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Palavras em defesa da mulher

Representatividade contra adversidades desde a violência ao desemprego

Entrevista
Por Aloysio Balbi
4 de agosto de 2024 - 0h01
Foto: Josh

Na fase 50+, a empresária de sucesso Josiane Morumbi, casada, mãe de Thamires e Ana Clara (futura médica e futura psicóloga), acumula experiência resolutiva de enfrentamento aos problemas encarados pelas mulheres, como violência, desemprego e tantos outros. Transita com desenvoltura sobre a pauta da mulher, sendo líder de grupos na área do empreendedorismo. Fala, sem subir o tom, de temas delicados como a violência contra as mulheres em todos os níveis e lamenta que, hoje, até a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara seja presidida por um vereador homem, sendo composta de outros dois. Temas como qualificação e empregabilidade também fazem parte da pauta constante da nossa entrevistada.

Queria começar pelo seu lado empresarial. Você e seus irmãos administram uma das maiores empresas de Campos no setor de indústria. Como isso acontece?

Então, a empresa Morumbi nasceu há quase 47 anos. Vamos fazer 47 neste mês. Foi meu pai, Joaquim Humberto Borges, o precursor disso tudo. Começou em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. Meu pai sempre foi um visionário. Estudou muito pouco, mas tem aquele dom empresarial. Ele tocou a empresa durante muito tempo. Depois, com certa idade, se dividindo entre Espírito Santo, Campos e o Pará, passou a delegar. A Morumbi nasceu como uma indústria que fabricava carroceria para caminhões de madeira, antes de virar uma indústria metalmecânica. Hoje a matéria-prima madeira não é quase utilizada, e aí meu irmão Victor assumiu essa posição dentro da empresa. Nossa engenharia atende à demanda e à necessidade daquele cliente. Então, a empresa realmente cresceu muito nessa área industrial, temos em nosso portfólio de clientes do segmento portuário, grandes construtoras, energia elétrica, governo, seja municípios, estado e federal, área militar, mineração e o mais representativo, que é a fabricação de implementos para transporte de cargas. Primando por segurança nas operações, satisfação do cliente e responsabilidade social.

Você entende de empregabilidade e Campos está precisando atrair mais empresas. Como vender Campos e as potencialidades para atrair novas empresas?

Na verdade, como eu estou sempre envolvida com a Firjan e a Associação das Indústrias da Codin, a gente sempre destaca que temos um distrito industrial pronto e temos que investir neste distrito industrial, com atrativos. Uma divulgação mostrando que existe esse Distrito Industrial e as potencialidades do nosso mercado. Outro distrito não faz sentido. Então, seria necessário investir nos atrativos como incentivos na área tributária. A Morumbi, por exemplo, cresceu quatro vezes o parque fabril através do Fundecam. Nós pagamos em dia, recebemos os juros ainda por cumprir rigorosamente o contrato. E fomos destaques por ser uma das poucas grandes empresas que utilizaram deste recurso, e que pagaram as parcelas.

Você faz parte do grupo de mulheres empresárias da Firjan. A presença da mulher sempre foi uma de suas bandeiras?

Na verdade, quando eu vim para a vida pública, eu pouco entendia como funcionava a política. Não venho de uma família envolvida com a política, mas envolvida com empresas. Eu trouxe, então, essa bandeira comigo. Entendo que a empregabilidade vinda da indústria, o nível de salário médio é maior do que o comércio e a prestação do serviço. São empregos que você consegue visualizar o seu crescimento em longo prazo, ou seja, você pode projetar uma carreira dentro de uma empresa. Foco muito nas lideranças das mulheres empreendedoras em qualquer área.

Está realmente conseguindo?

Sim. Existe um grande clamor para que a gente se una, se fortaleça. Há pouco tempo que a gente conquistou a possibilidade de nos divorciarmos, que antigamente a gente não podia nem escolher o marido, de sairmos de casa para poder fazer uma faculdade e de não ser taxada de que, olha aí, vai dar errado isso. Eu lembro que eu sofri isso quando eu saí, com 17 anos, para ir para Viçosa (MG) para estudar na Universidade Federal de Viçosa (UFV) e algumas pessoas, até muito íntimas da minha família, falaram: vai voltar grávida. As coisas eram assim.

Mas você não acha que existe ainda um pouco disso?

