O Hotel Gaspar é um dos prédios históricos mais emblemáticos de Campos dos Goytacazes. Fechado há mais de uma década, ele vai reabrir as portas, mas com hóspedes bem diferentes do passado. Recentemente, a Prefeitura Municipal se tornou proprietária do edifício cedido pela Santa Casa de Misericórdia, antiga responsável pelo imóvel erguido nos anos 1830. Por estar em boas condições, o governo deve ocupar o prédio com algumas secretarias municipais. Isto poderá favorecer o projeto de revitalização do Centro Histórico, já em andamento. O projeto de ocupação ainda está em desenvolvimento, porém, sem prazo para execução.
De acordo com o secretário municipal de Planejamento Urbano, Mobilidade e Meio Ambiente, Cláudio Valadares, o imóvel está em situação recuperável. “Algumas secretarias serão instaladas no espaço, ainda sem definição de nomes. A Secretaria Municipal de Turismo é uma das pastas que deverá ocupar o espaço. A ocupação do prédio fortalece todo o processo de revitalização do Centro Histórico. A primeira etapa das ações para isso foi iniciada este mês, em vários pontos do Boulevard Francisco de Paula Carneiro, com a recolocação das pedras portuguesas”, informou por meio de nota da Comunicação Social.
O prédio do Hotel Gaspar foi construído no final da década de 1830 para ser residência do médico e comendador José Gomes da Fonseca Parahyba. É um dos mais importantes patrimônios arquitetônico e histórico de Campos. O seu proprietário, além de próspero fazendeiro, foi também provedor da Santa Casa e jornalista. Ele fundou em 1834 “O Campista”, periódico que resultou no extinto jornal “Monitor Campista”.
Falecido em 1882, o comendador deixou vários bens para a Santa Casa, entre eles o seu palacete da Praça do Santíssimo Salvador, que foi vendido indevidamente em 1883 pela sua segunda esposa, para o português Gaspar Cardoso, que tinha um hotel com o mesmo nome em São Fidélis. Foi então que surgiu o Grande Hotel Gaspar em Campos. Estas informações fazem parte do acervo do pesquisador Genilson Soares, um dos maiores memorialistas da cidade, e detentor de vasta coleção de fotos e documentos.
“O Hotel Gaspar serviu por muitos anos a gerações de campistas e turistas. Sua importância também reside no fato de que em seu salão nobre foram realizadas muitas reuniões durante a participação campista na luta pela Proclamação de República. Em 21 de abril de 1888, o hotel foi o local onde se reuniram vários políticos sob o comando de Nilo Peçanha, Francisco Portella e Pedro Tavares, que fundaram o Partido Republicano, em Campos”, diz Genilson. Ele acrescenta, “o prédio nestes anos todos foi sendo paulatinamente modificado por sucessivas reformas, até chegar ao estilo eclético, que permanece até hoje”, relata.
Fatos marcantes e declínio
Desde os primeiros anos de funcionamento, o Grande Hotel Gaspar recebeu hóspedes ilustres. Em 1891, por exemplo, quando esteve em Campos, o maestro e compositor Carlos Gomes se hospedou ali. Já na década de 1930, era considerado o hotel mais luxuoso da região. Em 1935, outro nome importante a se hospedar no Gaspar foi o escritor Mario de Andrade. De acordo com o pesquisador Genilson Soares, na segunda metade do século XX, por meio de uma ação jurídica, o prédio retornou ao patrimônio da Santa Casa. A partir de 1960, o hotel passou a ser explorado pela família Peixoto Silva (Hotel Silva), que encerrou o serviço em 1992.
“Em 1996, após reforma realizada pelo provedor César Caldas, o hotel foi reaberto pelo empresário Fauze Cherene (Terrazzo Hotel), que o manteve em funcionamento até 2009. Tendo como provedor Benedito Marques, o prédio foi reaberto no mesmo ano, mas não como hotel. Foi transformado em centro educacional para abrigar as aulas do Instituto Profissional Nossa Senhora da Lapa”, lembra Genilson.
O Hotel Gaspar tem tombamento Estadual (Inepac) e Municipal (Coppam). “Certamente, a reabertura do prédio pela Prefeitura é a iniciativa mais urgente para se preservar esse icônico patrimônio cultural material campista. Dessa forma, evitar que não aconteça o mesmo episódio da recentemente demolição do Hotel Flávio”, destaca o pesquisador.
Memórias de amor
Apesar de ser um ícone da arquitetura eclética de Campos dos Goytacazes, a maioria das pessoas que vivem na cidade não teve a chance de conhecer o prédio por dentro. Ele permanece fechado por tempo indeterminado, já que as intervenções da prefeitura não têm data definida para começar.
A beleza do edifício chama à atenção dos admiradores de antigas construções. Um deles é o pastor batista aposentado, Heleno Bissonho Rios, de 78 anos. Ele conta que quando se casou, há cinco décadas, ele e a esposa se hospedaram no Grande Hotel Gaspar em um momento para lá de especial e romântico. “No dia que eu casei, passei a primeira noite de núpcias ali. O hotel na época era bonito, estilo antigo, com aqueles quartos grandes. Não como são hoje, tudo moderno. O prédio estar fechado há tanto tempo não é bom. Campos é uma cidade grande, tem muitos lugares atrativos. As coisas antigas e históricas não estão valorizadas. O antigo Hotel Flávio derrubaram. Um belo patrimônio histórico. Tudo tem que ser preservado. Acho bom a prefeitura ocupar o prédio. Vai dar vida nova ao local”, reflete.