×
Copyright 2024 - Desenvolvido por Hesea Tecnologia e Sistemas

O maior homem do mundo

.

Eliana Garcia
Por Eliana Garcia
5 de maio de 2024 - 0h39

Na Zona da Mata mineira, ninguém era maior que Tião Montão. Mais de dois metros de altura, corpulento, mãos imensas, pés maiores ainda. Não havia sapatos que coubessem neles. Por isso, vivia descalço, deixando à mostra calcanhares grossos e rachados. Pareciam escamas de peixe. Como sustentar aquele peso todo sem se machucar?

Tião Montão. Assim era chamado por todos. Nunca soube nada sobre sua família.

Fazia pequenos trabalhos como ensacar milho, candiar carros de bois e assim ia levando sua vida comprida.

Também não soube de nenhuma moça que se interessasse por aquele grandalhão. Vivia só.

Morava no paiol da Fazenda Morro Alegre desde sempre. Nunca entrei lá, mas morria de curiosidade. Sempre me perguntava:

– Como será a cama dele? De ferro?

– Ao se deitar, os pés ficam para fora da cama?

– Há algum objeto estranho lá?

– Tem livros e revistas no quarto? Ou ele não sabe ler?

– Por que seu quarto era sempre escuro? Dava para ver da porta.

Tião me causava tanto curiosidade quanto medo. Queria saber mais sobre esse homem que para mim era quase um personagem de história em quadrinhos, mas ao mesmo tempo, me continha.

Eu, uma menina pequena que ainda tinha medo das sombras da noite e do velho do saco, não teria medo daquele gigante?

Não sei se ele era realmente feio. Era estranho, diferente.

Soube ontem que Tião Montão morreu no ano passado. Fiquei triste. Tenho a impressão que Tião viveu mais de cem anos. Bons anos de sua vida passou numa casa de repouso.

Tião, apesar do tamanho, me lembra o personagem Shrek. Um ogro doce  e amável que podia assustar pela aparência, jamais pelas palavras e gestos.

Descanse em paz, gigante gentil da minha infância!