Cirurgias inéditas e inovadoras no Hospital Dr. Beda, em Campos dos Goytacazes, são realizadas frequentemente. A médica oftalmologista Helen Espirito Santo e sua equipe participaram de recentes procedimentos. Ela explicou ao J3News sobre o Preserflo, solução inovadora para o tratamento do glaucoma. Trata-se de um microdispositivo implantável de drenagem minimamente invasivo, com recuperação mais rápida e maiores chances de redução da pressão intraocular. Boa parte dos pacientes submetidos a essa técnica permanece livre de medicação por um longo período.
Helen Espírito Santo é formada há 32 anos pela EMESCAM/ES. Possui com residência e pós-graduação no CEPOA/PUC-Rio. Trabalhou no Hospital de Ipanema e Hospital Souza Aguiar, no Rio de Janeiro, por muitos anos. Ela é especialista em cirurgias de córnea, catarata (com e sem laser), cirurgias refrativas de miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia, além de cirurgias de glaucoma e MIGS.
Como a senhora definiria o glaucoma e por que ele representa um desafio tão grande para a saúde ocular?
O glaucoma é uma patologia perigosa por ser silenciosa e reduzir lentamente o campo visual de forma irreversível. Quando o paciente percebe dificuldades no dia a dia, já existe perda significativa da visão periférica, sem sinais ou sintomas aparentes.
O que se destaca nas cirurgias no Hospital Dr. Beda em termos de tecnologia e tratamento?
Essas cirurgias são inéditas na região. O Preserflo é um microdispositivo implantável de drenagem minimamente invasivo, que proporciona recuperação mais rápida e maiores chances de redução da pressão intraocular. Grande parte dos pacientes submetidos a essa técnica permanece livre de medicação por longo período.
Como a nanotecnologia é aplicada nesse tipo de cirurgia oftalmológica?
O Preserflo não é uma nanotecnologia, e sim um microdispositivo implantável de forma minimamente invasiva, característico das cirurgias MIGS. Existe também o iStent, que é uma nanotecnologia utilizada com o mesmo objetivo, e que estamos trazendo para Campos.
Quais são as principais vantagens dessa técnica em comparação aos métodos tradicionais?
A principal vantagem em relação à cirurgia tradicional do glaucoma é a rápida recuperação, devido à abordagem minimamente invasiva, com menos riscos tanto durante o procedimento quanto no pós-operatório.
Existe um perfil de paciente específico que se beneficia mais dessa inovação?
Sim. Cada tecnologia tem aplicabilidade específica, que deve ser avaliada por um cirurgião oftalmológico experiente e familiarizado com essas técnicas.
Em que estágio da doença o procedimento é indicado?
O tratamento cirúrgico do glaucoma é indicado quando o paciente não consegue manter o tratamento clínico com colírios, que podem ser caros, ou quando os medicamentos tópicos não são mais eficazes na redução da pressão intraocular, colocando o paciente em risco de perda do campo visual e até cegueira. A técnica cirúrgica mais adequada é escolhida de acordo com o caso de cada paciente.
Essa técnica garante resultados mais duradouros ou reduz riscos de complicações?
Por ser uma cirurgia MIGS, os riscos de complicações são muito menores, e a recuperação é extremamente rápida. Os resultados são duradouros, embora não exista garantia absoluta em cirurgias de glaucoma. Em casos raros, pode ser necessário reposicionar ou desobstruir o dispositivo, mas de forma geral, o procedimento é seguro e minimiza riscos.
A senhora já realizou cirurgias semelhantes anteriormente ou essa foi sua primeira experiência com esse recurso no hospital?
Em Campos e região, essas cirurgias são inéditas. Tenho 32 anos de experiência em oftalmologia, incluindo cirurgias de glaucoma, com diversos treinamentos, Wet Labs, Dry Labs e procedimentos MIGS.
Como está a equipe médica preparada para a utilização dessa tecnologia de ponta?
Nossa equipe já realizou cerca de 400 cirurgias com o Preserflo, com participação em cursos, Dry Labs e Wet Labs em todo o território nacional.
Além de tratar o glaucoma, a nanotecnologia já está sendo estudada para outras doenças oculares?
O iStent, que também estamos trazendo para Campos, é uma nanotecnologia de titânio voltada à redução da pressão intraocular no glaucoma. Na oftalmologia, a nanotecnologia vem sendo aplicada cada vez mais, como em colírios com nanopartículas e, em pesquisa, colírios antibióticos e para degenerações maculares (DMRI).
Quais são as expectativas em relação à ampliação do acesso a esse tipo de procedimento no Brasil?
Já conquistamos avanços importantes, como a autorização para que planos de saúde cubram esse tipo de cirurgia, inclusive com a aquisição do Preserflo.
Qual o perfil dos pacientes operados e como será o pós-operatório?
Os pacientes têm entre 35 e 45 anos, sendo um homem e duas mulheres, todos com histórico de falha ou ineficácia do tratamento tópico com colírios.
Que mensagem a senhora deixaria para pacientes diagnosticados com glaucoma e que temem a perda da visão?
Não se descuidem. Mesmo sem sintomas, é fundamental manter os exames oftalmológicos anuais em dia. Exames detalhados, como fundo de olho, medida da pressão intraocular, acuidade visual e análise da superfície ocular, são essenciais. O glaucoma é silencioso e pode levar a perdas importantes ou definitivas da visão se não diagnosticado e tratado a tempo. O oftalmologista é o profissional capacitado para preservar a saúde ocular.