A esclerose múltipla é a doença que mais acomete adultos jovens em todo o mundo. Especialmente mulheres, de 20 a 40 anos. Pensando nisso, desde 2014, o mês de agosto ganhou a cor laranja, em campanha da Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME), voltada à conscientização sobre o tema. A ideia é levar cada vez mais informação à população e proporcionar maior qualidade de vida a quem vive com a patologia.
O neurologista Álvaro Ribeiro explica que a doença não apresenta um aumento significativo de casos, porém, hoje em dia, existem mais diagnósticos, por meio do exame de imagem (ressonância magnética) – realizado após suspeita detectada através de exame clínico. O que facilita que o tratamento seja iniciado o quanto antes.
“É uma doença que não tem suas causas totalmente esclarecidas até hoje. Sabemos que há fatores genéticos e fatores ambientais. Hoje conhecemos como os principais fatores ambientais que favorecem o surgimento da doença a deficiência de vitamina D, infecção pelo vírus da mononucleose, tabagismo e obesidade”, comenta.
O especialista pontua que a esclerose pode surgir causando dano neurológico em qualquer área do sistema nervoso, desde o cérebro até a coluna. “O que é característico é que ela normalmente se manifesta por meio de surtos, cada um com um sintoma particular”, afirma. E complementa:
“Os neurônios são as células principais do cérebro, e conduzem sinais através de pulsos elétricos. Existe uma substância que reveste os neurônios, chamada mielina. Fazendo uma comparação, neurônios seriam como fios elétricos e a mielina seria uma capa que reveste esse fio. Quando essa capa é destruída, ocorre mau funcionamento e destruição do neurônio. Esse processo inflamatório ocorre tipicamente em forma de surtos, ou seja, são episódios em que ocorre o dano neurológico”, detalha.
De acordo com Álvaro Ribeiro, não existe até hoje uma forma comprovada de prevenir a doença. Mas algumas medidas podem ser tomadas para se proteger. “Sabemos que hábitos de vida saudáveis, alimentação equilibrada, atividade física regular, evitar a obesidade e não fumar, são atitudes que colaboram para diminuir o risco de desenvolver a doença”, alerta.
O médico enfatiza ainda que não existe um sintoma específico para a doença, mas os sinais de alerta mais comuns são fraqueza, dormências, fadiga, cansaço, além do acometimento da visão.
“A esclerose múltipla pode acometer todo o sistema nervoso central, o que quer dizer que não existe um sintoma específico para ela. Sempre que o paciente identificar alterações neurológicas, como, por exemplo, alterações visuais, na força, no controle motor, nos movimentos, no equilíbrio, entre qualquer outro sintoma tipicamente neurológico, deve procurar imediatamente um médico”, salienta.
Como se desenvolve e formas de tratamento
O neurologista pontua que a esclerose múltipla pode se desenvolver de duas formas. E a mais grave delas, ao contrário do que muitos imaginam, segundo ele, não está nos surtos.
“A forma mais comum é chamada de surto remissão. Ela ocorre quando os sintomas vêm, como o nome diz, em surtos, intercalados com períodos de remissão, onde cessa a inflamação e os sintomas param de progredir. Cada surto pode acometer uma área diferente do sistema nervoso, com sintomas diferentes. Mas, a forma mais rara é a progressiva, em que continuamente ocorre inflamação e as lesões estão sempre se sucedendo, aparecendo continuamente novas lesões. Essa forma, tanto é mais rara quanto mais grave, tendo um desfecho muito mais complicado”, explica.
Não existe cura para a esclerose múltipla, porém, hoje, existem formas de tratamento para a doença, como detalha o especialista. “Dividimos o tratamento em duas etapas. A primeira, chamada de tratamento do surto, deve ser realizada sempre que um novo surto ocorrer. Ela é realizada com antiinflamatórios potentes, chamados corticóides. Essas medicações são utilizadas em doses altas por uma média de cinco dias, com o objetivo de parar a inflamação e minimizar o dano do surto”, diz.
E complementa: “A segunda etapa é o tratamento modificador de doença, onde utilizamos medicações chamadas imunomoduladores. Eles agem controlando o sistema autoimune, minimizando o risco de novos surtos e da agressão ao sistema nervoso. Existem diversas opções, que são determinadas de acordo com o caso de cada paciente. Esse tratamento é chamado de modificador de doença, pois, desde que começou a ser utilizado, mudou completamente a sobrevida dos pacientes, trazendo muito mais qualidade de vida”, conclui o médico.