A mesma pergunta foi feita aos comerciantes formais e informais nas praias de Grussaí e Atafona, em São João da Barra: “Como vocês avaliam o Verão 2017?”. A resposta também foi unânime: “É o pior dos últimos 20 anos”. Nos locais onde costumava haver festa durante toda a semana, até a última sexta-feira (20), o que se via era um “marasmo”, calmaria pouco comum nesta época do ano. Para reaver os ânimos do comércio e dos veranistas, a prefeita Carla Machado anunciou uma série de shows no Balneário de Atafona, no entanto, aquele que seria o maior problema, ainda não parece haver solução: a crise econômica que diminuiu o poder de compra da população. Em Campos, a situação também não é diferente: pouca procura nas pousadas e hotéis, bares e restaurantes vazios e, até o momento, nenhum show local ou nacional anunciado.
“Quem costumava gastar R$ 100 em uma tarde de verão, hoje gasta R$ 20”. A informação é de um dos mais tradicionais comerciantes de Atafona. Nelson de Souza abriu o seu restaurante no litoral de São João da Barra há 25 anos e, segundo ele, esse é, sem dúvidas, o mais difícil. Ele, que costumava contratar cerca de dez funcionários nos meses de janeiro e fevereiro, nos primeiros dias de 2017 precisou demitir oito. “Esse restaurante já chegou a contar mais de 40 cozinheiros e garçons, mas agora temos menos de dez. As famílias que costumavam pedir três pratos diferentes, agora pedem um para dividir entre seis pessoas, e as bebidas, muitos costumam trazer de casa. Para este ano, eu já não tenho expectativas. O que resta agora é tentar sobreviver e torcer para que o próximo verão seja melhor”, lamentou.
Nelson reclama do abandono nas praias do município. Para ele, a falta de estrutura nas orlas é o principal motivo para a baixa procura dos turistas. “Aqueles que ainda têm dinheiro para gastar, não querem vir para Atafona ou Grussaí. Eles procuram as praias da Região dos Lagos, porque lá existe, de fato, um investimento pesado em turismo, o que não acontece aqui em SJB. Nós já desistimos de esperar que o público de fora venha para cá, então nos dedicamos a trazer ao menos os campistas, mas até mesmo quem conhece o charme do nosso litoral, tem optado por outros cantos devido à falta de atrativos”, afirmou.
Pousadas
A baixa procura também se estende nas casas de estadia. A centenária Pousada Cassino, referência em Atafona, não tem sequer um hóspede neste mês de janeiro e as poucas reservas são para o período do Carnaval. “Quando vocês tocaram a campainha, meu coração se encheu de esperanças, porque já faz tempo que alguém bate aqui procurando um quarto. Para conseguir manter a pousada, nós abrimos o espaço para shows de pagode e sertanejo aos sábados e domingos, mas são poucos os que dormem por aqui após a festa. Para fevereiro, temos poucos interessados, mas, como dizem, a esperança é a última que morre”, contou um dos funcionários, Aruam Galaxe, à equipe de reportagem do Jornal Terceira Via.
Polo Gastronômico de Grussaí
Inaugurado há cinco anos, o Polo Gastronômico também está sentindo os efeitos da crise. O Terceira Via conversou com gerentes de três quiosques e todos disseram o mesmo: nunca as vendas estiveram tão baixas. “Antes as pessoas tinham dinheiro para gastar, agora aqueles que ainda vêm às praias, preferem ir ao supermercado e fazer a própria comida. Aos sábados e domingos a situação melhora um pouco, mas nem se compara com o movimento dos primeiros anos após da inauguração. Isso aqui lotava, hoje dá para contar nos dedos as mesas ocupadas durante toda a semana”, disse Maria do Carmo dos Santos, funcionária do Quiosque do Cigano.
Quanto à falta de shows e trios elétricos em Grussaí, Maria do Carmo disse que esse não é o principal motivo para a queda nas vendas. “O problema é que as pessoas não têm dinheiro. Muitos vêm às praias, mas evitam gastar. Então, para o comércio, não adianta. Além disso, o horário dos shows anunciados no Balneário também não vai ajudar os comerciantes do Polo Gastronômico porque não funcionamos à noite e quem está em Atafona, dificilmente vem consumir em Grussaí. E shows grandes podem atrapalhar mais do que ajudar, porque muita gente vem fazer bagunça e não contribui com o comércio”, alegou.
