobilizar o terminal Luiz Carlos Prestes, em razão de sua estrutura pouco adequada para o atendimento das necessidades do transporte coletivo e, em especial, as dos cidadãos.

“A possibilidade de concretizar este projeto, caminhará com o amadurecimento dos debates que incluirão o Plano de Mobilidade Urbana (PLMU), onde será planejada esta ação, não necessariamente depois da elaboração do PLMU, entendendo que primeiro há de ser desenvolvido o projeto executivo com todos os parâmetros para a sua execução”.

Nely Tavares – moradora de Tocos

“Os maiores problemas são a lotação dos ônibus e dos poucos veículos em horário de pico disponível para os usuários. É impossível entrar no ônibus no horário dos estudantes. Temos que esperar outro coletivo que demora demais, e ainda assim, vamos ‘embalados a vácuo’ de tanta gente”.

cheap lioresal Marcos Correia – morador de Goitacazes

“Trabalho aqui no ponto de ônibus há dois meses e, nesse tempo, pude observar o sofrimento de quem depende do transporte público. São horas de espera por um ônibus. São cinco vans para cada um ônibus”.

Damião Ribeiro – morador de Saturnino Braga

“Sou deficiente físico e tenho gratuidade no transporte coletivo. Mas, de que adianta a gratuidade, se não tem ônibus? Na van, eu pago passagem. Não tem essa de isenção, não. Se tiver um compromisso no Centro, tenho que sair de casa com horas de antecedência”.