Uma pesquisa recente, liderada pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos, revela o grande potencial dos manguezais no combate às mudanças climáticas. O estudo mostra que esses ecossistemas têm uma capacidade de retenção de dióxido de carbono (CO2) superior à das florestas. Na Região Norte Fluminense, mais precisamente nos municípios de São Francisco de Itabapoana, São João da Barra, Quissamã e Macaé, os manguezais são abundantes, mas estão ameaçados pela falta de conservação. Essa situação preocupa, já que sua preservação é crucial para mitigar os efeitos do aquecimento global.
Os manguezais são ecossistemas costeiros de grande importância ambiental, encontrados principalmente em regiões tropicais e subtropicais. Localizados em estuários, onde o rio encontra o mar, esses ecossistemas desempenham um papel fundamental no equilíbrio ecológico. Sua vegetação é adaptada à salinidade da água, sendo o mangue a planta principal. Essa espécie consegue se desenvolver tanto em terra firme quanto em águas salobras, tornando os manguezais únicos e essenciais para a natureza.
Degradação
O Norte Fluminense tem potencial no tema, porém vem sofrendo com a degradação ao longo do tempo, como destacam especialistas no assunto, que foi pauta no programa Manhã J3, da J3 News TV, no mês de janeiro deste ano.
“Estudos baseados em levantamentos de campo e sensoriamento remoto revelam uma perda progressiva dessas áreas ao longo do último século. Um exemplo próximo é a foz do Rio Paraíba do Sul, onde estudos realizados por nosso grupo de pesquisa constataram perdas significativas, como nas regiões de Atafona e nas Ilhas do Lima e Graça. A degradação dos manguezais nessa área tem contribuído para o avanço da erosão costeira e para a redução da pesca, especialmente do camarão”, destaca o biólogo marinho Carlos Eduardo Rezende. E acrescenta:
“O manguezal do Rio Paraíba do Sul hoje é quase inexistente, sofreu alteração drástica ao longo dos últimos 30 anos. Tivemos uma perda expressiva da vegetação original, que se aproxima de 40%”.
Potencial para combater mudanças climáticas
Professor Titular do Laboratório de Ciências Ambientais, Centro de Biociências e Biotecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Carlos Rezende também enfatizou como os manguezais têm potencial para reter CO2 e serem utilizados como uma forma de defesa contra as graves mudanças climáticas enfrentadas atualmente:
“A capacidade de retenção do carbono a partir da capacidade de produtividade primária dos mangues é de duas a três vezes maior do que em ambientes marinhos e terrestres. Essa é uma das grandes características do manguezal. Trata-se de um grande reator da produção de matéria orgânica. Principalmente nos dias de hoje, em que vivemos comprovadamente com o aumento do CO2 ao longo do século, deveríamos estar aumentando a área de mangues, não reduzindo como observamos atualmente”, comenta.
Onde encontrar e o cenário atual
Professor, historiador ambiental, autor de 44 livros, sendo 10 deles sobre manguezais, Arthur Soffiati aponta os principais locais em que se podem ser encontrados manguezais na região:
“Os principais manguezais do Norte Fluminense desenvolvem-se na foz dos rios Itabapoana, Guaxindiba, Paraíba do Sul, lagoa do Açu, Barra do Furado e rio Macaé. Em Quissamã, existe apenas uma pequena mancha de manguezal. Encontramos mangues também na Lagoa do Açu, Canal das Flechas e o manguezal do Rio Macaé – que vejo como o pior de todos, por conta do impacto do advento da Petrobras”, relata. O escritor e pesquisador pontua ainda como influência da atividade humana tem sido decisiva para a degradação desse tipo de ecossistema:
“Trata-se de um ecossistema que vem sendo muito destruído por outros tipos de atividade. Por exemplo, na margem esquerda do manguezal no Rio Paraíba do Sul, tem criação de gado. A gente presencia o desmatamento do manguezal para a criação do gado”, acrescenta. O especialista completa ainda, expondo a situação preocupante dos mangues na região:
“O manguezal que se encontra em pior estado é o de Macaé. O meio urbano cresceu sobre ele, que também sofre com poluição provocada pelo despejo de óleo principalmente. O mangue do rio Itabapoana foi invadido pelo meio urbano, assim como está sendo o rio Guaxindiba. O do rio Paraíba do Sul está sendo destruído por pastagens e pela vila de Gargaú. Na margem direita do rio, a erosão sufoca as plantas. O de Barra do Furado está sofrendo forte salinização pela erosão causada pelos dois espigões de pedra construídos na foz do canal da Flecha”, finaliza.
Benefícios de um manguezal bem preservado
O geógrafo Eduardo Bulhões aponta três benefícios que uma floresta de mangue bem preservada oferece:
“São múltiplos os benefícios dos manguezais, que chamamos de serviços ecossistêmicos. Primeiro, a captura de CO2 da atmosfera, que é uma de nossas poucas estratégias para lutar diretamente contra o aquecimento global. A floresta de mangue fixa carbono no solo; Em seguida, podemos destacar a proteção contra a erosão costeira e inundações marinhas, uma vez que o mangue retém sedimentos, faz com que o nível do solo aumente em relação ao nível do mar e tem papel super importante neste contexto de elevação dos oceanos. Por fim, o aumento dos estoques pesqueiros, uma vez que o mangue é um berçário, uma área com águas calmas e oferta de nutrientes muito procurada por diversas espécies para procriação – tais espécies são os recursos vivos que são comercialmente explorados por aqui”, aponta.
Ações dos municípios
A reportagem especial desta edição fez contato com os municípios citados como sedes dos principais manguezais da região, buscando saber as ações que o poder público vem realizando em prol da preservação dos manguezais no Norte Fluminense.
Em São Francisco de Itabapoana, existem manguezais em Gargaú, Guaxindiba/Sossego, Buena e Barra. “Foi realizado um mapeamento da área dos remanescentes de manguezal do município. Há uma previsão para que ainda este mês, seja feita uma demarcação e sinalização da área, que tem como objetivo a conscientização sobre a importância deste ecossistema”, disse o município.
A Prefeitura de São João da Barra declarou que reconhece o papel fundamental dos manguezais para a biodiversidade, a estabilidade costeira e o equilíbrio climático.
“Entre essas ações estão a criação de Unidades de Conservação para proteção dos manguezais e criação da Área de Proteção Ambiental da CEHAB – que protege 64,5 hectares de manguezais na foz do Rio Paraíba do Sul -, limpeza e fiscalização ambiental promovidas com mutirões de limpeza nos manguezais – retirando resíduos sólidos que afetam a qualidade ambiental da área – e a intensificação da fiscalização ambiental para coibir ocupações irregulares, lançamento de efluentes e outros impactos negativos sobre esses ecossistemas sensíveis”, disse a nota.
A Prefeitura de Quissamã enfatizou que o manguezal de Barra do Furado, situado na Área de Preservação Permanente do Balneário Barrinha, é um ecossistema vital para Quissamã. “A Prefeitura implementou o Programa Municipal de Educação Ambiental, que tem como foco a restauração e revitalização do Manguezal de Barra do Furado. Através desse programa, são promovidas ações de conscientização e mobilização em parceria com pescadores e alunos da Escola Municipal Délfica de Carvalho Wagner e da Escolinha de Surf”, pontua.