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De vendedor de doces a médico, Cristhian Meireles realiza sonho

No último dia 28, o estudante se formou em Medicina em Campos

Saúde
Por Ocinei Trindade
31 de julho de 2023 - 0h03

Médico recém-formado Cristhian Meireles (Fotos: Poliana Cardoso e Danilo Alves)

Na última sexta-feira (27), a Faculdade de Medicina de Campos formou 64 novos médicos. A certificação aconteceu na tradicional solenidade. Cristhian Herald Meireles, 26 anos, estava lá para ser diplomado.  No dia 20 de dezembro de 2017, o J3News publicou a reportagem intitulada “Aprovado em Medicina vende doces e toca violino na rua para pagar a faculdade”. O jovem não tinha dinheiro para bancar a matrícula de R$ 7.802,53, nem as mensalidades do curso. A matéria repercutiu nas redes sociais e mobilizou milhares de pessoas que quiseram ajudar. Era o início de uma árdua jornada para a realização do sonho de ser médico. Quase seis anos depois, o sonho se tornou realidade.

Turma com 64 médicos formados pela FMC

O médico recém-formado é filho da dona de casa Jaqueline Meireles e do caldeireiro Charles Damasceno. O jovem relembra que a primeira dificuldade foi ter o dinheiro para pagar a matrícula, e, mais tarde, tentar uma bolsa de estudos. “Eu fiz o vestibular sem a certeza que teria uma bolsa. Pelas minhas condições financeiras, o valor da matrícula e mensalidade era alto. A gente precisou criar alguma coisa que pudesse dar um retorno. Minha avó teve a ideia de fazer doces para vender na rua e arrecadar dinheiro. Pensei que somente vender doce, talvez, não fosse o suficiente. Aprendi violino desde os 11 anos. Eu tocava violino para prender a atenção das pessoas e vender os doces com um cartaz informando minha necessidade de pagar a matrícula da faculdade”, conta Cristhian.

Dia da formatura

A luta de Cristhian Meireles comoveu parte da sociedade campista. Ele conseguiu doações e algum dinheiro com a venda de doces. Pagou a matrícula e se candidatou a uma bolsa de estudos. “Graças a Deus e ao povo campista consegui participar do edital, e, finalmente fui contemplado com a bolsa integral. São muitas pessoas para agradecer. Durante o curso, tive a oportunidade de ser monitor de três matérias, duas eram mais específicas da biologia tecidual e parasitologia. A minha família e amigos foram essenciais para todo esse processo de formação. É uma conquista celebrada a muitas mãos. Cada pessoa teve uma contribuição especial em ajuda no dia a dia, além de orações. É um caminho árduo e difícil que envolve muita abnegação e entrega para fazer uma medicina de excelência. Tenho também o apoio de minha irmã, Gabriela, que entrou no curso de Medicina um ano depois de mim. Fui muito apoiado pelos professores desde o curso pré-vestibular. Acho que podemos demonstrar para as pessoas de origem humilde e da periferia como nós, que é possível alcançar objetivos e termos a profissão de médicos. Estudamos muito e conseguimos passar. Viemos de escola pública com ensino pouco favorável, mas nos esforçamos e perseveramos”, avalia.

Cristhian com os pais e irmãos

Planos futuros

Após a conclusão do curso de Medicina, Cristhian Meireles pretende trabalhar e aprimorar-se profissionalmente. Em seguida, vai se especializar. “Farei residência médica, talvez em São Paulo, Rio de Janeiro ou Espírito Santo. A área ainda não decidi. Eu sou amante de muitas especialidades médicas. Não sei com precisão o que eu vou fazer. Pretendo, assim que terminar a residência, voltar para Campos. Olhando para trás, vejo o longo processo da faculdade. É necessário ser assim, pois a Medicina é imensa. Todo dia ela está em construção. E nós precisamos nos construir diariamente. Após o término da faculdade, o estudo aumenta ainda mais. Nós descobrimos medicamentos e curas para determinadas doenças diariamente, além de novos avanços. Precisamos nos atualizar sempre”, diz.

O mais novo médico da cidade quer se dedicar por agora aos seus pacientes, sobretudo os mais humildes:

Vendedor de doces e violinista se tornou médico em Campos

“Pretendo de forma mais clara possível atendê-los da melhor maneira, aplicando tudo aquilo que conheci nesses anos todos de estudos. A gente aprende muito sobre a relação médico-paciente, o quão benéfico isso é quando bem exercido. Contei com a população da nossa cidade que muito me ajudou nesse processo todo. Pretendo atuar em projetos sociais que são desenvolvidos em Campos.  Na verdade, já atuo em alguns. Eles fazem parte do caminho para que eu pudesse conseguir trilhar o meu sonho. Pretendo de toda forma atuar de maneira ética, empática e humana. Temos muitas pessoas necessitadas de auxílio em nossa cidade. Podemos ofertar o que está à nossa disposição. Nada melhor do que a saúde para alcançar a vida dessas pessoas”, conclui.