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Sete suspeitos são presos em nova fase de operação contra milícia privada em Campos

Traficantes atuariam com a milícia privatizada há, pelo menos, dois anos

Polícia
Por Leonardo Pedrosa
24 de setembro de 2025 - 12h01
Quatro presos na operação desta quarta / Montagem: J3News

Uma nova ofensiva das forças de segurança mirou a atuação de criminosos que vinham transformando a Baixada Campista em reduto de milícia privada, ligada ao tráfico de drogas. A operação “Alerta Máximo II”, deflagrada nesta quarta-feira (24) pela 134ª Delegacia de Polícia (DP) de Campos, em parceria com o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco/MP), cumpriu 13 mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão. Quatro pessoas foram presas em casa e outras três já estavam custodiadas.

Delegada Carla Tavares / Foto: Silvana Rust

As investigações apontam que integrantes do Terceiro Comando Puro (TCP), além de traficarem os entorpecentes, extorquiam comerciantes, ceramistas e produtores rurais, oferecendo “serviço de segurança” em troca de pagamentos mensais. Em média, as vítimas eram obrigadas a entregar R$ 500 por mês, valor que variava conforme o faturamento do negócio. Quem se negava, segundo a Polícia, era ameaçado de incêndios, roubos e até assassinatos. Em agosto deste ano, uma reportagem especial do J3News mostrou os bastidores da realidade vivida por moradores da Baixada da maior cidade do Norte Fluminense.

“A gente pode dizer que são narcotraficantes atuando como milícia, porque estão extorquindo, exigindo valores de comerciantes e empresários para uma suposta segurança, e os empresários que se negam a efetuar esses valores, segundo eles, sofrem as represálias. Cada um tem a sua atuação nessa quadrilha, nessa organização criminosa”, explicou a delegada Carla Tavares, titular da 134ª DP, ao J3News.

As equipes cumpriram mandados em Baixa Grande, Mussurepe, Farol de São Thomé, Tocos, comunidade do Carvão e também em presídios, como o Complexo de Bangu, no Rio, e a penitenciária Carlos Tinoco da Fonseca, em Campos. Parte do comando do grupo, segundo a polícia, atuava de dentro de unidades prisionais. Foram apreendidos R$ 9 mil em dinheiro, celulares e uma arma de pressão, que ajudarão a identificar outros integrantes da quadrilha.

O grupo é suspeito de ter envolvimento na execução do comerciante Amaro Nilton de Souza, de 66 anos, assassinado em janeiro de 2024, em Farol de São Thomé. O crime apresenta semelhanças com o homicídio do taxista Sandro “Geleia”, em dezembro de 2023, morto dentro do seu carro, com vários tiros, no Xexé. São três coincidências com o “caso Amaro”. Ambos eram comerciantes, os autores foram dois homens em uma motocicleta, vestidos de preto e com capacetes, de acordo com relatos de testemunhas, e a motivação para o crime seria que os dois não aceitaram pagar propina aos criminosos.

Comerciante foi morto dentro do próprio supermercado em Farol em 13 de janeiro de 2024

Influência de dentro de presídios

A investigação aponta ainda a influência de criminosos presos, que comandavam extorsões de dentro de unidades prisionais. O nome de Fernando Silva, o “Fernandinho”, já havia surgido na primeira fase da operação, em 2023. Mesmo preso, ele buscava implantar uma milícia na Baixada Campista, segundo investigações de inteligência do GAECO/MPRJ, utilizando ligações e chamadas de vídeo para coagir vítimas. A participação de encarcerados continua acontecendo, mas agora com outros atores.

“Os que estavam encarcerados, que são ditos chefes do TCP na localidade, que autorizam essas cobranças e que se beneficiam também do recebimento desses valores. Então cada um que foi preso hoje tinha uma participação específica e que foi extremamente delimitada na denúncia que foi oferecida pelo Ministério Público ao Judiciário. A partir da apreensão dos telefones celulares, a gente vai identificar demais elementos envolvidos nessa atuação criminosa para a gente poder chegar a todas essas pessoas, identificá-las e efetuar as prisões”, destacou a Delegada.

Atuação há quase três anos

A ofensiva desta semana é resultado de mais de anos e meio de operações contra expansão da milícia privada na Baixada Campista. Desde dezembro de 2022, operações como Terra Plana III e IV e a primeira Alerta Máximo foram deflagradas para frear homicídios e extorsões. A atuação criminosa também incluía a exploração irregular de terrenos: em agosto e setembro, a Polícia Ambiental flagrou aterros clandestinos às margens da lagoa de Farol, onde traficantes planejavam construir casas para posterior cobrança de aluguel.

“Esse trabalho conjunto entre Polícia Civil, Polícia Militar, Ministério Público e Judiciário foi de suma importância. A gente entende que as vítimas ficam temerosas, mas hoje a gente deu a resposta. Então a partir da denúncia e das investigações que foram feitas, foi possível identificar demais elementos que estavam atuando nas extorsões na baixada campista”, completou Carla Tavares.