Ele tomou posse há pouco mais de uma semana na presidência de uma das entidades representativas de classe mais antigas do estado, a Associação Comercial e Industrial de Campos (Acic), com 133 anos. Assumiu propondo a união de todas as demais entidades que representam os setores produtivos do município. Conciliador, mas sem abrir mão de suas convicções, Maurício Cabral é da safra de empresários que atua em setores múltiplos, tem uma pauta extensa. A revitalização do centro, onde está a sede da Acic, no maior edifício da área, é um dos temas no topo desta pauta. Maurício Cabral discorre com habilidade sobre qualquer tema, mas prefere os prepositivos, centrando suas atenções em oportunidades. O foco se amplia quando o assunto é empregabilidade e o discurso passa incluir também São João da Barra, onde está ancorado um dos maiores projetos estruturantes do país, o Porto do Açu.
O senhor assumiu a presidência da Associação Comercial e Industrial de Campos (Acic), uma das mais longevas instituições representativas de classe do estado, com 133 anos. Como o senhor vê o cenário econômico do município de Campos dos Goytacazes e do seu entorno?
O cenário econômico de Campos e da nossa região é caracterizado por grandes desafios, mas também por imensas oportunidades. Historicamente, nossa economia tem sido fortemente dependente dos royalties do petróleo, o que trouxe tanto crescimento quanto vulnerabilidades, especialmente em tempos de oscilações no mercado internacional. No entanto, Campos possui uma base econômica diversificada, com setores como agronegócio, indústria, serviços e turismo que têm grande potencial para expansão. Portanto, vejo um futuro promissor, onde, com o fortalecimento desses setores, poderemos construir uma economia mais resiliente e sustentável. Nosso foco na Acic será fomentar o desenvolvimento desses pilares.
Há pelos menos três décadas Campos faz esforços para atrair investimentos na área industrial, objetivando empregos em quantidade e de qualidade. O senhor tem alguma estratégia para intensificar isso?
Sim, a atração de investimentos na área industrial deve ser uma prioridade, não apenas para a Acic como também para a iniciativa pública, privada e para as outras entidades coirmãs deste segmento e termos uma estratégia clara para intensificar esses esforços. Primeiro, é fundamental criar um ambiente de negócios que seja convidativo e atrativo para investidores, e isso envolve simplificar processos burocráticos, oferecer incentivos fiscais e promover logística e infraestrutura adequada. A Acic trabalhará em estreita colaboração com estas iniciativas e entidades de classes para identificar e remover obstáculos aos investimentos, além de contribuir na criação de um ambiente regulatório que favoreça a instalação e expansão de indústrias. Para isso, é fundamental posicionar Campos como um polo de inovação industrial.
Sabidamente o senhor é um conciliador, com gestos diplomáticos, mas também é franco questionador quando necessário. Cobranças serão feitas?
Cobranças serão feitas sempre com o objetivo de contribuir e garantir o melhor para o desenvolvimento econômico e social para Campos, dentro do escopo da Acic, e para os nossos associados. Acredito que a conciliação e o diálogo são essenciais para construir parcerias fortes e alcançar resultados positivos. No entanto, também sei que ser conciliador não significa evitar as questões difíceis. Pelo contrário, significa abordar esses desafios de maneira construtiva e propositiva, construindo “pontes” e buscando soluções que beneficiem a todos de forma coletiva. Ter posicionamento e franqueza em minhas colocações nas defesas destes interesses é fundamental na liderança de uma entidade de classe. A Acic tem o papel de defender os interesses do setor produtivo e promover o desenvolvimento econômico e social do município.
Inevitável falarmos da situação do centro de Campos que agoniza. Qual a sua posição diante deste problema que também envolve aspectos sociais?
