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Arquitetura, beleza e fé

Tradição em templo católico de Campos

Geral
Por Ocinei Trindade
25 de junho de 2023 - 0h05

Há 30 anos, a comunidade católica tradicional de Campos dos Goytacazes decidiu erguer uma catedral no bairro Julião Nogueira, dedicada ao Imaculado Coração de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. O líder da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, o bispo Dom Fernando Rifan, concebeu, juntamente com arquitetos e projetistas, o formato do templo em estilo neoclássico. O prédio imponente chama a atenção pela beleza das pinturas, afrescos, vitrais e detalhes em ouro. Parte dos ritos litúrgicos em latim, e a música sacra, executada por grandes cantores acompanhados por um órgão de tubos alemão, atraem fiéis e curiosos deslumbrados com o cenário.

Ezilma Salles frequenta o templo católico

Entrar no templo católico cercado de artes e encantamentos pode desconcentrar alguns crentes, como Ezilma Salles:

“Gosto de rezar sempre aqui. Busco paz. Acho o teto muito encantador. Eu não sei se rezo ou se observo o teto, falo do fundo do meu coração. É tudo lindo, com anjinhos maravilhosos. Parece que estou no cantinho do céu”, revela.

Napoleão Fernandes

O porteiro Napoleão Fernandes é membro da comunidade e se sente privilegiado de estar no templo. “Nesta paróquia eu estou há dois anos. Também exerço a função de sacristão e corista. Esta igreja tem importância para minha vida, um lado afetivo por ser nossa igreja mãe, catedral da administração apostólica. Quem tiver a oportunidade, precisa conhecer pela arquitetura, liturgia e a música sacra. É um lugar de encontro com Deus”, acredita.

Tradição | Missa em Rito Romano Antigo

Todos os dias são celebradas missas, mas a realizada aos domingos, às 9h da manhã, costuma ser a mais freqüentada, com apresentação de corais e performance de organista e outros instrumentistas. O padre Claudiomar Silva é um dos sacerdotes da igreja:

Padre Claudiomar

“É o rito que manifesta a tradição da Igreja Católica em toda sua força e esplendor, levando os fiéis a uma profunda experiência do sagrado, do mistério de Deus. Temos vários paroquianos que frequentam, cativados pela beleza artística não só da arquitetura, mas, também, da música sacra. É uma manifestação da beleza do próprio Deus, experiência do Céu aqui na Terra”, avalia.

Roberto Pereira | Devoto de Nossa Senhora

Artista consagrado pela fé e influência do italiano Giovanni Tiepolo
O pintor Roberto Pereira é mineiro de Pouso Alegre. Desde fevereiro de 2002, o artista plástico se dedica a criar os afrescos de diferentes passagens bíblicas no teto da Igreja Imaculado Coração de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Ele diz que já concluiu 95 por cento das pinturas. O trabalho exige tempo e concentração em inúmeros detalhes, trabalhando arduamente sobre os andaimes que chegam a 14 metros de altura. Membro da Academia Brasileira de Belas Artes, Roberto diz que sua pintura tem inspiração e influência do italiano Giovanni Tiepolo.

Afresco | Técnica usada desde antiguidade

“Cheguei aqui em um carnaval. Sou católico e devoto de Nossa Senhora. Falta pouco para a conclusão total do teto. Eu demoro muito para fazer projeto. Nas pequenas cúpulas, levei mais de um ano para concluir. Comecei pelos presbitérios, passei pela cúpula, e, por último, o corpo da nave da igreja. As ideias e temas foram apresentados pelo Dom Fernando e eu as desenvolvo e as executo. Um exemplo é o quadro de São José abençoando as igrejas, e o quadro de São João Maria Vianney com o mesmo tema”.

Roberto Pereira já pintou mais de 30 igrejas pelo Brasil. Com 21 anos dedicados a pintar somente a igreja da Administração Apostólica em Campos, ele não esconde que este é o seu trabalho mais significativo, “Eu vi esse templo ainda no início. Nem o teto existia. É uma obra de importância ímpar. Até setembro devo terminar as pequenas cúpulas para, depois, dar os douramentos de molduras, além de um trabalho decorativo nas laterais. Eu me sinto feliz com o resultado. Quando alguém me elogia, respondo dando glórias a Deus”, conclui.

Palácio sagrado e democrático
O bispo Dom Fernando Rifan costuma brincar quando indagado sobre a conclusão da obra da igreja iniciada há 30 anos, “A Basílica de Aparecida do Norte começou em 1950 e até hoje está em obras com uma pintura ali, um tijolinho aqui. Nesta igreja, nós já fizemos o mais importante: a consagração em 2022. A última obra que fizemos foi a Capela do Santíssimo, e estamos terminando as pinturas do teto. Eu acho excelente as pessoas quererem vir pelas artes e pela música clássica que nunca sai de moda. Todo mundo gosta. O belo atrai pelas configurações, harmonia das formas, pelo equilíbrio, tudo isso atrai. Nós conservamos a missa na forma tradicional, que é o chamado Rito Romano antigo. Isto desperta interesse de pessoas de outras crenças, inclusive protestantes. Nosso órgão de tubos, por exemplo, foi doado por uma Igreja Luterana, da Alemanha. Aquilo que é bom, bonito, harmonioso, tem a fonte de Deus lá no coração, mesmo não sendo católico, liturgicamente falando”, diz.

O bispo considera o espaço um palácio democrático para o pobre e o rico. “A gente desfruta desse palácio vindo à missa. Aqui você vai sentar e assistir a toda cerimônia litúrgica com toda a sua beleza, por causa de Nosso Senhor. A pessoa vai se sentir bem, sendo pobrezinho ou não, e vai se sentir igual a todo mundo”, considera Rifan.