Sim. As mulheres que estão em situação de vulnerabilidade sofrem muito. Temos um olhar ainda mais especial para essa mulher. O pior é que algumas não se acham merecedoras de determinadas oportunidades. Eu vou dar um exemplo muito próximo e recente. Uma mulher que foi encaminhada pela Subsecretaria da Mulher, por nós, acabou indo para a FAETEC e fez o curso de solda. E, hoje, ela é a soldadora da Morumbi. A gente oportunizou essa nova vida para ela, espaço este que até então era predominantemente masculino.

Infelizmente a violência contra a mulher está na pauta. Como enfrentar isso?

Quando fui convidada para ser subsecretária municipal da mulher, uma pasta que foi criada pelo prefeito Wladimir, em que miramos neste grave problema e começamos a desenvolver políticas públicas direcionadas às mulheres. A maioria das atendidas estavam em situação de grande vulnerabilidade, em relacionamentos abusivos. Então, ajudar essas mulheres a se reconstruir, ajudar a ter uma primeira oportunidade, a mostrar que ela passou por isso tudo é o primeiro passo. Foi preciso toda uma logística para enfrentar o problema. Criamos o CEAM (Centro Especializado em Atendimento à Mulher Mercedes Baptista). A Casa da Mulher Benta Pereira é também uma marca da Subsecretaria da Mulher. É um lugar de acolhimento de endereço sigiloso que fica aqui em Campos. Acolhemos mulheres vítimas com seus filhos até os 18 anos.

Vamos falar um pouco do seu núcleo familiar. Empresária, esposa, mãe de duas filhas. Como é esse corre?

Eu tenho um marido que sempre foi um pai exemplar, o André, que é muito atuante, acolhedor, parceiro no acompanhamento das nossas duas filhas. O papel de puxar a orelha lá em casa é meu. Meu marido é baiano, então, tudo para ele é mais tranquilo. É um super pai e temos 27 anos de casados. Hoje, a família está sempre em primeiro lugar, é a nossa maior conquista. Ter a minha família, meu lar, e ainda ter uma neta pet, há bastante tempo, me torna muito feliz, porque esses dias eu lembrei uma frase que a gente trabalhou muito tempo no Encontro Conjugal, ajudando outros casais. A frase é a seguinte: nenhum sucesso na vida compensa o fracasso no lar. Então, primeiro você tem que cuidar da sua família para depois você estender a mão para o próximo.

E todas essas experiências aplicadas na política. Como foi isso?

É importante a gente falar que quando eu cheguei à Câmara de Vereadores, eu vi uma deficiência muito grande de trabalhos que mudassem a vida das mulheres, principalmente aquelas mulheres em situação de violência. Então, a gente montou o CEAM através de uma indicação legislativa e entregamos ao prefeito da época, Rafael Diniz. Faltou, infelizmente, vontade política. A gente descobriu que no Rio já tinha até equipamentos para ajudar a montar esse equipamento de acolhimento para as mulheres. E aí, como ele não executou, eu levei para o Ministério Público, que fez essa exigência de implantar, através da minha indicação legislativa, tendo o governo do Estado como corresponsável. E aí, quando o prefeito Wladimir me chamou para ser subsecretária, eu logo lembrei. No entanto, a subsecretaria foi montada em janeiro de 2021 e o CEAM foi montado em setembro do mesmo ano. Atendemos 3.500 mulheres até março deste ano, com equipe multidisciplinar, psicóloga, assistente social e advogada. Mas, também tiveram outros projetos meus que não foram implantados, como o botão do pânico em 2018 para ser um acessório colocado em transporte público para a mulher poder pedir ajuda quando ela estiver sofrendo assédio. Também a Casa do Artesão em 2019, um lugar fixo onde a gente encontra tudo o que é feito no nosso município. Então, foram lacunas que o governo anterior, infelizmente, não teve sensibilidade. E, é importante a gente falar: continuamos fazendo muito pelas mulheres em todos os níveis. Na política vivemos um retrocesso na Câmara. A Casa não tem nenhuma voz feminina. Hoje, não tem nenhuma vereadora.

E o que fazer?

Voltar a ocupar esse espaço. É necessário que se trabalhe o incentivo à representatividade feminina na política, mostrando que através da ocupação destas nos cargos políticos do poder público, as mesmas terão oportunidade de tomar decisões importantes para todos os cidadãos e o mais importante, em igualdade de condições com os homens.,Apesar das imposições legais, o número de mulheres no contexto político ainda é muito inferior à quantidade de homens. As cotas eleitorais podem ser vistas como uma melhoria na inserção da mulher na política.