A revitalização do centro de Campos é uma prioridade que exige uma abordagem integrada, unindo esforços entre o poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil. O Centro, com seu valor histórico e cultural, é o coração da cidade, e sua degradação afeta tanto a qualidade de vida quanto o ambiente de negócios. Em relação a esta revitalização, o Prefeito Wladimir, em reunião conjunta com os seus secretários, as entidades de classes e a Caixa Econômica, nos apresentou o projeto do “Retrofit” e demonstrou, publicamente, o seu interesse e a vontade, juntamente com as representatividades ali presentes, de iniciar a implantação deste projeto. Essa demanda existe, aproximadamente, há mais de 20 anos e precisamos que ela, definitivamente, ocorra! O projeto inclui incentivos para atrair novos negócios, além de melhorias na infraestrutura urbana, inclusive de transformar os prédios comerciais em residenciais trazendo movimento ao centro. É importante efetivar e fortalecer os itens como segurança, transporte público e limpeza.
O senhor está acumulando a presidência da Acic e do Sindicato do Comércio Varejista de Campos. Parece que o Sindivarejo está em plena campanha para atrair mais sócios. Pode falar sobre isso?
Sim, e isso nos permite atuar de forma ainda mais integrada em prol do fortalecimento do comércio local. O Sindivarejo está, de fato, em plena campanha para atrair mais sócios e isso faz parte de uma estratégia maior de valorização do setor varejista em parceria com as nossas outras entidades coirmãs como a Acic, a CDL e a Carjopa. Digo sempre que o Sindivarejo não apenas mais uma entidade de classe, mas sim, a nossa entidade, por sua representatividade na manutenção da convenção coletiva do trabalho para o comércio varejista. É muito importante que as demais entidades abracem o nosso Sindicato Patronal em defesa dos nossos interesses. O Comércio Varejista é o segundo maior empregador da iniciativa privada de Campos e fortalecer o Sindivarejo é muito importante. A campanha de atração de novos sócios é focada em mostrar os benefícios concretos de ser parte do Sindivarejo.
Além da presidência das duas entidades também é associado da CDL e prega a união de todas as entidades. Defende uma pauta única em defesa dos setores produtivos?
Defendo a união de todas as entidades representativas dos setores produtivos, como a ACIC, o Sindivarejo, a CDL, Sindicato Rural, Fundenor, Firjan, Asflucan, Sindicato dos Ceramistas, Convetion & Bureau, em torno de uma pauta única. Quando essas entidades trabalham alinhadas e falam com uma só voz, nossa capacidade de influenciar políticas públicas, negociar condições favoráveis e promover o desenvolvimento econômico local é muito maior. Uma pauta única nos permite focar em objetivos comuns, como atrair investimentos, melhorar a infraestrutura e qualificar a mão de obra, além de outras pautas, beneficiando todos os setores produtivos.
Quais são as suas reais expectativas em se tratando do Porto do Açu, no vizinho município de São João da Barra. O melhor ainda está para acontecer em termos de mercado e de geração de empregos?
Minhas expectativas em relação ao Porto do Açu são extremamente positivas. O Porto já possui o seu protagonismo, visibilidade e uma infraestrutura estratégica, não apenas para São João da Barra, para toda a região Norte Fluminense como também para o cenário nacional. Acredito que o melhor ainda está por vir. O Porto do Açu está em constante expansão e diversificação de suas operações, o que pode criar novas oportunidades para diversos setores, como logística, indústria, comércio exterior e serviços. À medida que mais empresas se estabelecem na região, veremos um efeito cascata positivo, com o aumento da demanda por fornecedores locais, serviços especializados e mão de obra qualificada.
Para não dizer que não falamos do ano eleitoral, quais os desafios que o senhor considera que terão que ser vencidos pelo próximo prefeito da cidade de Campos dos Goytacazes/RJ. Pelo menos dois?
O próximo prefeito de Campos dos Goytacazes enfrentará desafios significativos, e dois deles merecem destaque. Primeiro, a diversificação econômica é crucial. Campos ainda depende fortemente dos royalties do petróleo, o que torna o município vulnerável a oscilações no mercado internacional. O novo gestor precisará criar um ambiente favorável para o desenvolvimento de outros setores, como agronegócio, indústria, serviços e turismo, promovendo políticas públicas que atraiam investimentos e incentivem a inovação. Segundo, a revitalização do Centro da cidade é um desafio urgente.