Há mais de duas décadas Campos dos Goytacazes não se destacava em um evento científico nas áreas de urologia e uro-oncologia. Este hiato encerrado com o Simpósio de Urologia e Uro-Oncologia do Norte Fluminense, realiza na cidade, nos dias 18 e 19 de agosto. Organizado pela Sociedade Brasileira de Urologia-RJ, pelo Instituto do Câncer do Norte Fluminense e o Grupo IMNE Oncologia, o encontro contou com mais de 30 palestrantes de diferentes estados e instituições, além da participação de mais de 150 médicos e especialistas, residentes e estudantes de medicina. Considerado sucesso pelos organizadores, um novo evento já começa a ser idealizado e planejado a partir do ano que vem.
Para o diretor clínico do Hospital Geral Dr. Beda, Diogo Neves, o simpósio propõe integração e fortalecimento da urologia em Campos e no Norte Fluminense. “Queremos prestar serviços melhores e mais adequados à população. Na verdade, a ideia é sempre tentar pulverizar o máximo de conhecimento, e, obviamente, trazer experiências de outros centros para cá. Um grupo de profissionais do Oncobeda vai a um centro de pesquisa até o final do ano. São várias vertentes que esse tipo de evento traz. O Grupo IMNE Oncologia está alinhado com o que se tem de melhor dentro da medicina oncológica.”
Durante dois dias, profissionais e estudantes de saúde puderam acompanhar palestras de mais de 30 especialistas em urologia e uro-oncologia de diferentes partes do país. Os temas foram divididos em sete módulos distintos. A primeira mesa foi moderada pelo urologista Roberto Miotto. “A gente sabe que o câncer de próstata é o segundo mais comum no homem, e que acomete as pessoas acima de 60 anos. Hoje, com as novas tecnologias, a gente consegue, com o diagnóstico precoce desses tumores, uma taxa de cura de até 90%. É preciso enfatizar os novos tratamentos para esse câncer e as novas tecnologias diagnósticas”, explica.
A primeira palestra do evento contou com a médica nuclear Carolina Pérez, integrante da clínica de diagnóstico por imagem da ASA, no Rio de Janeiro. “É muito importante esse simpósio, pois o câncer de próstata tem uma abordagem multidisciplinar muito grande. O paciente não fica só no urologista, ele acaba perpassando por múltiplas especialidades”, disse ao abordar o tema. O oncologista Ronaldo Cavalieiri, do OncoBeda, destacou a radioterapia em câncer de próstata: “A radioterapia é uma opção de tratamento para todos os grupos de risco. Abordo alguns aspectos relacionados à tecnologia da radioterapia, o que vem mudando. A gente está vivendo o momento de transição na radioterapia com novas máquinas, novas plataformas que oferecem uma modalidade de tratamento. Nosso grupo sempre acompanha essas tendências. É fundamental o OncoBeda e o Instituto do Câncer do Norte Fluminense promoverem esse tipo de evento. Não basta atuar na assistência, tem que investir em educação continuada. Quem mais vai se beneficiar disso será o nosso paciente”, define.
Tecnologia robótica
Um dos temas discutidos foi a “prostatectomia robótica”, apontado pelo urologista de Itaperuna, Fabiano Fernandes. “A técnica de cortar o câncer de próstata com robô é uma tendência mundial. Temos o levantamento de que há no mundo 7.700 robôs em funcionamento. No Brasil, são 120 equipamentos do porte. De 2008 a 2022, cerca de 100 mil procedimentos foram realizados”, comentou.
Durante o Simpósio do Norte Fluminense, o Hospital Geral Dr. Beda disponibilizou seu simulador de cirurgia robótica para que o público experimentasse a técnica. “O advento do robô dentro da nossa instituição veio somar infinitamente com essa visão de alinhamento com uma tecnologia mais adequada. Ao longo desses últimos meses, a gente só teve a acrescentar positivamente no tratamento”, cita o diretor Diogo Neves.
O equipamento foi testado por estudantes e por profissionais curiosos sobre como funciona uma cirurgia robótica. O estudante de medicina Rodolfo Nassif participou de uma simulação. “Achei fantástico. A minha geração vem dos consoles de videogame. Quando a gente senta ali e vê que isso é uma realidade, é muito promissor. É o que vai se usar daqui para frente para trazer melhor benefício para os pacientes em termos cirúrgicos. O futuro está cada dia mais perto da gente.”
