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Todos os caminhos da fé levam a Santo Amaro

Turismo religioso e cultural busca valorizar as belezas históricas e arquitetônicas das igrejas da Baixada Campista

Especial J3
Por Ocinei Trindade
12 de janeiro de 2025 - 0h01
Caminhos da Fé|Circuito religioso começa na Categral e termina na Igreja de Santo Amaro (Fotos: Josh)

Há 292 anos, Santo Amaro, padroeiro da Baixada Campista, é festejado no dia 15 de janeiro. Tradicionalmente, mais de quatro mil peregrinos costumam fazer uma caminhada de mais de 30 quilômetros, do Centro de Campos dos Goytacazes até o Santuário. As manifestações de fé acontecem no trajeto de romeiros que pagam promessa, mas podem ir além do período. Outros templos católicos se destacam pelo legado histórico e arquitetônico. Para preservar esse patrimônio local, iniciativas como “Caminhos de Fé”, que reúne parte do poder público com apoio da Diocese de Campos, buscam incentivar o turismo religioso.

Catedral Diocesana de Campos

A Secretaria Municipal de Turismo tem investido na valorização dos festejos de Santo Amaro como forma de incentivar a visitação às igrejas ao longo de todo o ano. No total, são 22 igrejas centenárias que se destacam em diferentes localidades, com grande importância histórica e religiosa. A mais antiga delas, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, está localizada em Donana, distrito de Goytacazes, e foi fundada há mais de 400 anos. Em Donana também se encontra outro templo dedicado a Santo Amaro, construído no século XX.

Histórica|Igreja de Nossa Senhora do Rosário é a mais antiga do caminho
Patrícia Cordeiro

“A expectativa da festa de São Amaro é crescente pela tradição histórica, com seus 292 anos. O ‘Caminho de Fé’ é um roteiro turístico que vem se consolidando com muita força na parceria pública e privada, despertando o pertencimento. Com os festejos, a gente recebe ainda mais turistas, pessoas de todos os lugares do Brasil. Campos é uma cidade com participação muito forte e ativa na história do país, nos ciclos econômicos e no desenvolvimento de tradições e culturas. Nesse contexto, o nosso patrimônio histórico é muito relevante e se confunde com o patrimônio religioso. A gente pretende trabalhar esses roteiros, com visitação integrada, para que as pessoas conheçam a história passeando por ela. Conhecer os patrimônios faz sentido, pois visitando o passado a gente pode valorizar o presente e dimensionar o futuro”, diz a secretária de Turismo, Patrícia Cordeiro.

Larissa Manhães

Para a historiadora Larissa Manhães, uma das idealizadoras do “Caminhos de Fé”, a festa de Santo Amaro é um marco da forte identidade do campista com fé e devoção dos que habitam na região da Baixada Campista. O padroeiro da Baixada Campista está presente desde o século XVIII, como santo milagreiro e toda a ritualística que compõe o evento.

“A Baixada Campista é composta por templos religiosos de grande importância histórica, que remetem ao período colonial como o Solar do Colégio, o Mosteiro de São Bento, a Capela de Nossa Senhora do Rosário de Campo Limpo e também a de Donana, além de vários outros templos mais recentes, mas também históricos. A realização do circuito completo permite passar por este caminho conhecendo os patrimônios religiosos edificados presentes. Fazer o caminho de Santo Amaro a pé permite que estes pontos possam ser detalhadamente conhecidos e observados, o que não é possível quando se transita de carro, por exemplo. A Baixada Campista é extremamente rica culturalmente e historicamente”, diz Larissa.

Turismo religioso
O subsecretário de Turismo, Edvar Júnior, é um dos promotores do “Caminhos de Fé”, desde que presidiu a CDL Campos. “Buscamos o Sebrae para formalizar o projeto. Isto dá visibilidade à peregrinação até o Santuário de Santo Amaro. O projeto apoiado pelo Sebrae foi premiado entre os 20 melhores roteiros do estado do Rio de Janeiro. Com um QR Code, consegue-se ler em português, inglês e espanhol. São muitas igrejas icônicas. Entre outras, destaco a de São Gonçalo, em Goytacazes; e a de Nossa Senhora do Rosário, em Campo Limpo, que é belíssima também. Apesar de não estar à margem da rodovia Campos-Farol, vale conhecer o Mosteiro de São Bento, em Mussurepe. A Igreja de Santo Amaro é o ponto alta do fim da caminhada”, cita.

