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Cemitério do Caju é uma galeria de arte a céu aberto

Local onde repousam os mortos tem grandes obras e reflete movimentos arquitetônicos

Cultura
Por Clícia Cruz
2 de novembro de 2023 - 8h24
(Fotos: J3News)

Mais do que o local destinado a sepultar os mortos, o Cemitério do Caju, em Campos dos Goytacazes guarda muita história, além de ter verdadeiras obras de arte e refletir movimentos arquitetônicos. A historiadora Sylvia Paes, guiou uma visita dos arquitetos Edvar Júnior e Yasmin Abílio, no programa Casa Decor da J3News TV e nosso site detalha esta visita, neste dia de Finados. Sylvia explica que no meado do século 19, quando o morto passa das mãos da igreja para as mãos do estado, começam a ser criados os cemitérios públicos municipais e as irmandades solicitam um espaço especial. No Caju, existem nove cemitérios dentro de um só.

“É como se fossem bairros dentro de uma cidade, uma amostra de urbanismo, aqui temos ruas, via principal…”, destaca Edvar.   

Cada um dos cemitérios das irmandades é uma propriedade particular, que não está sob administração pública, explica Sylvia.

Dentro do cemitério da Irmandade de São Francisco, há, por exemplo, uma escultura do renomado Bernardelli, um italiano, que junto com o irmão veio para o Brasil, fundar a Escola de Belas Artes. A historiadora ressalta que havia um vasto mercado para a arte funerária.       

Na irmandade, chama a atenção a escultura de uma Madona, esculpida em mármore, que segura uma coroa de flores. A riqueza de detalhes e o acabamento refletem a arte empregada na peça. “Há também a simbologia da imagem. Ela está segurando uma coroa de flores com laços, que simbolizam as amizades, as alegrias vividas e o amigos”, destaca Sylvia.

Também na Irmandade São Francisco, ficam os túmulos de Finazinha (Maria de Queiroz) e do marido, Atilano Crisóstomo e da filha, Alice. Uma curiosidade é que Finazinha tinha esse apelido por ter nascido justamente num dia de Finados. O jazigo da família tem a escultura de Cristo crucificado.

No Cemitério da Beneficência Portuguesa, o portão já chama atenção pelos detalhes. O trabalho de ferragem é impecável, e a historiadora destaca que o século 19 era um momento de muito destaque para a arte em ferragem, que ela está muito presente como adorno nas construções.
Nesta irmandade, antes existia uma lagoa, criada por um braço do Rio Paraíba do Sul.

Na Irmandade Nossa Senhora do Monte Carmelo, destacam-se os túmulos com símbolos maçônicos, como laços, um livro em branco e uma ampulheta, que simboliza o tempo, além das folhas de acácia, que simbolizam na Maçonaria a vida eterna.

O apresentador Edvar, destaca o quanto é interessante as pessoas visitarem o cemitério enquanto galeria de arte. “É necessário fazer essa visita sem a visão do luto, vendo realmente esse local como uma oportunidade de observar a arte”, destaca. “Não temendo o cemitério, mas enxergando arte, cultura, história”, complementa Yasmin.

Uma das esculturas diferenciadas é a do 1º Barão de São João da Barra, uma arca, que traz também uma linguagem simbólica. “Nós vemos aqui o galo, que simboliza a cidade que ele nasceu em Portugal. A cana, o braço escravo, a coroa do baronato, a cruz, que indica que ela era da Ordem dos Cavaleiros de Cristo e o símbolo do Império”, comenta Sylvia.

“Um túmulo de inspiração napoleônica, com os pés em forma de patas de leão, adornado com folhas de acanto, além de ter uma moldura de cantaria, que é uma pedra raríssima”, complementa Edvar.   

Logo na entrada do Cemitério do Caju, o túmulo do médico Felipe Uébe se destaca. “Ele foi um médico muito caridoso, por isso ele ganhou esse túmulo da comunidade”, relata Sylvia. A escultura sobre o túmulo retrata uma mulher com uma criança no colo e Cristo, aparentemente curando essa criança.

O Casa Decor mostrou grande parte das obras de arte contidas no cemitério, mas vale a visita para conhecer muitas outras.

O programa pode ser revisto aqui, no canal do J3News no Youtube.