O urologista e cirurgião Gustavo Araújo do Hospital Dr. Beda abordou sobre neflectomia robótica. “Ela consiste na retirada total ou parcial do rim. A aplicabilidade desse tema é para demonstrar a importância do robô, quando a gente consegue maior destreza cirúrgica, evitando a perda do órgão. Alcançamos a expertise de toda a equipe de forma muito precoce. Chegamos a 48 cirurgias desde a implantação do programa. Eu acho que o mais importante é Campos retornar ao cenário científico do estado do Rio de Janeiro, com tecnologias de qualidade e profissionais adequados para o tratamento de diversas patologias”, avalia.
O oncologista Gustavo Drummond abordou avaliação genética na neoplasia do trato urinário. “A genética é uma área que cresce muito na oncologia. Por meio dela a gente segue definir melhor o tratamento do paciente e até prevenir certos tipos de câncer. Acho que é muito importante essa interação e troca de conhecimento, cada vez mais rápido e dinâmico. O Grupo IMNE tem estado sempre à frente, sempre com novidades na parte técnica, humana e estrutural”, destacou.
Infertilidade masculina
O médico urologista Matheus Martins foi o moderador do módulo “Infertilidade” do Simpósio de Urologia e Uro-Oncologia, “A infertilidade masculina é um tema que a gente tem que abordar muito nos congressos porque afeta a vida do casal. Eu destaco novas cirurgias grande avanço na resolução da varicocele, na parte microscópica, além de problemas que interferem e alteram muito a parte espermática do homem”, resume.
Douglas Gregório, também urologista e palestrante, citou o tratamento cirúrgico da infertilidade masculina. “Este é um tema bastante vasto. A gente tem vários tipos cirúrgicos para fazer tratar eventuais causas de infertilidade. Tenho recebido bastantes pacientes. A infertilidade acomete 15 % dos casais. Em relação ao fator etiológico, o homem contribui com 30%, a mulher também com outro 30%, e ambos com o percentual restante. Sempre quando tiver um caso de infertilidade no casal, todos têm que ser avaliados, tanto o homem quanto a mulher. Tratar desse tema é importantíssimo, porque a infertilidade não é só em relação à dificuldade para alcançar a gestação. Existem tumores que podem afetar a fertilidade, algumas alterações endocrinológicas. Então é de suma importância que a gente tenha essa informação para poder ter o tratamento adequado”, disse.
Atuando em Macaé, o urologista Rodrigo Loureiro falou sobre a técnica cirúrgica “Holep”, indicada para hiperplasia prostática benigna, de forma minimamente invasiva. “Defendo essa técnica por ser um padrão ouro no mundo inteiro, com alto nível de recomendação nos principais centros de urologia da Europa e EUA. Somos um dos pioneiros no Brasil, realizo-a desde 2013. Temos mais de 2.500 casos tratados juntamente com outro colega. Tentamos disseminar essa técnica no país. Nesses encontros, a gente traz o que há de mais moderno e importante que estudamos ao longo dos anos, além de vivenciarmos as experiências dos colegas no dia a dia”.
Resultados e projetos futuros
O urologista Guilherme Calvão presidiu a comissão científica do simpósio. “Campos voltou ao holofote da medicina no Rio de Janeiro e no Brasil. O último evento de urologia de grande porte aconteceu há bastante tempo. Temos uma faculdade na cidade, formadora de médicos para o Brasil inteiro. A Sociedade Brasileira de Urologia olha para o interior e Campos é uma cidade acadêmica. Grandes nomes da urologia e de outras áreas participaram. Veio gente de São Paulo, Goiânia, Rio e de outros estados. Ainda não há data definida, mas já pensamos em um próximo evento. Não descartamos que possa ser feito de modo híbrido (remoto e presencial). A internet auxilia a trazer palestrantes internacionais”, cogita.
O médico Felipe Martins coordena o Serviço de Urologia do Hospital Geral de Guarus, além do Programa de Atenção Integral à Saúde do Homem, em Campos. Ele também participou da comissão organizadora do simpósio. “Eu acho que foi um grande salto para ter mais ciência no interior do Rio de Janeiro. O evento contou com riqueza científica impressionante. A tecnologia cresce principalmente na urologia, agregando valor cada vez maior nos tratamentos cirúrgicos e medicamentos”, resume.
O diretor clínico do IMNE Oncologia, André Porto, avaliou o evento. “O simpósio é uma proposta de integração do Norte Fluminense, prestar serviços melhores e mais adequados à população. Dentro dessa proposta tecnológica do século XXI, a medicina em si está integrada no mundo inteiro. Nossa ideia é trocar experiências com os grandes centros. O Grupo IMNE está alinhado com o que se tem de melhor dentro da medicina oncológica. O evento do robô dentro da nossa instituição veio somar infinitamente com tecnologia adequada”, finalizou.