Para o vigário geral Leandro Diniz, da Diocese de Campos, a festa de Santo Amaro é uma das celebrações religiosas mais importantes da comunidade católica, pois fortalece a identidade religiosa e cultural. “Ao participarem desta peregrinação, os devotos experimentam um momento de espiritualidade única, oração, devoção, criando um forte vínculo com a tradição religiosa que foi herdada dos antepassados. Os pais vão passando para os filhos. A peregrinação também é oportunidade de evangelização, já que muitos participantes aprofundam sua fé e renovam seu compromisso religioso”, explica.

A Diocese de Campos considera, ainda, o turismo religioso como uma poderosa ferramenta de promoção cultural, desenvolvimento local e estímulo à espiritualidade. “O projeto ‘Caminhos de Fé’ destaca-se não somente pela visita aos templos católicos, mas contribui para a preservação do patrimônio histórico cultural da nossa região. Permite que fiéis, turistas, aqueles que têm devoção, principalmente a Santo Amaro, conheçam mais sobre a história religiosa da cidade e da região que é riquíssima. É pertinente vivenciar nesses momentos, perspectiva da fé, momentos de oração, de reflexão, de conhecimento sobre as nossas tradições”, comenta monsenhor Leandro Diniz.

Patrimônio|Cavalhada de Santo Amaro faz parte da tradição dos festejos (Foto: Hugo Prates/Divulgação)

Devotos e programação dos festejos
Os festejos em louvor a Santo Amaro começam no dia 13 de janeiro. Durante três dias, fiéis se reúnem na praça no entorno do santuário para diferentes celebrações. Entre as atrações, estão apresentações de bandas católicas à noite. O templo é um local de peregrinação o ano inteiro. A Igreja Católica Apostólica Romana instituiu 2025 como o Ano Jubilar e, as caminhadas também estão associadas à proposta de evangelização.

No dia 15, serão celebradas missas a partir de 1h da madrugada. Elas ocorrerão a cada duas horas e serão ministradas pelo padre Antônio Marcello Ribeiro, da Paróquia de Santo Amaro. Às 11h, o bispo da Diocese de Campos, dom Roberto Ferreira Paz, participará da celebração.

O evento também contará com exposições de carros antigos, corrida rústica e a tradicional Cavalhada de Santo Amaro na tarde do dia 15. A encenação de cavaleiros mouros e cristãos é considerada a segunda mais antiga do Brasil, realizada desde 1730, três anos antes do início dos festejos do santo padroeiro da Baixada Campista.

Edvar Júnior já fez o percurso da cidade a Santo Amaro algumas vezes. “A caminhada geralmente começa na noite do dia 14. Tenho certeza do grande sucesso que será este ano. Eu peço sempre que todo mundo tenha uma atenção redobrada na estrada, sejam ciclistas, motoristas e os pedestres que fazem a peregrinação. É importante garantir a segurança e dar apoio aos peregrinos no trajeto”, comenta.

A historiadora Larissa Manhães considera o Dia de Santo Amaro uma grande celebração de pessoas de todos os lugares e idades. “A festa é sempre um momento muito especial de reencontros com pessoas queridas, de prestigiar uma manifestação cultural tão tradicional e marcante para os campistas. Que a população possa prestigiar e participar vigorosamente de toda a programação, entendendo quão importante é essa presença para a permanência e existência da festa”, destaca.

Romeiros|Caminhada de 30km (Foto: Reprodução)

Em 2025, os festejos de 292 anos de Santo Amaro têm um significado especial para Larissa:

“Eu tenho uma relação muito afetuosa com essa festa, mais do que com qualquer outra na cidade. Sou moradora da Baixada desde que nasci, e frequento a festa desde criança levada pelos meus pais. Já fui até juíza da bandeira quando criança. Já paguei promessas por vários anos. Sempre faço registros de imagem e vídeo para ter minhas memórias guardadas. Há dois anos, participei de um documentário produzido por um amigo com a pesquisa histórica e apresentação junto da minha amiga e historiadora Rafaela Machado. Foi um momento de grande satisfação poder retribuir com meu trabalho para algo que me é tão caro e especial. Este ano é ainda mais, pois é a primeira vez que vou à festa acompanhada do meu filho. Que eu possa criar nele as memórias que eu tenho de infância, e que ele possa ser mais um apaixonado pela história e pela cultura campista”, conclui.