Praias
Os comerciantes das praias também reclamaram do movimento neste mês de janeiro. Vendedores de água de coco e de salgados disseram nunca ter vendido tão pouco. Já os que alugam cadeiras e barracas, diminuíram de 10 para seis guarda-sóis neste verão. “O movimento está devagar, quase parando. Quem vive de verão, deve está passando dificuldades, porque as vendas deste ano não vão permitir fazer um pé de meia para os próximos meses. Está difícil trabalhar nas praias nos dias úteis, às vezes compensa mais vir só nos fins de semana porque de segunda a sexta, às vezes, fazemos pouco mais de R$ 100, o que nem se compara com o lucro que tínhamos nos últimos anos”, afirmou o vendedor de cocos, Adriano Barreto.
Veranistas
Para quem foi curtir o verão no litoral de São João da Barra, ver as praias vazias é um ponto positivo. A dona de casa Cristina Vilar mora em Rio das Ostras e neste verão decidiu fugir da “bagunça” na Região dos Lagos e se refugiou na casa da família em Chapéu do Sol. Ela disse que, quando soube que o verão de 2017 teria poucas atrações em SJB, teve a certeza que queria ir para lá. “Eu não sou muito fã de bagunça. Gosto de tomar minha cervejinha e pegar um sol com tranquilidade. Praia sem lugar para estender minha canga, trio elétrico e shows lotados não me atraem. Para mim, essas férias não poderiam ser melhores”, disse.
O casal Arnaldo e Maria Auxiliadora Matos veio do Rio de Janeiro à procura de tranquilidade neste verão. Eles não conheciam o litoral de São João da Barra, mas receberam a dica de um vizinho que tem casa em Atafona. “Nós comentamos que queríamos ir para um lugar diferente e mais em conta e ele disse para virmos para cá. Foi uma ótima escolha porque estamos adorando a tranquilidade e a paz que esse lugar proporciona. Não sabíamos que a praia costumava encher nos outros anos, mas que bom que escolhemos vir logo agora”, brincou Maria.
Shows no Balneário
Começou no sábado (21) a programação do Verão Balneário 2017, em Atafona. O Governo Municipal buscou parcerias com a iniciativa privada para manter a programação que já é uma tradição do lugar. Os shows nacionais vão acontecer até o final de semana anterior ao Carnaval, no final de fevereiro e entre as atrações há músicos como Arlindo Cruz, Preta Gil, além das bandas Imaginasamba, Celebrare e Melanina Carioca.
Segundo a Prefeitura, essa programação irá gerar renda para mais de 60 ambulantes que estarão alocados no Balneário. “Além da gratuidade nos shows, também proporcionamos condições aos comerciantes de não pagar pelo espaço e terem o menor risco possível no negócio”, disse a prefeita Carla Machado.
Farol de São Thomé
Em Campos, a Prefeitura ainda não comentou a respeito da possibilidade de contratar músicos locais ou nacionais para animar o verão na praia do Farol de São Thomé. Por enquanto, o Governo optou por uma programação voltada às famílias no estante situado na Avenida Atlântica. O espaço foi aberto no sábado (21) com piscina para crianças, entre outras atividades esportivas, culturais e turísticas. Nos finais de semana também haverá distribuição de mudas de árvores nativas e frutíferas e passeios ecológico no Parque Estadual da Lagoa do Açu (Pelag).
Entre essas atividades previstas estão: quebra-cabeça cultural; jogo de perguntas e respostas sobre o turismo de Campos; exposição de quadros antigos e vídeos; artesanato, etc. Neste domingo, haverá apresentação de whelling (manobras radicais com moto em baixa velocidade) com a “Equipe Sem Limites”, do Louro Jhow. “Louro Jhow é campeão brasileiro, um dos ícones do whelling com vários títulos”, afirmou o diretor de Turismo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Júnior Lucena.